Pela eternidade seremos um.

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"Tudo o que sabemos sobre o amor é que o amor é tudo o que existe."

– Emily Dickinson

Tristeza.
Desolação.
Guerra.
Sangue.

Era o que se encontrava nos campos do Japão. Gritos desolados, almas clamando por misericórdia e o cheiro de sangue cobria toda a terra.

A espada era afiada. As lanças eram pontiagudas e atravessavam os corpos. As flechas voavam certeiras no céu em busca de uma alma para ser arrancada da terra. 

Não havia paz. Não havia esperança. Quando pensava-se que poderia haver algum mísero e fino resquício de misericórdia, outra guerra se iniciava. No final, só o que restava era sangue. O vermelho escarlate era o lençol dos que haviam entregado suas vidas na batalha. Também era o refúgio de muitos que não suportaram tamanha brutalidade das batalhas, das perdas e da ruína do seu país, da sua cidade e da sua família. Triste é saber que para muitos, a morte era a melhor solução.

E para os que continuavam a lutar contra a dor, a fome e a guerra, o perfume das árvores era um acalento para as almas sem esperança.

A floresta de Eien¹ era o único lugar intocável. A guerra não havia profanado seu solo e suas árvores. De lá vinha o perfume delicado da esperança. Para os habitantes, Eien era sagrada. Consideravam-na a habitação dos deuses e que, de alguma forma, algum dia, de lá viria a esperança. Mesmo que demorasse séculos.

Ela era como uma miragem aos olhos de quem estava no deserto. O verde de suas copas eram dançantes com o vento. A vida habitava no lugar. Árvores frondosas, grandes e com seus frutos e flores, era o sustento dos animais da pequena floresta. Um refúgio em meio a calamidade.

Não importa quantas batalhas houvessem, quantas guerras fossem travadas, nenhum dos exércitos ousou, ou ousaria manchar aquela terra.

Porém, havia uma coisa peculiar em Eien: uma árvore que nunca floresceu.

Embora estivesse cheia de vida, seus galhos nunca mostravam uma simples flor. Por isso seu aspecto, para as outras árvores que ali habitavam, era de seca, magra e morta. Parecia estar condenada a nunca florescer e a jamais dar aos habitantes o perfume da esperança.

Devido ao seu estado, os animais da floresta nunca ousavam se aproximar dela com medo do contágio do seu estranho mal. A grama nunca floresceu em seu entorno, por isso sua única companhia era a solidão. 

E assim permaneceu durante muito tempo. Acabava uma guerra e logo começava outra, e a árvore sempre permanecia sozinha apenas com seus galhos. Foram tantas primaveras apenas enxergando a beleza das outras árvores e nunca vendo a si própria.  

Em uma noite, a fada da floresta viu a situação da árvore que parecia velha, sendo jovem, e foi tomada por compaixão. Hasu, a deusa do lótus, aparece ao lado da árvore e, com palavras doces e nobres, ela disse:

ㅡ Eu quero vê-lo bonito e radiante, Yohiro! 

ㅡ Não me chame assim, não há esperança para mim, mesmo que meu nome diga isso. ㅡ Respondeu a árvore. ㅡ Me chame apenas de Jun!

ㅡ Certo, como quiseres! ㅡ A fada disse ao sentar embaixo da árvore.

Naquele dia, Hasu e Jun passaram o dia em uma conversa amigável. Conhecendo toda a história de Yohiro, a fada sentia ainda mais tristeza quando via a situação em que a árvore se encontrava. Era nítida toda a angústia de Jun ao ver ao seu redor tantos outros repletos de seus galhos cheios de cores enquanto ele parecia sem vida.

Foi então que Hasu falou que estava disposta a ajudá-lo e fez uma proposta. A fada, com todo o seu poder, criaria um feitiço que duraria exatos vinte anos. Hasu falou para Yohiro que ele iria sentir tudo o que o coração humano sentia. 

Saisho No Sakura • jjk + pjmWhere stories live. Discover now