e no futuro estaremos enterrados em algum cemitério.

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gostaria que a reciprocidade fosse sútil, mas não é algo que eu possa mudar milagrosamente. nem se colorir-mos o mundo de cor de rosa ele vai se tornar, de fato, uma doçura para todos que nele vivem. 

e na verdade, seria bem mais fácil se morássemos numa daquelas casas com pouca localização, bem distante, que parecesse com aquela que a branca de neve conheceu no bosque, onde a porta já tornou-se parte da natureza pelas plantas que ela, cobriam. onde, durante alguns anos morando ali, seria possível plantar hortas, e ter um daqueles cães companheiros para correr ao seu lado naquelas manhãs de sábado, e poderíamos correr pelados por todo o gramado verde que havia espalhado por ali, correr em direção ao pôr do sol e depois voltar ao lar com um sorriso quase dourado abrigando uma inocência tão suave sobre aquele lugar assemelhado ao paraíso, para poucos.

seria incrível. mas não haveriam muitas pessoas que pudéssemos levar até aquele lugar, onde você saberia que se caso se apaixonasse, teria de saber que aquele prometeria que guardaria segredo sobre as manhãs de sábado, e durante todas as eternidades, fosse seu mero companheiro para correr distante dali, e aventurar-se entre o amor e a solidão que havia com o passar do tempo. beijos, doces, flores, morangos e quem sabe, plantar uma laranjeira para que cresça como o amor cultivamos uma vez.

guardei das melhores flores para seu retorno, mas elas morreram ao murchar, logo as frutas não mantinham a mesma doçura que haviam quando você ainda estava lá para plantá-las com as mãos cheias de terra ao meu lado. eu te retornaria, e logo quero me esquecer de mim nesta quinta-feira, porque com alguma razão pela qual você guarda desde que foi embora, eu me enterro nesta solidão.

te retornaria quando o rádio parasse de tocar a mesma música desde que você foi embora, e te retornaria se você dissesse que me perdoa por ser tão bobo. então, não me tire daqui quando eu morrer, porque eu sei que no futuro estaremos enterrados em algum cemitério, e eu gostaria que ainda sobrasse tempo para que você escutasse ecoar de meus lábios que quanto mais você permanece, o gelo derrete e a horta perde seu sabor.

— querido diário, e futura prova de todo meu sofrimento, hoje nesta quinta-feira de 1950 eu gostaria de pedir perdão por cada segredo remendado nas paredes desta casa humildemente bonita, que cada gota de meu sangue desenhado neste caderno seja prova do meu amor por alguém que jamais me perdoaria. cansei-me de remendar segredos nas paredes, e meu último segredo será remendado aqui.

bangchan naquela manhã de quinta, deu-se conta de que seu amor assustou a presença das folhas secas que haviam em volta daquela casa, e que elas levaram changbin para longe sem que ele pudesse saber de que bang prendia-se ao cobertor que o lembrava do quanto seu peito sentia falta do calor do outro. 

— doeu tanto que mal podia perceber, que desde que tu fora embora nada iria permanecer, apenas, da luz nesta casa, a ausência, tão escura sem tua presença. porém jamais esqueça, que eu gosto muito de você. dançaria com tua alma até o fim dos tempos, que sobre apenas a beleza de nossa essência tão traíra por todo esse tempo. querido diário, jamais ele me perdoaria por ter derramado tanto sangue por ele. que isto caia em suas mãos, e que ele saiba que eu também não o perdoaria por ter ido embora. — verdadeiramente farto, assinou terrivelmente com seu sangue cobrindo as páginas do papel. — da minha farta existência, para todos os outros vivos nesse mundo. fecharei meus olhos a partir de agora, e não quero flores, nem lágrimas, somente guardem esta lembrança minha como uma canção repetitiva no rádio. e espero que desta vez possam lembrar de dar flores no tempo certo, os mortos não irão retribuir com uma bela laranjeira plantada com terra escura.

naqueles próximos dias, não haviam quintas-feiras com um sorriso quase dourado, desta vez, parece que as quintas-feiras eram preenchidas por seo naquele lugar, chorando aguçado por todos os lados e pedindo perdão por tamanha covardia, sabendo que naquela época não podia evitar sua estupidez. guardar solidão era pior do que imaginavam, e aquele diário não foi o único detalhe para este fato.

seo era tão deprimente quanto bangchan, e aquele sentimento parecia transformar-se maior, aquela laranjeira estava intacta. o amor nunca morreu, mas a solidão o matou. e chegou a hora em que seo não havia mais flores, nem vida.

a solidão matou pessoas ingênuas. e enterrado junto com aquela laranjeira, estava o diário de bang, que logo foi finalizado pelas palavras sofridas de changbin. 

cansei-me de remendar segredos nas paredes.Where stories live. Discover now