Verdade ou Consequência? ⛱️

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É o último dia de aula e quase todos os alunos já estão de pé, a maioria assina o uniforme uns dos outros e os mais emotivos se abraçam e até choram. Nossa professora, vez ou outra ergue os olhos da tela do celular para ver o que estamos fazendo, mas não diz nada. O cabelo avermelhado dela foi retocado, provavelmente uma comemoração pelo fim do ano letivo.

As notas já estão lançadas no diário e ninguém se importa em fingir bons modos, no fundo da sala alguns garotos jogam baralho mesmo sendo proibido. Suspiro, é deprimente pensar que estamos saindo da escola para nos tornarmos estatísticas de desemprego.

Cris, minha melhor amiga, coloca sua mesa no meio do corredor e fica em pé atrás de mim. Ela empurra meu cabelo pro lado, jogando ele por cima do meu ombro e começa escrever no meu uniforme. Quando começo a me remexer, por causa da cosquinha que faz, ela aperta meu ombro com a ponta dos dedos.

─ Você tá atrapalhando a artista, fica quieta. ─  Diz, dando mais uma apertada e dou um pulo na cadeira.

Tento distrair a mente olhando ao redor mesmo sabendo todos os detalhes do lugar; a sala é toda enfeitada com cartazes do nosso último trabalho de artes. É aterrorizante sair de um lugar seguro e ir para um ambiente totalmente novo, que é a vida adulta. Pensar nisso me deixa ansiosa e começo a estralar os dedos. Viro para trás, recebendo uma careta de Cris:

─ Sua mãe vai estar lá? Porque se formos nos arrumar lá em casa, preciso avisar meus pais. — Digo. 

Ela solta o ar e encosta com o quadril na minha mesa; Cris tampa o canetão preto e fica brincando com ele, entre os dedos.

─ Ela foi pro retiro da igreja, lembra? Deve estar ajudando a cuidar de jovens ou algo assim. — Responde e dá de ombros, estralando a língua.

Sei que a mãe dela não faz por mal, mas dona Regina, cuida mais de outros jovens do que da própria filha. Balanço a cabeça, afastando os pensamentos, não é momento para isso agora. Por isso, pego as mãos dela e as aperto, fazendo com que ela olhe para baixo; Cris pintou as mechas da frente do cabelo de azul e agora usa um delineado diferente do que estou acostumada, agora é bem marcado deixando seus olhos puxados ainda mais bonitos.

─ Que bom, porque não faço a mínima ideia do que usar e tenho certeza que vai ter algo no seu guarda-roupas para mim.

Dou uma piscadinha e Cris finalmente sorri, apertando minhas mãos também.

─ Você tem razão, minhas roupas são muito mais adequadas pra festa de hoje do que as suas. — Ela aponta com o canetão para minha calça jeans rasgadas e tênis de corrida.

Tento fingir que estou ofendida colocando a mão do lado esquerdo do peito, mas não consigo segurar a risada. Antes de poder fazer mais drama, o sinal toca e meu corpo volta a tremer. Suor frio desce na minhas costas e a garganta começa a secar, não quero e nem posso deixar a ansiedade dominar hoje, mas pensar que não vou mais voltar aqui amanhã, nem depois...

Cris bate com as unhas bem feitas e pontudas na mesa, levo um susto e dou um sorriso amarelado. Pego a bolsa que está pendurada na cadeira e aperto a alça com força enquanto me despeço de alguns colegas mais próximos.

Preciso pensar no que vou fazer daqui para frente, no que fazer com minha vida, mas só por hoje vou tentar focar apenas na festa e em que roupa usar.

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Descemos do uber e já começo me arrepender

Abaixo o vidro e mal consigo reconhecer as pessoas que estão ali, na escola ninguém se arruma daquele jeito. Mordo o canto interno na bochecha e Cris cutuca minha perna para que eu saia do carro. Alguns carros buzinam atrás do nosso e o motorista me olha com cara feia pelo retrovisor, respiro fundo e acabo saindo.

Viajando na MaioneseOnde histórias criam vida. Descubra agora