Necromante

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Nós continuamos a viagem. Os anões pareciam satisfeitos por eu ter voltado. Até Thorin estava tentando me aceitar. Assim como tentava com Bilbo. Estava claro que ele não considerava o Hobbit nem mesmo capaz de sobreviver sozinho, quanto mais ajudar.

Mas Gandalf ainda tinha certeza de que Bilbo era capaz. Na verdade, eu mesma conseguira perceber o quanto era corajoso ao arriscar seu pescoço para manter os trolls falando. Se não fosse por ele, não teríamos chegado a tempo.

Caminhamos em silêncio por algum tempo. Tínhamos que andar, já que os pôneis tinham fugido durante toda a confusão com os trolls. Depois de algum tempo, ouvimos um barulho. Isso chamou a atenção dos anões. Eles imediatamente se colocaram em posição de defesa.

Mas Gandalf parecia estar tranquilo. Percebendo isso, também fiquei. Se fosse necessário, eu poderia pegar meu arco ou minha espada num piscar de olhos. O mato em volta de nós se mexeu, e ouvimos o barulho de novo. E então vimos.

- Radagast! - disse Gandalf - Esse é Radagast, o Castanho.

Me aproximei, agora sorrindo. Eu já conhecia Radagast. Diferente de Gandalf, que tinha apenas ouvido o nome, já tinha encontrado com Radagast durante uma das minhas viagens. O mago se aproximou.

- É bom ver você Gandalf e - completou ao olhar para mim - Aerin.

Alguns anões pareceram surpresos.

- O que o traz aqui, meu amigo? - disse Gandalf.

- Infelizmente nada de bom - respondeu o mago - A floresta verde está doente Gandalf. Nada mais cresce. Pelo menos nada de bom. Mas o pior são as teias.

- Teias? - repetiu Gandalf.

- Aranhas Gandalf. Aranhas gigantes. Eu segui o rastro delas. Elas vieram de Dol Guldur.

- Dol Guldur? - eu interrompi - Mas a fortaleza está abandonada.

- Não, Aerin. Ela não está. A algo lá. Algo que nunca imaginei que veria. Algo das trevas. Um Necromante. Um ser que pode invocar os espíritos dos mortos.

Lancei um olhar preocupado aos magos. Um necromante em Dol Guldur? Isso era algo sério.

- Um necromante? - disse Gandalf - tem certeza?

Radagast assentiu. Então ele ofereceu algo enrolado em panos a Gandalf. Olhei enquanto ele abria e revelava uma pequena espada.

- Uma lâmina de Morgul - eu disse. - Feita para o rei bruxo de Angmar. E enterrada com ele. Num túmulo tão escuro que jamais seria descoberto.

Os anões agora estavam afastados. Apenas Gandalf Radagast e eu podíamos ouvir. Isso era a maior prova. Havia um necromante em Dol Guldur.

- Alguma coisa se aproxima! - Ouvimos a voz de Thorin.

Ouvimos outro barulho. Dessa vez mais forte. Dessa vez, até Gandalf estava preocupado.

- Fiquem juntos! - Ele gritou.

Os anões se reuniram num círculo, para que ficassem atentos a todos os lados. Eu peguei meu arco, coloquei uma flecha na corda e o segurei com firmeza, apontando para o local onde ouvimos o barulho. De repente, ouvi outro barulho vindo de trás de mim. Eu tinha só um segundo. Me virei a tempo de ver um grande lobo saindo da mata. Mirei e atirei em um segundo, matando-o instantaneamente. 

Mas eu tinha perdido a guarda. Não ouvi o segundo lobo. Ele estava quase me alcançando por trás.

- Aerin! - Ouvi a voz de Kili.

Me virei e atirei sem tempo de mirar direito. Acertei a perna do lobo, mas não mortalmente. Ele recuou por um segundo e avançou na direção do grupo de anões. Antes que pudesse fazer mais um  movimento, a espada de Thorin o perfurou.

- Um Warg! - disse ele - Quer dizer que um grupo de orcs não deve estar longe.

- Grupo de orcs? - disse Bilbo, provavelmente lembrando das histórias de Fili e Kili.

- Para quem você contou sobre essa missão, além de seu povo? - Gandalf gritou para Thorin.

- Ninguém!

- Para quem você contou? - ele repetiu

- Ninguém, eu juro! - e depois de uma pausa, continuou - Em nome de Durin, o que está acontecendo?

- Vocês estão sendo caçados.

Então ouvimos os uivos. Não demoraria muito para os orcs descobrirem nossa posição.

- Vou atraí-los para longe - disse Radagast, já subindo em seu trenó puxado por coelhos.

- Esses são orcs de Gundabad. Vão alcançá-lo. - disse Gandalf.

- Esses são coelhos Rhosgobel! - respondeu o Castanho - Gostaria de vê-los tentar.

Então logo estávamos correndo pela relva, enquanto ouvíamos os uivos dos lobos, com orcs montados, perseguindo Radagast, enquanto o mago os atraía. Conseguimos manter o ritmo por algum tempo, mas a sorte não dura pra sempre. Os orcs perceberam nossa presença. E imediatamente vieram em nossa direção. Enquanto eles se aproximavam mais, consegui matar 3. Kili, o único dos anões armado com arco e flecha, derrubou mais dois.

Percebi que Gandalf havia sumido. Olhei em volta, e ele estava perto de um amontoado de pedras.

- Por aqui! - Gritou ele.

Corremos na direção indicada. Os orcs ainda nos perseguiam. Um por um, todos os anões desceram por uma abertura, que descia até uma caverna. Deixei todos os anões irem primeiro, e derrubei mais alguns orcs que se aproximavam. Entrei por último.

Então ouvimos um som. Um som que não foi produzido pelos orcs. Eu sorri. Os elfos de Valfenda! O som de suas cornetas era familiar para mim. Já tinha participado de muitos daqueles grupos, que impediam quando algum grupo de orcs se aproximava de suas fronteiras.

Encontramos um caminho pela caverna. Depois de prosseguir por algum tempo, ela finalmente acabou, dando lugar à um local conhecido. Um lugar tão familiar que poderia reconhecê-lo de muito longe.

- O vale de Imladris - disse Gandalf - Ou mais popularmente conhecido como...

- Valfenda - completou Bilbo.

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