Maria Vitória acordou, e Rosário já estava de pé.
- Bom dia!
- Bom dia, Maria Vitória! Nossa, como você dormiu!
- Ué... Está acordada a muito tempo?
- Acordei cedinho, acho que no horário de sempre. E fiquei aqui, só esperando tu.
- Me esperando?
- Sim, eu não ia sair do quarto, aqui não é minha casa, morro de vergonha. Além de quê, isso aqui é enorme, capaz de que eu me perdesse nessa casa!
- Ai Rosário, não exagera.
- É verdade, ó, isso aqui ainda é maior do que aquele casarão.
- Por falar no casarão, como será que tudo ocorreu por lá?
- Bom... O Barão já deve ter acordado, deve tá enfurecido.
- Eu bem imagino como deve estar. Fico preocupada, com medo do que ele pode fazer.
- Aquele velho tá com raiva. Mas imagina só o Cipriano que passou a noite toda amarrado, hein?
- Nossa... Esse deve estar com o ódio maior já visto. Porém, ele só passou pelo que nós também passamos.
- Ele é trem ruim, deveria ter aquilo a muito, muito tempo. Finalmente teve o que merecia.
- É verdade. Uma pena as vidas que se perderam ontem...
- Aquilo já foi pior, Maria Vitória. Muito pior... Já vi pessoas tendo os pés cortados ao tentar fugir, a língua, tortura ao extremo. A morte perto dessas coisas, não é nada. É mais um livramento.
- Você fala de um jeito...
- Um jeito vivido, só isso. A escravidão dói, tu mesmo viu. Para nós, muitas vezes a morte pode não ser algo ruim, ela é nossa esperança. Dizem que algumas pessoas vão para o céu, pra um tal de paraíso. E a morte pode levar pra lá. Então... É assim que alguns escravos veem.
- Que horror! Apesar de ter vivido isso... Ou quase isso, eu tenho a impressão de que não sei de nada.
- Você é branca, é normal não saber de quase nada. Mas quem é preto, já nasce sabendo. Já nasce obrigado a saber.Maria Vitória derramou uma lágrima.
- Mas esqueça. Me dê seu braço.
- Para quê?
- Menina, isso aqui tá ferido por demais. Olha só... Tens que tratar.
- Doeu durante a noite, mas já já sara.
- Não, não... Nós vamos atrás da dona Cila, e vamos saber como tratar isso. Ela vai fazer um curativo melhor.Elas ouviram o portão da casa se abrir.
- Ih, acho que alguém chegou.
- Olha, é a minha tia, junto a Berenice, e meu tio Peixoto.
- Vai se arrumar então, vieram para te ver... Mas tem outra pessoa chegando.
- E quem é?
- É muito bonito. Vixe, é o Fausto!
- Fausto? Tu tens certeza?
- Eu conheço aquele rapaz, olha lá, não é ele?
- É sim. Ai meu Deus, o que eu faço?
- Vai se arrumar para o rapaz, ué.
- Sim, mas... É isso. Mas não sei o que vou falar, Rosário.
- Chega lá, abraça o rapaz, e pergunta do casamento.
- Não posso fazer isso. Sabe, eu não quero parecer que estou desesperada.
- Mas você está sim, Maria Vitória. Vivia falando do rapaz. Tu queres ver ele, vá logo, minha amiga!
- Mas preciso de uma roupa adequada.
- Eita... As roupas, todas estão na fazenda.
- E agora?
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O Caminho Para A Liberdade [REESCREVENDO]
Historical FictionESSA HISTÓRIA VAI TE PRENDER DO INÍCIO AO FIM! Dandára, a mais bela das moças, cativa da fazenda Álvares Real, apaixonou-se, e viveu um romance com Leôncio, o filho do Barão Leopoldo. Mas esse amor logo é interrompido pelo Barão, quando o mesmo...