Por trás das músicas

Happiest year (Jaymes Young)

   Não sei lidar com o que não posso ver, mas sinto que as pessoas enquanto vivas são muito mais capazes de me fazer sofrer do que aquelas que já se foram.

   Às vezes pela escuridão da noite, tenho a impressão de ver vultos que às vezes me assustam, mas já não tenho tanto medo quanto tinha antes. Eles me acompanham enquanto todos já decidiram me abandonar.

   O que mais me preocupa é que de todos os mortos, a única que eu queria ver ou ao menos sentir sua presença nunca me aparece.

   Sinto falta de nossos momentos juntos. Estou realmente na corda bamba desta vez. Eu tenho lutado toda minha vida por você. Eu nunca deveria ter dito adeus. Mas é isso que as pessoas estúpidas fazem.

   Estou parado em frente ao cemitério, mas de alguma forma, algo me impede de entrar. Talvez o sentimento de culpa de que talvez você não aprecie muito minhas visitas rotineiras ao seu túmulo. Mas eu simplesmente não posso evitar. Porque você me deu paz. E eu a desperdicei.

   Estou hoje aqui para admitir, que você era meu remédio e eu não consigo desistir de você.

   Caminho até seu túmulo e estou de joelhos novamente. Perguntando, por nada. Analisando sua foto que já começa a se desbotar pelo passar do tempo. Mas que nunca será apagada de minha memória.

   Não sei onde você se encontra agora, mas ainda tenho a esperança de que possa me ouvir, e antes que me encontre afogado diante minhas próprias lágrimas, preciso te dizer:

- Obrigado pelo ano mais feliz da minha vida!

   Meu corpo todo estremece e sinto o frio arrepiante dessa noite tão calma, que contradiz todo meu estado de espírito. A lua cheia parece iluminar essa linda noite, mas nós dois sabemos que se não fosse o reflexo do sol a noite não seria mais que total escuridão.

   E é exatamente assim que eu me sinto agora.

   Você sempre despertou o melhor de mim, e agora que não te tenho mais comigo... Sinto-me perdido em uma total escuridão. Como se não fosse ninguém, talvez eu realmente seja somente isso. E sempre fui um total peso na sua vida. Então sinto muito se estou sendo egoísta agora, mas eu ainda preciso de você.

- Não pense que eu poderia me perdoar. Desculpe-me pelas maneiras que te usei! E eu não poderia me importar menos agora. Mas você sabe você me machucou muito também.

   Nossos momentos juntos vêm à tona novamente me fazendo desmoronar em um silencioso e vazio cemitério de almas perdidas.

   Não posso descrever a dor que sinto agora... Meu coração se despedaça e perco totalmente as forças que ainda me restavam. Estou perdido novamente, e não tenho você para me guiar.

- Sim, nós nos fizemos sangrar e eu estou aqui para admitir que você era meu remédio e eu não consigo desistir de você. Obrigada pelo ano mais feliz da minha vida!

   Talvez nosso maior erro foi achar que éramos almas predestinadas, quando na verdade éramos apenas um erro no destino.

- Mas mesmo assim eu insisto, me acorde quando eles construírem aquela máquina do tempo. Eu quero voltar...

- Me acorde quando você estava dormindo ao meu lado...

- Porque eu realmente te amei! E continuarei te amando até o dia em que nos vermos de novo. Onde serei capaz de matar a saudade que me consome por dentro, me fazendo não conseguir respirar. E caso seja tarde demais, ao menos terei a chance de dizer adeus.

   Levanto-me ao perceber que o dia já estava amanhecendo e então finalmente me despeço. E como se dependesse disso, digo uma última vez:

- Obrigada pelo ano mais feliz da minha vida.

☆《NOTAS DAS AUTORA》☆

   A história foi baseada na música "Happiest year", representando um homem no túmulo de sua amada, agradecendo pelo melhor ano de sua vida, relembrando dos momentos felizes e também importunos que passaram juntos. Onde o mesmo se arrepende de seus erros e desejaria poder voltar atrás, mas no fundo sabe que só lhe resta as lembranças.

   De primeira vista, parece apenas mais uma história clichê com um final não muito feliz, realmente é. Por que no fundo todos sabem que a única certeza que temos na vida é que um dia vamos morrer, e deixaremos para trás todas as pessoas e lembranças.

   Nessa história quis representar as cinco fases do luto, que todos nós já passamos ou passaremos por ela um dia. E está tudo bem. No primeiro estágio vemos a negação, onde o personagem não consegue aceitar que não poderá vê-la novamente. Depois vem a raiva, onde o personagem fica bravo com a falecida por tê-lo abandonado. No terceiro estágio vemos a negociação, onde ele diz que faria tudo diferente se tivesse outra chance, e ao perceber que não terá, chegamos à quarta fase, a depressão. O personagem perde todas as suas forças e deixa seu coração aliviar suas dores por meio de lágrimas, as palavras não ditas se entregam ali. O corpo perde sua força e ele se sente incapaz de fazer qualquer coisa, como se sua vida também fosse tirada e nada mais fizesse sentido. Até que ele se sente melhor, as lágrimas passam e aí chegamos ao último estágio, à aceitação. Ele agradece novamente pelo ano mais feliz de sua vida e sai. Sua vida segue e ele a guarda para sempre em seu coração.