Watch your tongue.

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Notas: Finalmente postando um cap pelo pc o/ Acho que as coisas estão melhorando na história? Haha, pelo menos comparado ao começo. Ainda tem alguma tensão no ar massss eles estão evoluindo ;) //

Talvez Sanji estivesse ficando muito mal acostumado com a constante presença de Zoro em seu castelo. Não estava sendo incomum que o garoto aparecesse lá antes mesmo de fazer uma semana, inventando desculpas e justificativas não muito convincentes. Era algo bom, na verdade. O vampiro ficava feliz toda vez que se encontravam. Sua fome ultimamente não o incomodava mais, ainda que nem em todas as vezes ele tenha sugado o sangue do garoto, apenas quando realmente necessitava.

A vantagem de estar sempre recebendo visitas era que acabava tendo mais motivos para cozinhar, os dois lados saiam ganhando. Sanji tinha uma companhia para as refeições, alguém para conversar e Zoro tinha comida e bebida de graça, além do loiro também sempre estar cuidando das refeições da égua, tanto que até havia arrumado uma espécie de estábulo para que ela pudesse ficar segura, coberta e aquecida.

Como estavam passando muito tempo juntos, cada vez mais Sanji percebia o quanto aquele pirralho era irritante, a ponto dos dois estarem constantemente discutindo e chegando a trocar alguns golpes para desestressar. Zoro realmente o tirava do sério. E mesmo assim Sanji ainda passava horas observando-o dormir, parecendo tão frágil e indefeso, mas na única vez que tentou fazer uma carícia em seu cabelo, teve o braço segurado com força para que o toque fosse impedido, como se aquilo fosse uma ameaça a vida do jovem. Chegava a ser engraçado e isso provavelmente foi o causador da primeira discussão, já que Sanji inconscientemente provocou ao dizer que havia achado que era o gramado do jardim que ficara preso no cabelo do garoto, deixando-o muito irritado a ponto de revidar ofendendo suas maravilhosas sobrancelhas. Um absurdo.

Outro ponto positivo era que com Zoro sempre por perto, ele podia sempre provar suas tentativas de onigiri, que Sanji estava incansavelmente atrás da receita perfeita, que fosse fazer o garoto sorrir satisfeito e dizer que era aquele o sabor que amava. Bom, talvez estivesse um pouco iludido de que seria elogiado, mas estaria satisfeito só de encontrar o sabor que mais o agradava.

— Não é exatamente assim... Eu acho. — Zoro disse ao comer o que o vampiro tinha preparado para ele. Claro, estava bem melhor que sua primeira tentativa e aquele loiro até mesmo tinha conseguido alga desta vez, mas Zoro não entendia aquela insistência em sempre preparar aquilo. Nem achava que realmente poderia reconhecer o sabor, sua infância parecia fazer tanto tempo que era quase como se fosse outra vida, uma na qual ele era feliz e inocente, uma que não voltaria nunca mais.

Mesmo com algumas respostas não tão positivas de sua parte, ele percebia que o vampiro realmente nunca desistia, nunca ficava cabisbaixo. Ele apenas murmurava consigo mesmo que talvez fosse a quantidade de tal coisa, ou talvez devesse tentar outro recheio. Zoro imaginava que era uma boa característica, a persistência. Era como num treino, em que desistir não é uma opção, não importa quantas vezes se erre, ou o quão fraco ainda seja.

Era exatamente o que ele fazia todos os dias em que tentava cumprir suas metas, e também todas as vezes em que estava naquele castelo e tentava se tornar melhor em bloquear os chutes de Sanji. O fato de não querer ser atingido por eles era incentivo o suficiente, já que doíam como o inferno, mas Zoro realmente estava empenhado em melhorar naquilo, o que era visto até mesmo em seu físico, seus músculos sendo forçados ao limite e aumentando a cada mês. Se tornando melhor em lutar contra aquele meio-vampiro, também se tornaria melhor em caçá-los.

— Estava pensando em ir caçar... — O caçador disse ainda ofegante, depois de desviar de alguns chutes do loiro, mesmo que não realmente estivessem treinando, e sim porque tinha comparado suas sobrancelhas com os caramujos do jardim. — Como ela não gosta eu pensei... Bom, posso deixar a égua aqui? Por alguns dias.

Desde que havia sido humilhado por aquele vampiro no quesito tratar do animal, Zoro vinha tentando ser um pouco mais bondoso com sua montaria. Ela realmente vinha se comportando cada vez melhor, e havia rapidamente se tornado uma excelente corredora, facilitando muito a vida de Zoro, até mesmo o ajudando a chegar sempre muito mais rápido no castelo, já que havia aprendido o caminho por gostar de Sanji. Então fazia sentido deixá-la com ele, e ele também parecia ter apreço pelo animal, tendo até mesmo dado um nome a ela e corrigindo Zoro sempre que ele não se referia a ela daquele jeito.

— Eu já disse que ela se chama Hime, não égua. — Sanji afirmou mais uma vez, como sempre costumava fazer. Zoro realmente tinha uma péssima memória para não se lembrar de um nome tão simples, ou ele apenas não queria dar o braço a torcer e chamá-la como deveria. Ele sorriu gentilmente e sentiu sua língua afiada formigar enquanto tentava conter a provocação que estava quase escapando. — A companhia dela é mais agradável que a sua, então sem dúvidas. Sem contar que é bem mais comportada.

Claro, ele não conseguiu segurar, irritar Zoro era uma pequena diversão que precisava aproveitar sempre que o jovem estava lá, não se forçaria a não ofendê-lo apenas por uma boa convivência, especialmente que eles pareciam se dar bem melhor quando estavam trocando golpes.

— Só me pergunto se você vai conseguir achar o caminho de volta. Acho que irei ficar desidratado durante as semanas que vai levar procurando o castelo. — Sanji forçou uma voz preocupada e colocou a mão no peito para dramatizar ainda mais. Talvez estivesse lendo muitos dramas recentemente.

A égua se pôs a relinchar de onde descansava na grama e Zoro olhou os dois como se quisesse matá-los. À medida que Sanji ia ficando mais confortável em sua presença cada vez mais ia dizendo essas coisas absurdas e irritantes. Mesmo que fosse preferível àquele jeito exageradamente cordial que insistia em tratá-lo antes, ou ao silêncio completo em seus piores tempos. Não era como se Zoro gostasse disso. Mas se era obrigado a conviver com aquela criatura, talvez aquela fosse a forma menos pior de fazê-lo.

— Tenha cuidado com a sua língua atrevida, vampiro. Estou indo caçar sua laia agora mesmo, não se esqueça. — Zoro apanhou as espadas e olhou de relance para o loiro que não parecia mais tão debochado.

Suas feições ao luar pareciam entristecidas, ainda era um hábito recorrente nele, Zoro percebeu. Levar suas palavras a sério demais, ter medo dele. Até a égua deu-lhe um olhar de censura.

O jovem caçador saiu no meio da noite pensando que nunca havia se sentido culpado por besteiras assim antes. Só estava agindo como sempre fez, sua rudeza e aspereza tão naturais que ele mal sentia quando era assim. Embora soubesse que talvez houvesse um oceano de diferença, talvez, entre ser rude e cruel. Zoro não sabia se ele era cruel, se foi assim sempre sem o perceber. Se a vida transformou seu coração em crueldade e amargura.

Ele não sabia se queria mudar, se devia mudar. Nem sabia porque se importava tanto a ponto de refletir sobre aquilo. Talvez porque Sanji era exatamente o oposto disso, ele nunca agia assim com ele, ou com o cavalo. Era um vampiro, deveria ser a maldade encarnada, mas Zoro só conseguia ver gentileza e sorrisos calorosos repetidamente a cada visita. Talvez no começo estivesse esperando a fachada desaparecer e a máscara cair, mas já havia visto aquele vampiro em todos os estados possíveis, tremendo de raiva, vulnerável pela inanição, e nunca enxergou as características que manchavam sua própria alma, as características próprias de um monstro.

Sanji apenas o viu partir, sempre sem a certeza de que um dia retornaria. Talvez tivesse mais confiança por ter deixado Hime ali, mas não era só a vontade de Zoro em retornar que importava, ele estava indo atrás de monstros sanguinários, sem a certeza de que conseguiria voltar vivo. Era um trabalho estúpido, na verdade, se tivesse forças e coragem pediria para que Zoro deixasse de ser um caçador. Ou talvez apenas estivesse se preocupando demais.

Enquanto ainda era noite, o loiro continuou a conversar com a égua, como se ela pudesse entendê-lo melhor do que o garoto. Provavelmente era exatamente isso, visto que sempre recebia uma lambida para confortá-lo. Ao menos ele queria acreditar que era por isso. Se sentia cada vez mais louco por conversar com um animal, talvez a solidão não fizesse bem para o cérebro. Como a bela aberração que era, teve que abandoná-la antes do sol nascer, trancando-se no desagradável lugar escuro e úmido, passando horas e horas tentando adormecer enquanto aguardava o retorno.

Your Blood Is My Wine - ZoSan Where stories live. Discover now