MIDNIGHT, 2019

Capítulo Único: Go ahead and cry, little boy.

Já era tarde, o relógio passava da meia noite. Jimin sentou em sua cama e esperou uns bons minutos, logo chegando à conclusão de que ele não viria hoje. As coisas com certeza estavam indo bem e seu menino não viria. Seria sua chance, finalmente? O pirralho Jungkook raramente deixava de ir até seu apartamento, visto que as brigas com a sua família aconteciam com muita frequência, sendo a mesma regularidade em que Park cogitava atentar contra sua própria vida.

Evitou estes pensamentos e se levantou da cama, caminhando até a sua escrivaninha. No breu do horário seria fatal. Enquanto o tiro recém ressoasse pelas ruas silenciosas do bairro, em seu quarto, ele já estaria caído, desacordado. Morto. Não teriam o que fazer, ninguém teria. Uma bala certeira na cabeça e tudo já era. Park Jimin já era. Fim.

Com a gaveta aberta, admirou o brilho da lua iluminando seu revólver prateado e, com uma onda rápida de coragem correndo por suas veias, Jimin se permitiu vislumbrar como as coisas seriam depois que ele puxasse o gatilho. O maldito sofrimento acabaria? As noites em claro se afogando nas lágrimas que, assim como todo o resto eram tão insignificantes que o irritavam, teriam um final tão trágico quanto o dele? Jimin sentia vontade de socar tudo, jogar suas coisas para o alto e pular da janela. Foda-se a vida, foda-se os problemas. Porra, as pessoas não estavam nem aí para ninguém, estavam pouco se fodendo se mais de dez pessoas se suicidavam a cada dez minutos, ninguém nem dava a mínima! Por que justo ele tinha de se preocupar se entraria para a estatística?

Pegou o revólver, segurando firme e o engatilhando. Suas mãos pareciam prestes vacilar e a visão estava turva, ele nunca se amaldiçoou tanto como naquele momento. — "Lágrimas, logo agora?" — Pensou, olhando o relógio novamente. Seria aquela a hora perfeita? Conseguia ser chato para cacete até enquanto tentava se matar.

Seus olhos pareceram pesar mais de uma tonelada quando o cano frio da arma fez peso em seu lábio inferior, adentrando sua boca, o que consequentemente ocupou todo o espaço da cavidade e, apesar da língua saboreando o gosto do ferro, era difícil até mesmo respirar. Olhou uma última vez para tudo, se sentindo tanto ridículo quanto a porra de um covarde por deixar todos que amava, mas sabia que não adiantaria de nada viver por todas aquelas pessoas e mesmo assim desejar ardentemente a morte.

Se preparou, respirou fundo e quando sentiu seu dedo fazer uma leve pressão no gatilho, prolongando sua morte, batidas estrondosas e gritos foram ouvidos em sua porta. O susto levou-o a jogar a arma no chão, caindo aos pés de sua cama ainda desarrumada.

— Hy-yung... — era o choro dele. — Você precisa me ajudar... Hoje aconteceu de novo, eu não consigo mais aguentar. Não dá. Eu preciso de você e do seu abraço — soluços fortes e pesados, tanto engasgados quanto desesperados, eram seguidos de batidas na porta. A voz de Jungkook foi o impulso que Jimin precisava para se levantar da cadeira confortável.

Pegou a arma do chão, apertando sua trava e tendo certeza de que ela não lhe dava mais o risco de um disparo acidental - o que era a mais completa ironia, levando em conta os últimos minutos -. Jogou o revólver em cima da escrivaninha e esfregou o rosto, se livrando miseravelmente das lágrimas salgadas que caíam.

Caminhou até a porta, com o coração na mão. O choro dele podia ser ouvido como se estivesse ao seu lado, dentro da sua cabeça, e tão sofrido. Meteu uma das mãos na chave já engatada e a outra na maçaneta, girando o molho pesado na fechadura da divisória, abrindo-a em seguida.

— Vem — segurou um dos ombros do garoto, puxando-o para seu peito e enlaçando-o por ali mesmo, mergulhando a mão em seus cabelos castanhos, passando a outra pelas costas dele, com cuidado, quase esmagando a testa do garoto em seu peito. O choro dele era tão doído, fazia Jimin querer arrancar os cabelos da cabeça e, se possível, tomar as dores daquela criança. Droga, Jimin já não se importava com mais nada além dele.