Montanha adentro

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Conseguimos sair de Valfenda com facilidade. O Conselho Branco ainda estava reunido, discutindo sobre a missão da companhia. Sabíamos que eles não permitiriam que continuássemos, então o melhor foi sair antes que tentassem nos deter.

Conseguimos chegar até as Montanhas Sombrias. O caminho ficaria mais difícil agora. As montanhas estavam cheias de pedras soltas e abismos profundos. Sem contar com as incontáveis criaturas que se escondiam no escuro das cavernas. Mas era o caminho mais rápido.

Prosseguimos enquanto havia luz. No final da tarde, começou uma chuva fina, que logo se transformou numa tempestade com trovões. Que sorte a nossa. E para piorar a situação, agora estava escuro.

- Temos que encontrar abrigo! - A voz de Thorin cortou o barulho dos trovões.

- Cuidado! - Gritou Dwalin.

Me desviei bem a tempo de uma pedra gigante, que voava em nossa direção. 

- Isso não é uma tempestade - disse Ballin - É uma guerra de trovões!

Um amontoado de rochas começou a se erguer da montanha. Ela tinha um formato humano.

- Eu não acredito! - Disse Bofur. - As lendas eram reais. Gigantes de pedra! 

Entre todo o caos, uma parte da montanha se desprendeu de outra, separando a companhia em dois grupos. Eu só ouvia as pedras batendo. Os gigantes as jogavam umas nas outras, tentando derrubar um ao outro. E nós estávamos em um deles. Separados em dois grupos.

Não conseguimos ver o que aconteceu, mas o gigante em que estávamos começou a desabar para trás.

- Se segurem! - um dos anões gritou.

E então, a pedra em que estava o outro grupo se espatifou contra a rocha. 

- Não! - gritou Thorin.

Aquilo não podia estar acontecendo. Os anões estariam mortos? 

- Kili! - Gritou Thorin.

Senti um medo súbito ao pensar em metade da companhia morta. Ao pensar em Kili morto.

Corremos até onde o outro grupo havia sumido entre as rochas. Felizmente, vimos eles caídos no chão, mas estavam todos bem. Suspirei de alívio e fui me juntar a eles.

- Onde está Bilbo? - De repente me dei pela falta do Hobbit.

Todos entraram em alvoroço. Bilbo de alguma forma havia sido empurrado do penhasco, e agora se pendurava na borda. 

- Droga! - Eu disse.

Me pendurei no penhasco, e fiquei ao lado do Hobbit. Enquanto os anões o puxavam pra cima eu o dei apoio para subir. E então subi de volta também. Tinha acabado. 

- Bom, estamos vivos. - eu disse.

- Não por muito tempo, se continuarmos aqui - Disse Thorin - Vamos.

Encontramos a abertura de uma caverna. Aliviados, todos entramos. Agora poderíamos passar a noite. Finalmente pudemos respirar.

                                                               ...

Todos estavam dormindo. Menos eu e Bofur, que estava no turno da guarda. Eu simplesmente não conseguia dormir por algum motivo. Talvez eu não me sentisse completamente segura, mas isso era de se esperar naquele lugar. Então me afastei e me sentei no escuro, atenta a qualquer ruído.

Vi um pequeno movimento. Bilbo estava fazendo alguma coisa. Percebi com surpresa, que estava juntando suas coisas.

- Aonde pensa que está indo? - disse Bofur, agora atento a Bilbo.

- De volta para Valfenda - Respondeu o Hobbit.

- Não, não pode fazer isso! Faz parte da companhia. Você é um de nós - disse o anão, aflito.

- Sou mas não sou - disse Bilbo - Thorin disse que eu nunca deveria ter vindo e estava certo. Eu não sou um ladrão. Não sei o que estava pensando.

- Sente falta de casa? Eu entendo... - começou Bofur

- Não você não entende, nenhum de vocês entende. Vocês são anões. Estão acostumados a viver na estrada, nunca se estabelecendo, sem pertencer a lugar nenhum. - E então ele percebeu que havia falado demais. 

Continuei assistindo a conversa. Sabia que não podia impedir Bilbo, mas seria uma pena não tê-lo na companhia. Ele era o único que também precisava abrir os olhos de Thorin. Ele me entendia. E acho que tinha muito a ajudar.

- Desculpe...- começou o Hobbit

- Não, você está certo. Não pertencemos a lugar nenhum - Disse Bofur. Ele olhou para os companheiros, e depois voltou seu olhar para Bilbo - Desejo a você toda sorte do mundo. Desejo mesmo. - ele então sorriu. 

Então eu ouvi um barulho. Me levantei imediatamente. Estava abaixo de nós.

- Acordem! - eu disse.

O barulho estava mais alto. Os anões agora estavam agitados. De repente, o chão começou a rachar. Uma fenda se abriu, e os anões e o hobbit caíram lá, um por um. 

Eu podia escapar. Sabia disso. Mas me lembrei das palavras de Gandalf. Eu prometi cuidar deles. Então suspirei, e pulei para dentro.

Assim que cheguei ao fundo, percebi que estávamos em desvantagem. Haviam muitos orcs. Provavelmente mais de 50. eram fracos e burros, mas em número e com um objetivo em mente. Um por um vi as armas dos anões caírem a minha volta. Os orcs dominaram todos. 

Eu sabia que tinha que tentar, embora fosse uma batalha perdida. Me surpreendi com minha própria força. Consegui matar cerca de quinze orcs, antes de perder meu arco e espada. Ouvi os anões gritando e tentando lutar sem sucesso. Os orcs nos conduziram por uma cidade subterrânea feita quase completamente de pontes de madeira suspensas.

Num trono, estava sentado um orc gigante. O grão orc, percebi.

- Quem teria tanta coragem para vir armado até o meu reino? - disse ele. - Espiões? Ladrões? Assassinos?

- Anões, meu senhor - disse um dos orcs.

- Anões? - repetiu o grão orc. - Bom, não fiquem aí parados. Revistem eles. 

Eu já estava desarmada. Perdi todas as minhas armas lutando. Mas alguns dos anões não. Foi aí que percebi a falta de Bilbo. Onde estava o Hobbit? 

- O que vocês vieram fazer aqui? - e ao receber silêncio em troca, repetiu - Falem!

Então ele me notou. Ele sorriu, de forma maliciosa.

- Ora, então estavam de conluio com os elfos? Valfenda não é mesmo? - ele riu - Eu conheço você. Sim, a tão amada filha de Elrond. Ah, ele vai ficar tão arrasado quando descobrir.O que faz com esses anões, elfa?

- Meus assuntos não são da sua conta - eu disse rispidamente.

- Estão se achando muito espertos, todos vocês não é? - o orc continuou - Muito bem. Se não querem falar, vamos fazê-los gritar. Podem começar com a elfa.  Depois, podem enviar o corpo para o pai. - Ele disse, apontando para mim, sorrindo. Senti meu coração gelar, mas permaneci firme.

- Não! - A voz de Thorin cortou todo o barulho. Ele deu um passo a frente.

- Ora ora - disse o grão orc - vejam só quem é. Thorin, filho de Thráin, filho de Thror. Rei sob a Montanha. Ah, eu esqueci que você não tem mais montanha, e não é mais rei. O que faz de você, coisa nenhuma. 

Thorin não respondeu. Mas ainda olhava desafiador para o orc gigante.

- Eu sei de alguém que pagaria uma boa recompensa pela sua cabeça. - disse o orc - O Orc Pálido. Montado em um warg branco.

- Azog o Profano foi destruído. Ele foi morto em batalha a muito tempo! - disse o anão.

- Você acha que acabaram os dias profanos de Azog? - O grão orc riu. Então se dirigiu a um dos seus orcs - Mande uma mensagem ao orc pálido. Diga, que eu encontrei a presa dele. 

O orc saiu em disparada. Eu não sabia o que nos esperava agora, e pela primeira vez naquela jornada, senti que não podia fazer nada a respeito.

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