Capítulo I - Te amei desde o começo.

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Te amei desde o começo.

Capítulo I - 7 de março de 2021.

Todos os dias eram sempre iguais.

A sineta tocava quando a porta era aberta, e algumas crianças adentraram a pequena loja de brinquedos. Elas eram afobadas, pareciam quase sempre muito ansiosas enquanto esperavam até que a loja fosse aberta, a pequena, mas agradável lojinha francesa onde eu vivia a muitos anos. Lá era o meu lar, e onde eu nasci. Eu amava a loja.

Um senhor gentil era o proprietário, ele fazia bonecas artesanalmente, pelúcias e brinquedos de madeira. Eram lindos, e delicados, e todos eles tinham o amor dele, que se dedicava tanto a nós. Eu não sabia bem como o chamar, mas eu nunca me preocupei com esse detalhe; Poderia ver nos seus olhos castanhos mel que ele me amava.

A loja tinha cores pastel, e era como uma linda casa de bonecas. Era cheia de prateleiras e estantes, e tinha cor por todos os lados, vida. Os brinquedos eram espalhados, e deixados a vista das crianças cheias de amor, que sempre vinham a loja; As vezes depois da aula, as vezes juntos de suas zelosas mães. Enfim, era um sonho.

Mas, por alguma razão, para mim nem tudo eram flores. Houve um tempo em que as crianças amavam comprar as bonecas mais lindas, e mais delicadas para brincar, e foi nessa época que eu fui feito. O dono achava que seria interessante criar um boneco, mas as meninas que vinham a loja, não sei porque, não me queriam comprar.

Eu fui colocado na vitrine pelo dono, junto de várias outras bonecas — Elas eram lindas, e até simpáticas —, e assisti uma a uma indo embora, enquanto eu continuava ali, sendo ignorado pelas meninas que vinham na minha direção. Sempre que uma garota vinha na direção em que estava, eu me enchia de expectativas, mas era falho.

No início, tentava me convencer que uma hora alguém iria me querer, mas quando dei por mim, a rua lá fora estava diferente, eu não estava mais na vitrine, e a poeira da prateleira onde fui deixado estava cobrindo meu corpo. As crianças quase nunca vinham, os brinquedos não eram mais produzido, e 10 anos já haviam se passado.

Não haviam muitas crianças para dar amor, minhas esperanças morriam a cada dia, assim como eu me sentia mais triste. Todos os dias eram iguais, mas não havia mais movimento como antes, crianças lá fora esperando ansiosas ou pais preocupados em levar um brinquedo para presentear o filho no natal. Os tempos mudaram.

Estava me acostumando a ficar largado ali, observando aquelas crianças entrando e levando outros brinquedos, foi assim durante anos, isso sempre me feriu. Minhas roupas fofas e minha pele de porcelana já não era mais lustrosa como alguns anos atrás, estava sujo e cheio de poeira, manchas. Não havia mais espaço para mim.

Um dia, diferente dos outros dias, a loja não abriu. Não ouvi a sineta, e nem vi o dono. Naquele dia chovia. Eu não sabia como humanos podiam ser tão frágeis, mas todos temos nosso tempo, e o do dono, chegou. A loja ficou em abandono por alguns dias, até que novamente abriu, mas não foi uma criança que entrou ali, e sim uma moça.

Ela tinha um rosto triste. Acompanhada por um homem de cabelos castanhos ela trouxe um monte de caixas, e recolheu todos os brinquedos, um a um, usando fitas para lacrar as caixas. Eu estava com medo, e não sabia bem o que podia acontecer. Quando ela me colocou numa caixa, e a fechou, tudo ficou tão escuro, eu tive medo.

Eu nunca mais vi a loja e o senhor gentil que me criou, e parecia que não ia ver mais ninguém. Fui deixado ao abandono mais uma vez, porém de olhos vendados. Pelo sacudir da caixa concluí que estava sendo transferido, mas não sabia para onde exatamente. Foi assim que acabei sendo posto no depósito de uma casa, posto a poeira. 

...

— Jeongguk-ah. — Ouvi a voz da moça se pronunciar, ainda estava escuro, mas sabia que haviam pessoas por perto. — Não corra!

— Tá! — Era uma voz de criança, afobada como as crianças de antigamente que visitavam a loja do senhor gentil, ao meu ver.

Passos rápidos, apressado.

— Omma, posso ver os brinquedos do vovô antes de você levar para doação? — A criança perguntou, sua voz estava mais próxima. 

— Pode, mas só pega um. — A mulher relembrou, após um longo, porém não tão profundo suspiro. Ouvi a risada infantil.

Os passinhos rápidos pararam, e logo ouvia ele remexendo as caixas. Ele soltava baixos sons que demonstravam surpresa e admiração vez ou outra, era adorável. Me distrai por um momento, e me assustei quando a caixa abriu por partes. Ele se inclinou para me olhar, e então me segurou ao levar as duas mãos na minha direção, cuidadoso.

— O que você faz aqui? Está tão sujinho... — Ele me segurava e tocava meu corpo com toda a delicadeza do mundo, como se tivesse medo de me quebrar a cada nova ação. — Ei, eu vou te limpar, dai podemos brincar!

Seu rosto era mesmo adorável. Seus olhos eram tão gentis quanto do dono da loja, e tinham ainda a mesma tonalidade. Usava franja curta, o seu rosto era redondo, e quando ele sorria eu podia ver os seus dentinhos de coelho. O nome dele era Jeongguk, e desde quando o conheci, o começo, eu já sentia que eu o amava.

— Omma, posso pegar esse boneco fofo que o vovô fez? — Após alguns instantes ele perguntou alto, olhando para mim enquanto esperava a sua resposta, em expectativa.

— Pode, mas venha me ajudar com as caixas! — A voz da mulher mais longe lembrava.

— Tá! — Respondeu Jeongguk em seguida, satisfeito, e sem desviar o olhar de mim, um desprezado boneco de porcelada, sorriu.

Pela primeira vez, alguém me amou, e assim como ele, eu também o amei desde o começo.

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⏰ Last updated: Mar 07, 2021 ⏰

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Poupée de porcelaine - YoonKook.Where stories live. Discover now