prólogo

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14/07/1988

Os sapatos são sempre os mesmos, tênis de corrida, azuis, azuis cianos. A cor predileta dela, a cor que era a marca dela desde o nascimento. A mãe dizia que era cor que combinava com ela, era a cor que combinava com o tom dos cabelos compridos dela, tão escuros à ponto de ressaltar a cor ciano que ela costuma usar desde sempre.

As pessoas diziam que alma tinha cor, seria a dela azul? Azul ciano?

O nó nos cadarços foram feitos, ela estava pronta, partiu para o corredor rumo ao quarto do irmão. A porta estava fechada, sempre estava fechada. 

- Damien...

Ela chama ele com a voz baixa, Damien nunca gostou de barulho ou tom de voz elevado, aquilo irritava ele profundamente, a última coisa que ela queria era irritar Damien.

A porta se abre e o garoto surge na fresta. Ele abre mais a porta e diz:

- Estou quase pronto. 

Ele informa e ela obedientemente espera no corredor. 

Damien termina de se aprontar e sai no corredor, ele é alto, tão alto que ás vezes as pessoas esqueciam que eles tinham a mesma idade, que Damien era seu irmão gêmeo. Talvez, até o próprio Damien se esqueceu que outrora dividiu o útero da mãe com outra pessoa. 

Eles eram distantes, isso é fato, só foi na gestação que eles se mantiveram unidos, mas havia uma única coisa que fazia os irmãos se tornarem mais próximos. O amor por trilhas surgiu desde muito cedo, era única coisa que eles partilhavam juntos, era o hobbie em comum que ambos nutriam, era o lapso de tempo em que eles conversavam sem estigmas, sem qualquer entrave. A relação deles sempre fora assim, pairando sobre uma trilha e outra, desde sempre os gêmeos se mostraram diferentes, ele mais recluso ela mais sociável, com o tempo eles aprenderam a encontrar o seu próprio lugar.

Foi o fato de nasceram em uma família abastada e privilegiada que ofereceu aos gêmeos uma casa localizada em uma reserva florestal, o pai dos irmãos eram um homem rico e entusiasta da natureza, por isso decidiu morar tão próximo da natureza, dessa maneira, as crianças desde pequenos foram inseridos no mundo ambiental, não foi surpresa o amor e entusiasmo por trilhas adquirido e sustentado ao logo dos anos por Damien e sua irmã.

Era na trilha sinuosa atrás da propriedade da família que os gêmeos costumava desbravar, e na tarde do dia 14 de julho que os irmãos gêmeos iriam passar o seu tempo.

A trilha não era nem aberta ou muito menos fechada, as árvores e grandes e milenares, o ar era úmido e havia verde em cada pedaço da trilha. O chão era coberto de pedras e folhas velhas, tanto que a cada passo de um deles soava um barulho das folhas secas. 

Ela mal falava, só iria falar quando Damien se sentisse confortável à ponto de formular uma frase, enquanto isso, os dois andavam silenciosamente pelo caminho de pedras.

O único barulho vinha dos pássaros que ali viviam, além disso, toda a fauna se fazia quieta, assim como Damien. 

- Você anda devagar.

Ele murmura para ela.

- Você que é rápido demais.

O menino se vira e sorrir pra irmã, ali é o único lugar onde ele consegue se sentir confortável com a irmã, dentro de casa sempre há algo que o impede, muita das vezes os próprios pais. 

Eles continuam andando, uma vez ou outra parando para observar algo na floresta, Damien tira da mochila uma câmera e tira várias fotos. A irmã fica parada assistindo o irmão ajeitar a lente da câmera.

- Vem, deixa eu tirar uma sua.

Ele chama ela para o local ideal para a foto perfeita.

Ela sorrir e ele verifica o ângulo.

Silenciosamente, eles retornam para a trilha, admirando a incrível paisagem. 

Ela estava em paz, sua mente se conectava com a natureza e o silêncio que era ofertado, jamais ela seria capaz de mensurar o quão é abençoada. 

Então, os irmãos avistam o lago translúcido no centro da trilha, a água cristalina corre pelas pedras e banha o leito. O barulho da corrente fez automaticamente a paz ser de fato instalado entre os irmãos. 

Damien fecha os olhos e inspira profundamente, ele só queria que tudo aquilo fosse diferente, que ele fosse diferente, que a vida fosse mais fácil. Que a paz que reinava ali fosse a mesma paz que o acompanhasse de volta pra casa. Damien só queria ficar ali, a vida inteira.

Então ao abrir os olhos, ele gira pelos calcanhares, e não vê a irmã atrás de si. O que era curioso, ela sempre estava atrás dele, sempre.

Ele se volta para todos os lado, os olhos ansiosos procurando pela criaturinha que anda atrás dele desde quando ele se conhece por gente. Damien está aflito, o peito bate rápido, ele procura a irmã a cada lugar onde ela pode estar.

Ela só pode estar pregando uma peça nele, típico dela. 

Mas mesmo assim ele vaga pela trilha atrás de sua irmã gêmea.

Então ele grita o seu nome, o nome que os pais a deram pra ela. O nome que ele mais ouviu desde quando nasceu.

- Cora! 

Ele grita, e os pássaros ali ao redor voam assustados. Como ela sumiu tão rápido, ele se pergunta. 

- Cora?!

Ele grita com mais força, então, avista os sapatos de Cora, os tênis que ela mais usa, os azuis. Ele pega um dos sapatos e analisa, olha para o horizonte e fecha os olhos.

Finalmente Damien respira aliviado, finalmente ele está em paz.

E assim o menino se abaixa e procura por algo, ele encontra o cordão de Cora, um colar de ouro com um pingente de safira extremamente azul.

Ele põe no bolso e retorna para casa, enfim aliviado.



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⏰ Last updated: Apr 20, 2021 ⏰

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