11. Quando a música é sobre estrelas ao redor de cicatrizes.

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#MorceguinhoCerejinha

A madrugada que antecedeu a manhã seguinte fora composta por lábios vermelhos, beijos saborosos e toques travessos.

Entretanto, antes que fosse possível decretar o fim da madrugada, em minha cama eu tive a sensação de que algo dentro de mim gritava uma frase clichê dita mil vezes por papai antes que este viesse a falecer:

O amanhecer logo antes do sol nascer é o mais escuro.

De primeira, eu não conseguia compreender o que tal reflexão significava, eu sempre gostei de metáforas, meu pai insistia sobre eu ser uma. Contudo, gostar de algo não significa entendê-lo. Eu me via assim sobre os últimos acontecimentos que rondavam a minha vida.

Não que a essa altura do campeonato eu estivesse a fim de sentar, encarar o nada e buscar entender onde comecei e em que momento eu irei finalizar pontos cruciais de minha existência. Desde a morte de meu pai, eu venho vivendo no extremo, entretanto, eu nunca sei quando o limite é o suficiente. Eu sempre tento ultrapassá-lo.

Eu me lembro de ter deitado sob o peito de Dândi e, com suspiros altos por beijos viciantes e sensações novas, ter adormecido ao sentir a ponta de seus dedos desenhando linhas imaginárias em minha pele, traçando novos caminhos e descobrindo em mim lugares que eu nem ao menos sabia ou tentaria me importar com a existência e significado.

Há marcas que são totalmente esquecidas e ignoradas por mim, Dândi soa como um desbravador quando as encontra e torna-se um venerador delas.

Acho isso veemente.

07:01. Bussano alla porta che suonano come un canto infernale.

Há uma euforia quando, subitamente, jogo a coberta para fora da cama e impulsiono meu corpo para frente, longe do conforto macio de meu travesseiro e o aconchego que em um momento anterior surtia um bom efeito em minhas costas.

Acordo assustado e meu primeiro ponto fixo é a janela aberta de meu quarto. Percebo a neblina que preenche o ar, o tempo estava fechado, fazia um frio da coisinha. Eu teria me proporcionado a aproveitar mais disso se não notasse, depois de mais duas batidas na porta, mamãe abri-la cuidadosamente e me encarar.

Embora sonolento, com um olho aberto e o outro fechado por motivos óbvios, devolvo o olhar. Contudo, nossos olhares expressivos estavam recheados de significados diferentes. E no momento em que ela suspira e me olha com piedade, eu percebo que algo não está funcionando bem.

Park Minji curvou os lábios em um sorriso aconchegante, segurava o trinco da porta e seu corpo parecia um campo onde acontecia uma guerra entre entrar em meu quarto ou apenas fechar a porta e sair correndo.

— O que aconteceu?

Meu questionamento sai baixo uma vez que estou preocupado em levantar da cama e não cair por tamanho sono. Início uma busca pelo meu par de chinelos e calço assim que o encontro, eu levo meu punho fechado até meu olho esquerdo e o coço empenhado em acordar.

— Há uma pessoa na sala, ela gostaria de falar com você.

Em uma inquirição, aceno positivamente ao que minha progenitora diz. E sou rápido em caminhar até a saída do quarto, mãos em cada um de meus braços para espantar o frio da manhã que me acerta sem dó.

O braço de minha mãe recebe minha cintura ao que ela me abraça de lado e me guia pelo corredor. Nós estamos em mudez, eu sinto uma vontade tremenda de indagar o motivo pelo qual todo esse silêncio parece gritante.

Você sabe, o silêncio mais doloroso vem acompanhado de gritos internos que parecem socar o seu estômago milhares de vezes. Quase sempre, isso não é suficiente.

ROCK MÁFIAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora