Perdas

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Cavalgamos o dia todo. Quando a noite se aproximava, todos estavam exaustos, e ansiosos por uma boa refeição e um descanso. Eu não estava cansada. Elfos não tinham tantas necessidades quanto os anões. Me ofereci para ficar de vigília. Mas obviamente Thorin não confiava tanto assim em mim.

- Fili, Kili. Fiquem de vigia junto com a elfa.

Suspirei. Quando é que ele ia superar esse maldito preconceito e me chamar pelo nome? Será que algum dia ele ia confiar em mim?

Apesar de tudo, não tive problemas em ficar com Fili e Kili. Era bem menos solitário, e os irmãos eram boa companhia. Eles não me julgavam, apesar de serem sobrinhos de Thorin, e provavelmente terem motivos para isso. Eu gostava de ficar na companhia deles. Nos sentamos, calados por algum tempo. Até que ouvimos um pequeno movimento à nossa frente.

- Parece que nosso hobbit acordou - eu disse baixinho para os irmãos, para evitar que Bilbo nos notasse.

- Você não perde muita coisa não é? - disse Kili.

- Me considero observadora - respondi.

Bilbo se levantou, e deu uma maçã ao seu pônei, sussurrando à ele palavras que não consegui ouvir. De repente, ouvimos um grito. Virei minha cabeça na direção rapidamente, mas não estava muito preocupada. Os gritos eram distantes. Mas para Bilbo era outra história. Ele se virou para nós rapidamente.

- O que foi isso? - disse, assustado.

- Orcs - Respondeu Kili, sombrio.

- Rasga gargantas. Devem ter vários por aí. - Explicou Fili.

- Atacam cedo, quando todos estão dormindo. Rápidos e quietos, sem rastros. Só muito sangue.

Os irmãos se olharam e soltaram uma risada. Olhei para eles com reprovação.

- Não assustem o senhor Bolseiro com suas histórias de terror. Não à nada com que se preocupar Bilbo. Os orcs não estão por perto, e duvido que se aproximem hoje.

- Acham isso engraçado? Acham que um ataque de orcs a noite é uma piada? - A voz de Thorin cortou o silêncio, depois de ver os dois irmãos rindo do medo de Bilbo.

- Nós falamos sem pensar - Disse Kili.

- É, vão pensar. Vocês não sabem nada do mundo.

- Não se sintam ofendidos - ouviu-se a voz de Ballin - Thorin é o que tem mais motivos para odiar orcs.

Eu sabia do que ele falava. Já tinha ouvido a história. Depois que o dragão tomou a montanha, o rei Thror tentou recuperar sua terra natal. Mas o inimigo chegou lá primeiro. Azog, o profano. O orc pálido. Matou o avô de Thorin durante a batalha que se seguiu. Thorin o desafiou, conseguiu cortar sua mão, e assim o pôs fora de combate. Depois, liderou o exército até a vitória. Azog nunca mais foi visto. Thorin acreditava firmemente que estava morto.

...

No dia seguinte, Bilbo parecia melhor depois da história que Fili e Kili contaram. Continuamos viagem, em silêncio. Thorin parecia estar revisitando memórias do seu passado, e achamos melhor não perturbá-lo.

O dia se passou sem incidentes. Thorin estava mais quieto que o normal. Mas fiquei feliz ao ver que o seu sermão não afetou os irmãos. Já tendo convivido com Thorin, imaginei que estavam acostumados.

No final da tarde, paramos. No lugar havia uma pequena cabana, meio destruída. Mas pelo menos era um teto seco.

- Um fazendeiro e sua família moravam aqui - disse Gandalf, pensativo.

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