Capítulo Único

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Sempre morei em Campo Aberto que é uma cidadezinha quase perdida em seu próprio isolamento, todos os dias são possíveis descobrir algo desconhecido sobre essa pequena cidade. E foi em um outono com meus recém-completados 12 anos que tudo mudou.

Ninguém queria mais saber de brincar e a nova moda era namorar, provavelmente eu era a única não dando importância para isso e fazendo o de sempre que era desenhar no meu bloquinho.

Lembro bem da semana que minha melhor amiga, Rebeca começou a me ignorar só porque eu disse.

— Por que tanto interesse em namorar? Não vejo nada de interessante na troca de saliva com alguém e pode acabar pegando sapinho. Que nojo! Além de ter que andar de mãos dadas que acabam fincando suadas e seria muito estranho ficar tanto tempo grudado na pessoa, deve até enjoar. — Tenho certeza que ela não concordou com nada porque uma semana depois começou a me ignorar e andar com as garotas " populares e namoradeiras ".

E estando muito chateada, perguntei para minha mãe o que eu havia feito de tão errado e ela me respondeu que nem todos pensavam da mesma maneira e disse que nossa família também sempre foi do contra, porque estava com certeza na genética dos Lopes.

Eu só lembrei naquele momento o que era genética, porque minha professora Angélica falou uma vez que é alguma característica que herdamos dos nossos pais. Ela deu o exemplo de como tenho cabelos ruivos e a pele cheia de sardas, provavelmente minha mãe ou pai eram assim.

E ela acertou, sou igualzinha a minha mãe, mas não sei o que poderia ter de parecido com o meu pai, ele foi embora antes de eu nascer e nunca mais voltou.

Hey! Já estava esquecendo de dizer meu nome que é Valentina, minha mãe me deu ele porque sabia que eu seria muito forte e valente.

Em uma tarde de sábado, eu estava sentada sobre o muro de um terreno baldio e balançava as pernas de um lado para o outro, o vento batia forte em meus cabelos e fazia as folhas do outono voarem. Segurando o meu bloquinho e lápis iria começar a desenhar quando algo me chamou a atenção no fim da rua.

O casarão mais antigo da cidade, as luzes pela primeira vez estavam acesas e pensei em investigar naquele dia, mas acabei sendo impedida pela minha mãe.

— Valentina Lopes desça desse muro agora! — Ela gritou e de tão brava, ficou vermelha como um morango.

E acabou que fiquei uma semana de castigo e levando sermões sobre o perigo que eu havia corrido. Quando finalmente estava livre, peguei meu lápis e bloquinho para me aventurar pelo casarão e caminhei o mais discretamente possível até o fim da rua.

O casarão era cercado por fortes e altas grades de ferro enferrujadas. Olhar para aquele lugar me fazia sentir em um filme da família Adams que eu havia assistido com minha mãe no dia anterior.

Estava quase decidida a fugir para longe, foi então que as enormes correntes do portão caíram no chão com um barulho que me fez saltar de susto e com um rangido percebi que agora estava aberto.

Se eu fosse qualquer outra garota teria saído correndo naquele momento só que não fiz isso, pelo contrario, porque minha curiosidade foi maior ainda.

Eu imaginei que não conseguiria passar do jardim, mas quando girei a maçaneta da porta e ela abriu me revelando algo tão bonito quanto assustador, comecei a caminhar e a cada passinho era um rangido alto da madeira. E então parei bem em frente à lareira velha e acima dela, havia uma pintura antiga de uma família em uma bela moldura dourada.

Achei engraçado por um momento, porém nenhum deles estava sorrindo, o homem pálido e bigodudo tinha uma expressão carrancuda na face, a mulher de cabelos escuros parecia está sentindo dor e o menino tinha uma aparência doente e talvez escondesse um segredo naqueles olhos azuis ou verdes? Eu não saberia dizer a cor deles, porque a pintura estava desbotada.

O mistério do casarãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora