Capítulo Vinte: "Se seu apartamento falasse, versão Bucareste"

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Estava deitada em algo macio.

Uma coisa era baixa, fina e parecia velha. A outra era grossa, quente e estava em um ângulo que a deixava enrijecida.

Percebi que estava deitada com uma parte do corpo em um colchão e outra na perna de Bucky.

Ele afagava meus cabelos, me abraçando pelo peito. Seu braço estava quente, e parecia estar lá a algum tempo. Senti minhas costas contra seu tórax, enquanto parecia me ninar.

A claridade queimava meus olhos, embora a fonte de luz viesse de trás. Olhei em volta e vi um sofá na altura dos meus olhos, à frente uma mesa metálica amassada com duas cadeiras, e do outro lado uma parede verde com respingos de sangue.

Apertei os olhos e vi, sobre o sofá, alguns potes de algodão, esparadrapo, água oxigenada, gelo, papéis e toalhas ensanguentados. Consegui ver a mão de Bucky, que segurava meu pescoço gentilmente, e percebi sangue seco acumulado em baixo de suas unhas e manchas vermelhas pelos dedos. Haviam dois copos de água no chão, um deles vazio e o outro com uma mancha de lábios vermelha, quase intocado. Observei uma caixa de remédio para dores musculares, outra de antibióticos, uma para cólica e outro para a cabeça. Por que uma para cólica?

Baixei a cabeça e a repousei na mão do soldado. Senti algo repuxar a pele das minhas têmporas, como uma daquelas fitas para distensão muscular. Olhei para sua mão, respirei fundo e beijei as costas daquela bolsa de água quente feita de carne e osso.

- Oi, meu amor! – Sua voz era a coisa mais suave do mundo. Ele parecia falar com um bebê que tinha acabado de acordar. – Oi, oi, oi!

Ele ajeitou a coluna, levantando minhas costas lentamente. Barnes colocou meu corpo inclinado entre o colchão e seu tronco. Suas mãos arrumaram minha perna enfaixada e minha cabeça dolorida. Ele ajustou minha blusa e meu cabelo preso em seus dedos.

- Está doendo? – Sua voz estava inquieta como ele.

- Oi, amor! – Não sei como ele me escutou, porque nem eu entendi o que disse. – Estou... Melhor impossível...

- Você tem que tomar esses remédios! – As pílulas eram enormes. Ele pegou um de cada caixa, deixando para trás o remédio de cólica.

Engoli os três e percebi que o copo quase cheio era meu. Então eu já tinha bebido água...

- Há quanto tempo estamos aqui? – Tentava virar o rosto para vê-lo, mas suas mãos não deixavam. Ele queria que eu ficasse olhando para frente.

- Três dias, meu amor. – Ele desembaraçava meu cabelo com seus dedos. – Mas você está bem melhor do que ontem!

Eu sorri, mas estava preocupada em como me recuperaria.

- Você também está se cuidando? – Eu não queria que ele se desgastasse comigo.

- Vou fingir que você não perguntou isso, e responder alguma coisa aleatória. – Senti que sorria, e isso me animou. – Sim, essa blusa é minha e não, não tenho um short.

Só então percebi que estava sem calça e com uma blusa vinho de manga comprida que era muito maior do que o que costumo usar. Ela tinha o cheiro de Bucky e sua colônia leve.

- Você me trocou? – Quero dizer, isso era meio óbvio. – Espera... você me deu banho?

Um silêncio se instaurou na sala. Eu não podia conter meu sorriso e queria rir, mas tinha medo da dor.

- Poxa, nunca imaginei que não lembraria disso... – Olhei para a borda da mesa de metal, tentando usar o material para ver o reflexo de Bucky. – E nem que eu estaria desacordada... Agora estou triste. Você tem que me ajudar agora, então.

A Feiticeira DesconhecidaWhere stories live. Discover now