One Shot

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História postada também no ao3. 

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"Da-ge dá os melhores abraços", Huaisang lhe confidenciara um dia, com um ar muito sério. Você riu e pensou em como a relação deles era fofa (quando não estavam gritando um com outro sem se preocupar com os tímpanos nos espectadores inocentes), tentando não pensar no quanto lhe fazia falta um irmão mais velho como aquele. Ou qualquer irmão mais velho que quisesse assumir esse papel. Mas logo você logo esquecera o assunto, seus pensamentos se voltando para o teste que teriam mais tarde naquele dia.

Agora, soluçando de encontro ao peito de Nie Mingjue, você acha que Huaisang tinha razão. Você pode não ser um especialista em abraços, mas o do garoto mais velho é bem decente. Ele tem um braço em volta de sua cintura enquanto uma mão acaricia seus cabelos, bem abaixo do seu inseparável gorro, o balanço perfeito entre pressão e delicadeza. Você não sabe que cheiro ele tem, seu nariz está entupido demais para descobrir, mas você imagina que é algo amadeirado e reconfortante porque, se você fechar os olhos, pode imaginar que está em um lugar bem longe dali, quente e seguro e inalcançável.

É assim que é ter um irmão mais velho, ou é só Nie Mingjue que pode lhe fazer se sentir assim?

Todos esses pensamentos o distraíram de seus próprios sentimentos de medo, raiva e humilhação, ao menos o suficiente para que parasse de chorar. Você não quer sair desse abraço, mas levanta a cabeça só um pouquinho, para tentar espiar a reação de seu protetor. Ele te encara de volta, olhos tão penetrantes quanto sempre foram, mas você não consegue desviar o olhar, porque eles estão tão cheios de preocupação que parecem ser líquidos e convidativos como o café e não mais afiados como obsidiana.

Você pisca lentamente, tentando focar seus pensamentos antes que eles te levem por outros caminhos estranhos, e as lágrimas restantes embaçam seus olhos.

"Melhor?", ele pergunta, hesitante, e você reprime uma súbita vontade de rir, se saber ao certo de onde ela vem. Histeria, talvez.

"Sim", você se força a dizer, a voz rouca, mas não sente que isso é suficiente, mesmo quando ele começa a assentir. "Sim, muito obrigada. Você não precisava..."

"Alguém precisava!", ele te corta, um pouco alto demais, e respira fundo enquanto você sente a respiração presa na garganta. "Me desculpe", ele adiciona rapidamente. "Não queria te assustar, sério mesmo".

Ele pare encabulado, sem saber para onde olhar mas ainda segurando você junto a ele, e você não consegue evitar sorrir diante disso. Diante desse garoto, tão forte e assustador mas ao mesmo tempo tão cuidadoso.

"Deixa disso, eu só tenho a te agradecer."

"Hm."

Se possível, ele pareceu ainda mais encabulado, desviando o olhar para não ter que te encarar.

Está cada vez mais difícil reprimir a vontade de rir... É como se de repente seu sistema nervoso fosse feito de bolhinhas delicadas como o espumante barato que sua tia Sisi te deixou provar daquela vez, escondido de sua mãe, e sua única reação possível agora fosse abrir sorrisos cada vez mais bobos.

Você observa Nie Mingjue fixar o olhar num banco próximo um segundo antes de ele te guiar até ali. Você tem vontade de protestar quando se vê forçado a partir o abraço, mas ele mantém uma daquelas mãos enormes em seu cotovelo e os joelhos dele inevitavelmente tocam os seus, então a mudança não pareceu tão ruim. Em poucos minutos o toque dele se tornou tudo o que te mantém estável nesse mundo.

"Eles sempre pegam no seu pé?"

O questionamento inesperado faz sua mente ficar em branco em uma fração de segundo.Você o encara com olhos arregalados, tentando adivinhar qual seria a melhor forma de responder, mas sua hesitação é resposta o suficiente.

"Vamos falar com Qiren", ele diz, levantando em um pulo e tentando te trazer junto. Ele teria conseguido, se o pavor não tivesse te dado uma descarga de adrenalina.

"NÃO!", você grita antes que possa evitar.

Nie Mingjue te encara, o olhar sólido e afiado novamente, e você precisa desviar o olhar antes de falar:

"É... uma questão familiar. O diretor não vai conseguir resolver isso."

Você o olha de soslaio, avaliando a situação, e vê que ele parece confuso, mas gentil novamente. Ele volta a se sentar, mais próximo, e toma sua mão entre as dele.

"Os Jin... são seus primos?"

Você ainda não consegue encará-lo, mas aperta a mão dele levemente. Ele aperta de volta, só um pouquinho, como encorajamento.

"Zixun sim", você informa em um fiapo de voz, mas ao menos não gaguejou. É uma vitória, certo? "Zixuan é... meu meio irmão."

Os poucos segundos em que Nie Mingjue fica em silêncio parecem ser uma eternidade, e você não resiste em olhar para ele. Olhos duros novamente, mas enevoados, como se ele estivesse encarando algo há quilômetros dali.

"Seu irmão", ele diz, praticamente cuspindo as palavras.

Uma partezinha de sua mente pensa que para alguém como Nie Mingjue, tão fervorosamente dedicado ao irmãozinho, não existe tal coisa como "meio irmão". Ou se é irmão, ou não é.

"Seu irmão está praticando bullying com você."

Não era uma pergunta.

"Não!", você se apressa a corrigir. "Ele nunca..."

"Ele ficou parado olhando enquanto o primo imbecil dele te atacava, o que é a mesma coisa!"

"Não acho que ele tenha alguma escolha sobre isso..."

Mingjue te encara como se você tivesse dito que engoliu uma cobra viva, então você acrescenta:

"A mãe dele não está muito feliz com a minha existência. Acho que ele teria problemas se me ajudasse."

"Então, na melhor das hipóteses, ele é um covarde."

Você não tem argumento para isso, e nem quer ter um. Por que você está defendendo Jin Zixuan, de qualquer forma?

"Bem..." você começa, apenas para preencher o silêncio desconfortável, meio esperando que a frase se preencha por si só, mas ela apenas morre em sua garganta.

Ele espera, parecendo aproveitar esse tempo para se acalmar, e aperta sua mão novamente quando vê que você não vai falar mais nada. Você coloca sua mão livre sobre suas mãos unidas e tenta dar um meio sorriso que inspire a confiança de que está precisando.

"Eles não vão mais mexer com você, eu prometo."

Isso te surpreende, e a falta de explicação te enerva. Você conhece os métodos preferidos dele, Huaisang te contou todo tipo de conto heroico sobre o irmão, e todos eles encontram respaldo com os outros colegas.

É muito doce que Nie Mingjue queira protegê-lo, mas não tem certeza de que isso ajudará em sua já caótica situação familiar.

"Não quero que tenha problemas..." você tenta, uma súplica implícita em seu tom.

"Não terei" ele responde, inexorável, e te puxa para um novo abraço. "E você também não. Não se preocupe."

Você assente e tenta fazer seu melhor para atender o pedido de seu salvador, e descobre que não é uma tarefa difícil quando se vê relaxar nos braços dele. Nie Mingjue é sólido e quente e evoca todo tipo de sensações de segurança, e até o sinal da próxima aula tocar você se sente intocável.

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