Capítulo 44

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Eu não conseguia parar de pensar naquele bilhete escrito por Emma. Milhares de indagações invadiram minha mente ao ponto de me deixarem tonta. Sentei-me no sofá e procurei inspirar e expirar até que eu encontrasse um ponto de equilíbrio em minhas  emoções. Diante de todo aquele aperreio, ouvi o telefone de casa chamar até eu atendê-lo:

— Olá, é da casa do Sr. James Bonde? — Uma voz feminina ressou do outro lado da linha.

— Sim, sou a esposa dele. Quem fala?

— É do escritório de departamento pessoal. Nós trabalhamos para o ADG Advogados, e estou entrando em contato para pedir que o Sr. James compareça amanhã aqui a fim de assinar sua rescisão.

Por um momento, eu não entendi direito as palavras, senti meu coração acelerar.

— Mas, por que assinar a rescisão?

— Ele pediu demissão do trabalho há uma semana. Agora só estamos finalizando de modo legal a saída. — A mulher na linha respirou um pouco e continuou: — Saiba que todo o pagamento estará amanhã também na conta bancária. A senhora pode informá-lo disso, por favor?

Silêncio.

— Senhora?

— Sim, eu posso — respondi depressa. — Obrigada por tudo. — Desliguei o telefone, tendo minha respiração ofegante. O que estava acontecendo?

Comecei a me abanar com as mãos, sentindo uma pontada no peito. Era a dor da traição, da mentira, de todo aquele fardo. Como eu podia ter sido tão enganada assim? Há uma semana ele saia para trabalhar e não estava indo para onde devia. Baixei a cabeça, e os meus olhos encherem-se de lágrimas. Então, de modo abrupto, a porta do apartamento abriu, e vi a expressão alterada no rosto do “meu” marido.

— Amber, você vai passar uns dia na casa da sua mãe — ele declarou ofegante. Em seguida, foi para o quarto e, às pressas, pegou uma mala e começou a colocar algumas de minhas roupas dentro dela.

Ao vê-lo naquela velocidade, indaguei:

— Por que vou precisar ficar na casa dos meus pais?

— Eu vou ter que fazer uma viagem a trabalho. — Franzi o cenho, chocada com a mentira escancarada na minha cara. — Depois dessa viagem as coisas vão ficar tudo bem para nós.

Ele começou  a arrumar uma outra mala, agora com suas próprias roupas.

— James, me explica o que está acontecendo! — Eu queria saber que loucura era tudo aquilo.

— Amor, não tenho tempo de explicar nada agora. Eles já compraram a passagem e eu só tenho uma hora para correr ao aeroporto — ele parou e fitou nos meus olhos —, mas confia em mim. Quando eu voltar nós teremos muito tempo junto. — Beijou-me nos lábios rapidamente e a me fez acelerar os passos para fora do apartamento. Enquanto desciam pelo elevador, ele declarou: — Eu já pedi um UBER para você. Está aí fora te esperando. Assim que eu voltar, vou busca-la.

Eu estava num estado de choque tão grande por conta de todas aquelas informações, uma por cima da outra, que não consegui questionar ou brigar com James com tudo que eu havia descoberto. Era como se os meus nervos me paralisassem, não me deixando ter nenhuma reação alarmante. Ele me acomodou no carro, pagou o motorista adiantado e se despediu. Viajei em silêncio os poucos minutos de distância entre a minha casa e a dos meus pais, durante o percurso eu tentava organizar meus pensamentos, mas se havia uma verdade, era que James não viajaria coisa nenhuma. “Miserável! Ele deveria estar indo encontrar a Emma!”

Chegando no meu antigo lar, fui recebida por mamãe, que mesmo sem entender muita coisa, hospedou-me no quarto em que eu dividia com Hanna. E a meu pedido, deixou-me sozinha. Sinceramente, eu não conseguia parar quieta dentro do aposento, andava de um lado para o outro. Passei as mãos entre os cabelos e mirei para o céu azul daquela tarde e uma tristeza assolou meu coração. Naquele instante, era como se um senso de lucidez me atingisse. Algumas memórias das ações de James começaram a vir povoar em minha consciência, como aqueles momentos em que ele avançava o sinal e era eu que tinha que pará-lo. Recordei-me de suas iniciais reclamações sobre as idas a igreja mesmo antes de nos casarmos. Coloquei a mão sobre minha cabeça e indaguei: “Senhor, será que me deixei enganar assim?” A dor no meu coração apertou mais um pouco e as lágrimas pressas saíram. “Deus, o que eu vou fazer agora?” E diante daqueles pensamentos, o toque insistente do telefone, me fez atender a chamada:

— Alô?

— Oi, Amber, sua sumida! — Era a voz de Kim no telefone.

— Kim? Nossa! Não reconheci seu número.

— Eu tive que trocar. Pão meio que me obrigou — ela declarou.  — Mas estou te ligando para te pedir uma ajuda.

Eu franzi o cenho, achando estranho aquela ligação.

— Ajuda pra quê, Kim?

— Se os seus pais podiam me acolher por um tempinho na casa deles. O Paulo Jr precisa de paz e tranquilidade. — Sua voz parecia uma pouco temerosa.

Havia se passado um mês desde o nascimento do filho de Kim e Pão. Eu só tinha conseguido ir visita-la uma vez. O bebê era lindo e havia puxado os olhos azuis do pai. Mas não entendi o porquê daquele pedido.

— E por que o morro não está oferecendo tranquilidade para você e seu filho, Kim? — perguntei com curiosidade.

— Bom, por aqui as coisas não estão muito bem. — Ela parou e só consegui ouvir uma respiração pesada do outro lado da linha.

— Por que as coisas não estão bem? O que esta realmente acontecendo, Kimberly? — perguntei com a voz já elevada, pois sentia que qualquer momento eu teria um infarto fuminante.
Ela não respondeu imediatamente, porém, após uns longos segundos, resolveu dizer:

— Você sabe que desde a morte do Cavalo Manco o morro da luz começou a comandar nos dois, não é?

— Sim.

— Sabe também que desde a saída do Céu, o comando foi divido em o Pão e Amendoim. Se lembra?

— Eu sei. Pão ficou no morro da luz e o Amendoim foi para o morro das trevas. Eles deviam trabalhar juntos — falei sobre todo meu conhecimento que tive em respeito daquele assunto.

— Você disse certo: “deviam trabalhar juntos” — Kim enfatizou. — Mas descobrimos a pouco tempo que Amendoim traiu o morro da luz, dando ele mesmo ordens escondidas para os capangas do Cavalo Manco.

Minha boca quase cai ao chão.

— O morro da luz recebeu o aviso de um ataque. Por isso que Pão...

Ela pareceu não querer dizer.

— Termina, Kim!

— Por isso que Pão chamou o Céu de novo. Ele está aqui e vai dar um jeito em tudo isso. Sinceramente, não temos como passar por isso sem o comando dele. Estava tudo uma desordem e ele está pondo as coisas nos eixos.

— O QUÊ?

— Amber, se acalma! Vai ficar tudo bem. Tenho certeza da vitória deles.

— Como pode ficar tudo bem? O morro está a ponto de virar uma zona de guerra! — declarei quase gritando. — Kim, eu preciso desligar agora. Falamos depois! — Não esperei resposta, nem consegui dizer se ela podia vir para a casa dos meus pais, apenas desliguei o celular.

Olhei mais uma vez para aquele céu e disse: “Senhor, tenha misericórdia da minha vida, do meu casamento e do meu filho”, coloquei a mão na minha barriga e as lágrimas desceram. Peguei minha bolsa e sai em disparada para a frente de casa. Não avisei ninguém de nada. Um táxi parou e informei o destino:

— Para o morro da luz! — Eu ia buscar meu marido e livrá-lo daquilo de uma vez por todas.

*

Vocês acham que a situação vai melhorar ou piorar? Façam suas apostas!

P.W.

O dono do morro da Luz e a missionária cristãWhere stories live. Discover now