CAPÍTULO 57

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~ Antônio Zeebur ~

Aquela manhã de sexta-feira estava tão fria que podiam ouvir seus queixos tremendo. O clima não parecia ruim, e realmente não estava, mas sempre foi ótimo sentir o calor do sol sobre a pele. Antônio mal pregou os olhos aquela madrugada, sua irmã voltou muito tarde para casa e Antônio teve que mentir para o pai, ele detestava fazer isso e não era a primeira vez que alguma atitude de sua irmã o forçava a fazer isso. Francisco se sentiu irritado ao descobrir sobre a parede rachada e que Gabriella havia trazido pessoas estranhas para dentro de casa. O pai de Antônio não costumava ser bravo ou estar irritado, mas sim magoado por terem feito algo por suas costas.

Antônio estava com seu uniforme pronto e enquanto sua irmã terminava de se arrumar, aguardava com ansiedade o momento de lhe questionar sobre o que sentia por Arthur, sabia que não devia confiar em David, mas ele fazia por merecer ao menos um voto de confiança com suas últimas atitudes em relação a Antônio. Sua coragem estava correndo de seu corpo conforme as pulsações do coração, então antes que não a tivesse mais, Antônio pegou sua mochila e parou ao lado da irmã. Gabriella mal olhou para ele, apenas desviou o olhar pelo reflexo do espelho para espiá-lo e voltou a ignorar sua presença.

— Ella, a gente pode conversar? — Perguntou Antônio. Gabriella se sentia em um conflito interno entre estar ao lado de David ou apenas contar a verdade ao irmão.

— Não.

Gabriella pegou os fones sobre a mesinha de maquiagem e ligou uma música alta, ainda estava brava com o irmão e isso era notável. Antônio queria poder sumir ao menos por quatro anos e ver se faria falta ou se Gabriella amaria ser filha única, provavelmente a segunda opção. Antônio puxou os fones e ela por reflexo o empurrou com as mãos no peito. Isso o causou uma queda no chão. Ele levantou e pegou sua mochila sobre a mesa, Gabriella apenas observava seus movimentos. Francisco apareceu na porta com um olhar preocupado.

— Ouvi um barulho, o que aconteceu? — Perguntou ele vendo o clima entre os irmãos. Ela se sentia estática naquele instante.

— Nada, pai. Está tudo bem, eu só tropecei nos meus cardaços e acabei caindo, nada demais. — Antônio respondeu sério. Seu olhar estava fixo na sua irmã que permanecia tensa.

— Venham tomar café, hoje eu levar vocês até o colégio. — Avisou ele. Gabriella franziu as sobrancelhas.

— Por quê?

— Porquê preciso assinar os papéis de permissão e responsabilidade do seu irmão para a New Directions, e você para o Team das Cheerious. — Respondeu Francisco. Ele prefirou não comentar o clima entre os filhos, iria ser mais complicado entender do que tentar resolver.

Antônio estava um tanto magoado por sua irmã não ter contado que iria ser líder de torcida, eles contavam tudo um para o outro, porquê isso era o que sempre faziam, mesmo se estivessem querendo se matar enquanto dormiam. Antônio pegou seu celular sobre o criado mudo e se virou para a irmã.

— Depois do café da manhã a gente conversa. — Disse ele. Gabriella iria revidar, mas apenas foi impedida por um gesto de Antônio. Seus dedos pediam silêncio, então por fim deixou o quarto.

Ele sabia que aquilo tudo iria passar, sua irmã só estava frustada com as mudanças. Antônio gostaria de conseguir deixar ela sozinha por um tempo, mas se preocupava com Gabriella, e isso era extremamente presente, preocupação. Se ela era a mais velha dos dois deveria ser mais responsável, certo? Bom, deveria ser. Antônio chegou a cozinha e seu pai estava comendo à mesa enquanto lia seu jornal, por uns instantes Antônio se imaginou assim no futuro, sozinho e aproveitando a própria companhia.

Seus devaneios foram interrompidos por Gabriella que sentou no mesmo lugar que ele planejava sentar. Para evitar mais confusões, ele se dirigiu ao outro lado da mesa e sentou de frente para os dois. O tempo todo ambos se encaravam de forma óbvia, e todas as vezes que seu pai olhava para os dois, ambos sorriam para disfarçar que não estavam bem. Francisco não era burro e já havia percebido, porém valia a pena tentar forçar alguma coisa boa na frente dele.

— Como está sendo a escola nova? — Perguntou Franscisco tentando quebrar o silêncio durante a refeição. — Estão tão bem o quanto demonstram agora?

— São problemas nossos pai, não tem nada a ver com a escola, ou com você. — Respondeu Gabriella. Seu tom saiu grosseiro e pretensioso.

— Gabriella! — Repreendeu Antônio. Gabriella mostrou seus dedos médios e seu pai se irritou, mas com um misto de tristeza por seus filhos terem voltado a estaca zero.

— Eu vou pegar as chaves do carro de manutenção e meu casaco, hoje está chovendo bastante e não é um dia comum. Quando eu voltar quero ver essas louças no mínimo na pia e vocês alimentados. — Impôs ele.

— Tudo bem pai, eu já comi o suficiente.

— Eu não. — Rebateu Gabriella sem nenhum pudor.

Francisco levantou-se e saiu da mesa. Uma pequena discussão deixava tudo horrível porquê eles tinham que ver seu pai se culpando por atos totalmente comandado pelos filhos, se culpava por ter criado eles sozinho, se culpava por não ter arrumado uma figura materna para lhe dar apoio e ajudar seus pequenos quando precisavam. Assim que Francisco desapareceu no corredor, Gabriella começou a mastigar sua panqueca lentamente, saboreando a discórdia que criava dentro de seu irmão.

— Precisava falar assim com o papai? — Questionou Antônio. Gabriella deu de ombros e riu de forma sarcástica.

— Preferia que eu dissesse que você é gay e que roubou meu namorado?

— Primeiro: Eu sendo gay ou não, não cabe a você contar nada a ele, isso é um assunto que eu tenho de tomar conta, segundo: Ninguém pode roubar o que não lhe pertence, e terceiro: Caso eu fosse gay, o papai não veria problema nenhum com isso.

— Você me entendeu. Agora me deixa em paz. — Pediu ela irritada. Antônio tinha muita paciência, mas sua irmã adorava testar seus limites.

— Já que está me respondendo com o mínimo de maturidade agora, podemos conversar?

— Se você me deixar em paz, sim. Desembucha!

— Você por um acaso, gosta do Arthur? — Perguntou Antônio. Gabriella soltava fogos de artifício internamente, ela iria ganhar um voto de confiança de David.

— Sim, eu gosto dele.

— Você me disse que gostava de David há alguns dias.

— Eu não gosto mais. Agora vai roubar ele de mim também?

— Eu já disse que você–

— Estão prontos? — Perguntou Francisco voltando pelo corredor. Ele não pareceu notar a conversa de Gabriella e Antônio, afinal passou direto para a sala de estar.

— Já sim, pai. — Respondeu Gabriella siníca.

Até a Próxima!

Um Último Minuto (+16) - Versão Nova em BreveWhere stories live. Discover now