Feliz aniversário, gatinha

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"My heart is racing girlit's a good feelingdon't hesitate to me"— I'll be there, Heejin&Hyunjin

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"My heart is racing girl
it's a good feeling
don't hesitate to me"
— I'll be there, Heejin&Hyunjin

"Ora, qual é a graça de fazer aniversário e não poder chamar quem eu quero?", Hyunjin pensava enquanto, muito contrariada, varria a casa para não irritar a mãe mais ainda. Estavam às pressas com preparações da festa, que seria mais uma reunião com bolo e docinhos do que uma festa grandiosa como as que suas colegas de turma dão, mas ainda assim, não deixava de ser uma comemoração aos seus dezesseis anos, já passou da idade em que observava os salões enfeitados com balões, com comida para semanas e tantos convidados que muitas das vezes era impossível contar como quem precisava daquilo.

Seus pensamentos rodeavam uma questão de extrema importância: para quem iria o primeiro pedaço de bolo? Poderia muito bem ir para si mesma, claro que poderia, ela era a aniversariante afinal! Também tinha sua mãe como uma das possibilidades, embora a relação das duas estivesse um tanto estremecida com a pressão dos últimos dias, mas mesmo assim ainda era uma opção. Pensou brevemente em seu pai, mas nem ao menos sabia se ele estaria presente ou em mais uma de suas viagens, supostamente, a trabalho, logo era uma opção descartada. Pensou em Haseul, Kahei, Yeojin ou Yerim, mas se conhecia bem aquelas quatro, era capaz de estarem preparando alguma bobeira como cantar "com quem será?", igual no ano retrasado quando a juntaram com o cabeleireiro onde Hyunjin muito ia — o que não era uma total mentira, já que eles tinham trocado alguns beijos no final de semana anterior —, ou coisa parecida.

As batidas na porta interromperam seus pensamentos e sua faxina, logo largando a vassoura e gritando um "já vai" enquanto arrumava o cabelo desgrenhado. Abriu a porta e deu de cara com Heejin, sua vizinha e quase namorada, escorada no batente da porta e olhando para o chão. Hyunjin abriu um grande sorriso e deixou a garota entrar, que também sorriu e se sentou no sofá.

— Pensei que sua mãe tivesse proibido minha entrada aqui, pelos gritos de ontem. — Heejin disse desconfortável e com medo de ter sido a causa dos hematomas fraquinhos na coxa de sua amiga.

— E proibiu. — Suspirou e voltou a varrer, mas não sem antes tentar esconder os machucados descendo um pouco o short. — Não acredito que só porque você se assumiu que não pode frequentar minha casa. Tipo, eu já sabia que você era lésbica desde quando? Dos seus doze anos? Agora ela insiste em achar que estamos namorando. Tudo bem que eu gosto de você, mas e daí? — Disse a última frase baixo, mesmo que Heejin já soubesse disso há muito tempo.

— Hyunjin — disse se levantando do sofá e indo até ela. — durante toda a noite de ontem eu ouvi coisas horríveis sobre nós duas. Eu ouvi cada insulto e cada tapa, ouvi também você implorar pra sua mãe parar. Foi terrível não poder fazer nada, não poder te proteger dela, não poder te ajudar quando tudo finalmente acabou. — Tocou o rosto da mais nova e a acariciou. — Não sabe como desejei que você não gostasse de mim e tivesse continuado com aquele cara, assim não teria apanhado e nem estaria com essa carinha um dia antes do seu aniversário.

— Ei, já conversamos sobre isso. — Respondeu se aproximando mais dela, agarrando sua cintura. — Ele é passado, ok? Não é porque eu sou bi que vou te trocar por um homem porque seria supostamente melhor pra mim. Gostei dele quando tinha quatorze anos e nem ao menos imaginava que gostava de meninas também. — Passou uma mecha de cabelo dela para trás da orelha, deu um beijo curto na sua boca e sorriu. — Eu não me arrependo de te amar, só não pude te pedir em namoro ainda, mas assim que a raiva da minha mãe passar e ela pelo menos te respeitar, juro que vou fazer isso.

Heejin ficou quieta e, quando se sentou novamente no sofá, observou os retratos na estante onde ficava a televisão. Queria que Hyunjin tivesse a paz que aquelas fotos mostravam: uma mãe e uma filha que se dão bem, assim como ela tinha a sorte de ter. Seu coração chamava pela garota e a queria como um vício que precisava aprender a controlar. Ouvia feliz a quase aniversariante cantarolar uma melodia que não conseguiu reconhecer qual era enquanto terminava de varrer, estava inquieta, mas teve a sua ajuda rejeitada.

Precisou ir embora pouco antes das cinco e meia, quando a sra. Kim podia chegar a qualquer instante, deixando Hyunjin novamente sozinha e um tanto melancólica, mas a noite por sorte passou tão rápido que logo estava comemorando a meia-noite. Abraçou a mãe que disse algumas palavras bonitinhas, mas clichês de aniversário, e pediu desculpas pela agressividade dos últimos dias, jurando que tentaria ser mais legal com ela e com Heejin, mas manteve a ordem de que ela não deveria ir na festa.

Ouviu batidinhas na janela e correu para ver o que era, mesmo sabendo do que se tratava. Com certeza uma tradição, em todos os aniversários uma das duas deixava uma carta na janela assim que todas as luzes fossem apagadas. Hyunjin abriu a janela e puxou dali um envelope amarelo fechado com um adesivo de gatinho.

"Feliz aniversário, gatinha! Finalmente dezesseis, não é? Nove anos desde que me mudei pra essa casinha minúscula, reclamando muito e me animando somente quando você, que estava toda arrumadinha de princesa, me chamar para sua festa de aniversário porque me viu chegar. Lembro que fiquei tímida com toda a preocupação de Haseul, desde sempre querendo que todas ficássemos bem.

Todos os finais de semana eram uma bagunça! Lembra de quando Kahei chegou? Ela não falava bem coreano e vivia sempre colada em Haseul, mas era muito rápida e nunca se cansava de correr. E quando Yeojin e Yerim finalmente criaram coragem de falar conosco? Elas eram tão pequenas que nem ao menos acredito que já estão quase com quinze anos.

Lembro também do primeiro beijo que demos, ano passado, depois de você chorar horrores porque Yeojin te assustou com um sapo. Inclusive, desculpa por ter rido, porque depois Yerim me assustou com uma barata, aquela pestinha. Sua boca estava salgada e sujou a minha de gloss de pêssego, seu favorito naquela época. A minha felicidade era tanta que eu queria sair dançando por aí, mas você estava paralisada, com tanto medo que precisei te acalmar dizendo que não era um pecado e nem te faria ir para o inferno. E cá estamos nós, separadas porque sua mãe é homofóbica, mas isso não é sua culpa, ok? Eu vou te esperar, mesmo que só possamos ficar oficialmente juntas bem velinhas, vou sempre estar aqui, porque te amo tanto que chegar doer do jeito mais delicioso que já senti.

Com todo o amor do mundo e beijos com gosto de bolo de aniversário,
Jeon Heejin."

Hyunjin sorriu com o pedaço de papel nas mãos e teve certeza: Heejin merecia ganhar o primeiro pedaço de bolo, merecia ganhar todos os primeiros pedaços de toda a sua vida a partir dali.

Primeiro pedaço de boloOnde histórias criam vida. Descubra agora