Só Pode Ser Castigo!

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Acho que, em alguma vida passada, eu devo ter sido uma serial killer. Uma sequestradora de crianças. Uma torturadora de velhinhos. Uma apostadora do jogo do bicho. Uma deputada corrupta. Ah, sei lá, algo bem ruim, mas ruim mesmo. Porque só assim pra ter que pagar meus pecados sendo obrigada a aturar aquele ser rastejante da vala nessa vida. O que eu fiz pra merecer esse castigo, meu deus? Que crime eu cometi? Quando foi que eu joguei pedra na cruz? Nem pedra, pelo nível do meu castigo, eu devo ter tacado um trem na cruz mesmo.

Eu ainda não estava acreditando na situação que tinha me metido. Como deixei as coisas chegarem a esse ponto? Eu tinha mesmo concordado em dar aulas ao Urrea? O mesmo garoto que roubou o simulado e me fez passar três dias achando que era uma idiota por ter um jogador de futebol com uma pontuação mais alta que a minha? Sério mesmo? Eu estou ficando louca?!

– Por que você demorou tanto, Sina? – Sofya perguntou assim que eu sentei no banco ao lado dela. Mas eu não prestei muita atenção ao que ela dizia, meu cérebro ainda estava processando o que tinha acabado de acontecer. – Sina! Acorda!

– Quê?

– Por que você demorou tanto?

– Ah, eu estava vendo o novo listão do simulado – respondi. Era apenas meia verdade, mas nem morta que eu ia contar para alguém do meu acordo com aquele idiota do Noah. – O Urrea colou, como você tinha desconfiado, e agora eu sou novamente a melhor aluna da sala.

– Quê?! – disseram Sofya e Silas juntos. Silas estava sentado ao lado de Sofya, tomando seu suco de uva diário, e acabou espirrando tudo com o susto, molhando todo o próprio uniforme. E o da Sofya também.

– Seu idiota! – gritou Sofya enquanto eu me acabava de rir.

– Desculpa – Silas disse, com seu jeito fofo de sempre.

Silas Koury não parece com o Ronald McDonald. Nem um pouco. O maldito do Urrea só diz isso porque ele é ruivo. Qual o problema em ser ruivo? Ah é só implicância daquele mal amado mesmo, o Silas é muito fofo e uma pessoa mil vezes melhor que qualquer jogador de futebol. Eu gosto dele. Do Silas, quero dizer. Ele entrou no colégio ano passado e por ser um esquisito entrou logo na nossa turminha, apesar de ser super tímido. Ele não é nerd ou viciado em estudos como eu, gosta de quadrinhos do homem aranha, milk shake de morango, reality shows e de ler sinopses de filmes, ainda que não goste de assisti-los. Odeia acordar cedo e por isso está sempre atrasado para a escola.

Eu gosto dele. Acho até que estou apaixonada.

Mas eu achava que tinha escondido muito bem! Como aquele retardado descobriu?

– Que droga! - Sofya continuava praguejando, enquanto tentava limpar seu uniforme com um guardanapo. – Que seja – disse, jogando o guardanapo fora e voltando os olhos para mim. – Que história é essa do Urrea roubar a prova?

– O novo ranking dos melhores alunos foi fixado no corredor com uma nota explicativa – respondi, dando de ombros. – Sou novamente a melhor da classe.

– Você não parece muito feliz com isso – Silas comentou, ainda sujo de suco.

– É claro que eu estou feliz, é só que... – o que eu ia dizer? Que minha felicidade por ser a primeira da classe estava embotada diante do fato de que eu seria a professorinha particular de um cara que vendeu todos os neurônios pra pagar o bronzeamento artificial? Não dava para simplesmente dizer isso. – É só que...ah, eu tô com raiva desse idiota. Passei o final de semana inteiro achando que havia algo de errado comigo, me martirizando, por culpa dele.

– Como não expulsaram esse garoto? – Sofya perguntou, indignada.

– Ah, não sei – falei. Havia me perguntado a mesma coisa momentos antes e cheguei a conclusão de que deve ter sido graças às doações que a mãe dele vive fazendo ao colégio. – Vai ver ele subornou o diretor. De um moleque desses pode se esperar qualquer coisa.

O amor é clichê | NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora