Capitulo 1 - Encontros

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"O que fazemos na vida,
ecoa na eternidade"
(Gladiador)

Mas um dia comum na vida de Clarissa Beliche, dias mútuos que nunca vão ter algum sentido. Até que gosto do meu trabalho aqui, já que não ligo para quem eu sou ou poderia ter sido, nasci predestinada e isso deve resolver todos os meus problemas. Bom... Assim espero.
Desço as escadas e noto que o porteiro realmente está preocupado com as suas notas na faculdade, as olheiras dele estão mais aparentes e ele envelheceu uns 5 anos só de 1 semana para cá. Esse começo de ano realmente não é fácil para os humanos, não que eu me importasse com isso eu de fato apenas observo, observo e observo... De qualquer forma sigo meu rumo com uma mochila em minhas costas.
Infelizmente tenho ordens para agir como alguém normal e por esse motivo estou frequentando uma escola, não sei porquê querem que eu veja um monte de adolecentes idiotas que nem querem aprender alguma coisa, apenas estão ali porque fazem o que lhe mandam. Essas pessoas... Se eu pudesse escolher como eles eu nunca iria para aquele lugar. O lado bom disso tudo é que essa escola parece bem aconchegante e bonita, passar umas horas aqui não seria tão mal assim.
Gramado traz esse ar leve e alegre, que combina muito com a primavera e as flores. Pessoas caminhando em um cenário de jardins de girassóis e orquídeas, um canteiro de rosas mais ao canto para não ser incomodado e perfume de lavanda vindo do lavatório. Como tem humanos que preferem ficar conversando sobre o sexo oposto ao invés de ler em um clima agradável como aquele? Sento em um banco de madeira mais afastado e começo a observar tudo como sempre, pessoas novas, vidas novas, isso é realmente intrigante. Se passa 6 minutos e quando me preparava para tomar uma água no bebedouro do final do corredor, avisto uma cena muito rara, tão rara que coço meus olhos para ter a certeza de não estar sonhando.
Havia mesmo uma menina lendo? Nesse mundo estranho havia alguém que ainda sabia apreciar as boas coisas? Alguém que fazia jus ao clima lindo para literatura? Enquanto a tal garota folheava as páginas, seus cabelos castanhos balançavam com a fria brisa do outono de Gramado, era como se ela fosse uma Deusa perto desse monte de pessoas comuns. Um barulho alto soou dos alto-falantes indicando para que todos os alunos fossem em direção as suas salas de aula, diante disso paro de apreciar o ato da garota e caminho para a sala 3C, onde eu teria que frequentar pelo resto do ano letivo. Me sento na carteira da fileira do fundo, odeio chamar a atenção e não pretendo ter pessoas conversando comigo. Uma mulher com cabelos negros e cacheados entra na porta e penso ser uma professora, ela coloca suas coisas em cima da mesa dos professores e surge um barulho de batidas na porta da sala. Quando a mesma é aberta, encontro com o meu olhar um garoto de cabelos cor caramelo e olhos esverdeados, admito que ele prendeu a minha atenção por um bom tempo.
" Sinto muito professora, isso não vai se repetir novamente. " - Afirma o garoto. " Tudo bem Liam sei da situação do seu irmão." - Explica a professora. Então o nome dele era Liam e tem um irmão? Interessante. Paro de analisa-lo depois que ele se senta na carteira a minha frente e a professora começa a sua aula, como sempre eu já tinha conhecimento dos assuntos apresentados na aula, mas vou aproveitar essa oportunidade para esclarecer minha mente. A Deusa dos livros estava na minha sala e graças a isso vou poder observar ela de longe nas aulas e ver seus passos, quando o Liam entrou, ela ficou admirada com ele. Realmente a beleza do Liam era notável, mas alguém como ela pode se entregar fácil assim aos sentimentos? Sentimentos realmente são uma coisa complicada de entender.
No intervalo, me sento novamente no banco de madeira e dessa vez coloco fones de ouvido para minha observação ter uma trilha sonora, cada pessoa que passava diante das muitas flores que havia ali ficava com um ar de paz e tranquilidade, apesar de muitas vezes não ter nada disso em seu interior. Minha observação é interrompida por uma garota loira que me chamava ao longe, tiro os fones de ouvido para ter a certeza de que era eu que ela estava chamando. Descubro que a loira realmente queria falar comigo, entro em desespero, não sei falar com as pessoas direito e ninguém nunca me chamou para conversar na escola antes, todo mundo acreditava que eu era um alienígena antissocial, o que não deixa de ser verdade. Como fico parada no meu lugar com uma cara assustada, a garota decide vir até mim.
"Você parece ser muito tímida novata! Não se preocupa ninguém aqui morde! Sou a Marion e você como se chama?" - Fala a menina com um sorriso contagiante no rosto, rio de seu comentário e crio forças para respondê-la: " Prazer, sou Clarissa. " - Digo essas palavras de forma suave e fico surpresa com o meu ato. A Marion me fez conseguir falar com alguém, com seu jeito alegre seria impossível não dialogar com a mesma. Essa escola literalmente é interessante. Depois da minha fala, Marion me deu outro de seus sorrisos e me puxa para caminhar com ela e suas amigas pelo Colégio, aceito a caminhada pois será muito bom eu conhecer os lugares da Primavera Lary High School e entender como aquele clima leve funciona, além de poder observar mais pessoas e compreender um pouco mais da energia de Marion. Os cabelos loiros da garota balançavam com o vento, dando um ar mais lindo para a alegria e energia dela. Essa caminhada foi super divertida, totalmente diferente da minha observação comum.
Toda a nossa caminhada foi interrompida pelo mesmo barulho dos auto falantes que atrapalhou minha observação da Deusa dos livros, ao caminhar em direção a minha sala, junto com Marion que estudava comigo, noto que a menina dos livros ficou sentada lendo o tempo inteiro, sorrio com isso. As aulas se encerram e quando todo mundo guardava seus materiais, a coordenadora da escola surge na porta: " Liam Liats, um telefonema urgente para você, parece que seu irmão está com problemas!" - Exclama a mesma. Liam corre em direção ao telefone e percebo que ele ficou pálido, ao ouvir a pessoa da outra linha ele começou a suar e tremer, sem querer começo a me preocupar, mas afasto logo esse sentimento. " Preciso ir! Desculpa!" - Diz ele saindo da sala de aula em uma velocidade da luz, noto que ele esqueceu a sua mochila. Marion também percebe e se oferece para devolver. " Tudo bem Marion. Ele trabalha no contra turno na mecânica do seu Zé, você sabe aonde fica? " -Pergunta a professora. " Eu sei qual é a mecânica professora, mas não sei onde fica." - Diz Marion com uma cara decepcionada.
De repente a Deusa dos livros se levanta e se pronuncia, fico surpresa com a voz dela que não combina nada com seu ar doce. " Eu sei aonde fica professora, posso ir junto?" - Ela pergunta. A professora concorda e todos saem da sala de aula, começo a fazer meu caminho em direção a meu apartamento, quando estou quase chegando noto que na rua onde eu precisava entrar tinha uma mecânica que nunca havia reparado antes. Quando começo a virar essa rua ouço gritos masculinos vindo da mecânica, também vejo Marion e a menina dos livros descendo de um táxi amarelo, elas entram no local e logo ouço a voz delas gritando também. Fico curiosa com aquela situação e decido entrar para dar uma olhada, assim que entro, vejo que três agentes estavam sequestrando um garotinho que julguei ser o irmão de Liam, o mesmo estava discutindo com os agentes. " É EU QUE VOCÊS QUEREM! SOLTEM ELE, ELE NÃO FEZ NADA!" - Grita Liam. O agente começa a dar risada e diz que na verdade a gangue precisa dele também e que chegou a hora de separar os irmãos, tais agentes pareciam muito familiares para mim. Olho para o crachá e percebo de onde os conheciam, maldita SCL! Querem levar o irmão de Liam para o Contrabando!
Eu não pude acreditar no que estava vendo, bem diante dos meus olhos estavam aqueles agentes idiotas que eu rezava todos os dias para nunca ter conhecido. Eles continuavam andando por aí, como se fossem pessoas inocentes. De uma coisa eu tinha certeza, se a gente não sair correndo daqui vamos estar encrencados, eu nunca tive problemas com nenhum deles, mas eu definitivamente não posso revelar minhas habilidades para essas pessoas. Precisava avisar a esses agentes de quem eu era sem que os outros saibam também. Depois de muito pensar tenho uma grande ideia: dentro da capinha do meu celular tem a minha identidade com o meu código do contrabando, talvez se eu mostrar isso eles percebam com quem estão lidando. Afinal, minha reputação é perfeita naquele lugar, todos na linha média e inferior temem a mim. Vou até o bolso da minha mochila, fazendo Liam, Marion e a Deusa dos livros finalmente notarem a minha presença. Então puxo meu celular fingindo digitar algum número, gesto que chama a atenção dos agentes, pois não queriam ninguém envolvendo a polícia nisso. Mas, como a minha capinha é transparente eles logo notam a identidade por ela, fico contente com a cara de apavorados que eles fizeram, gosto de me sentir superior a esse pessoal nojento.
" Você..." - Um deles se pronuncia, mas logo interrompo dizendo: " Soltem esse garoto ou eu ligo para a polícia!" - Dou uma piscadinha no final e vejo eles começarem a tremer. São totalmente patéticos, provavelmente já perceberam que não podem lutar contra mim. Infelizmente, ao contrário do meu pensamento, eles decidiram usar o garoto como refém e arriscar tudo. " OLHA O QUE VOCÊ FEZ GAROTA! VOCÊ ACHA QUE UMA SIMPLES AMEAÇA ACABARIA COM
ELES? " - Liam grita me olhando como se eu fosse a pessoa mais idiota na face da Terra, o que com certeza eu não sou. Sinto meu ego ferido por pensar que alguém como ele poderia-me rebaixar a tal nível, minhas veias pulsam e jogo minha mochila no chão. Se tem algo que eu odeio é ser comparada a esse bando de pessoas sem noção, abro a barra da minha calça tirando um pequeno alicate personalizado que ganhei de um outro idiota. Se esses agentes já ouviram falar sobre mim sabem que esse é o sinal para fugir.
"Minha paciência para idiotas acabou..." - Rasgo meu casaco que estava me atrapalhando e corro na direção dos agentes, eles eram fracos então depois de 1 minuto estavam sangrando no chão, feito embecies. Pego o resto do meu casaco do chão e enrolo ele no garotinho que estava ajoelhado, chorando fraco. Pego ele no colo e começo a cantar uma música leve, eu jamais faria isso na frente dos outros, mas eu sabia como aquele garoto estava se sentindo. Ele precisava de paz. " Do lado de cá, a vista é bonita, a maré é boa de provar. Do lado de cá, eu vivo tranquila e o meu corpo dança sem parar. Do lado de cá, tem música, amigos e alguém para amar..." - Sigo cantando enquanto levava o garoto em direção ao Liam, assim que ele pega o seu irmão aviso que algumas pessoas chegarão para levar esses corpos, mas, que não precisaria se preocupar com eles. Enquanto estava saindo da mecânica o Liam me chama: " Garota... qual o seu nome?" - Fico sem saber o que fazer mais me sinto na responsabilidade de responder: " Sou Clarissa e não precisa me agradecer, faria isso por qualquer um que aqueles caras se metessem." Corro desesperada ao vento e começo a chorar, depois de todos esses anos sem me encontrar com aquelas pessoas eu me tornei fraca, como eu pude me entregar daquela maneira? Como? Eu não me conheço mais.
Depois de tanto correr, minhas pernas ficam bambas e caio de joelho no chão. Não ligo mais para o que aquelas pessoas achavam de mim, afinal me tornei um deles a partir de hoje. Liam não me rebaixou, eu me deixei levar e me trouxe para o mau caminho. Eu nunca poderei ser nada além de uma observadora, fui tentar agir e reverter a situação e acabei mudando meu destino. Como poderei ver aqueles três amanhã no Colégio? Se faltar as aulas posso gerar desconfiança na Gang, maldita Gang! Eu odeio cada um deles! Esse foi o único sentimento que me permiti ter, pelo menos até agora... Minha cabeça está latejando e a brisa gelada de Gramado faz meus pelos arrepiarem, começo a me abraçar logo sentindo falta do meu casaco quentinho. Me levanto e vou depressa para casa, eu ainda tinha compromissos naquele dia e não poderia me ferrar ainda mais. Bem que eu gostaria de saber o que aconteceu depois disso, mas assim que abro os olhos estou em uma cama de hospital e com uma terrível dor de cabeça sufocante, "Acho melhor você não se mexer Clarissa." - Diz um garoto moreno que estava na minha frente. Mas o que estava acontecendo comigo hoje? Desde quando precisava da ajuda de humanos? Ah é, sou humana agora também. Essa possibilidade me afeta como sempre e sinto meu sangue ferver.
O garoto na minha frente usava uma regata preta e calça de moletom, além disso ele tinha um sorrisinho malicioso no seu rosto. Sempre andei com moletons e casacos, não importava a temperatura do ambiente e sem eles eu era muito indefesa, já que odiava meu corpo exposto. O garoto percebe minha vergonha e decide provocar: " Você é bem bonita Clarissa, mas não vou fazer nada com você, vim aqui apenas receber meu agradecimento por ter te salvado." - Olho para ele, imaginando como meu nome poderia ter vazado. Não me sinto na responsabilidade de responder um idiota aproveitador como esse, junto minhas pernas que ainda estavam frágeis e faço força para levantar, não tinha tempo para ficar ali e agora já estava atrasada para o meu emprego na cafeteria.
Ele me olha como se eu fosse besta por levantar naquele estado, mas ele não me conhece então não sabe do incrível metabolismo que eu desenvolvi treinando na SCL, não é atoa que meu apelido é CL indestrutível, nenhuma doença ou machucadinho pode me afetar. Levanto totalmente renovada e vejo o garoto ficar surpreso, mas, assim que me estico ele me olha sorrindo e percebo que eu estava com a minha blusinha branca, provalvemte ele viu tudo enquanto eu me esticava, droga! " Você não tem educação em casa moça? Ainda estou esperando meu agradecimento." - Após dizer essa frase, ele vira a cara para o lado e vejo suas bochechas ficarem vermelhas. Aquele garoto tinha vergonha? Não parecia que ele era do tipo dos sentimentos, talvez eu não seja a única a se entregar sem querer. " Tanto faz, obrigado garoto e não me encha o saco, isso não vai acontecer de novo. Diga para os médicos que eu fugi, não quero mais problemas no meu dia." - Digo saindo do quarto do hospital, assim que saio da porta, olho para o chão e vejo uma identidade. Sem pensar direito pego ela e encontro uma foto do garoto que me trouxe para cá, mas ele parecia mais sério e bem mais atraente, talvez as noites mal dormidas o deixaram com aquela cara de panda.
Olho o nome e vejo que ele se chamava Derick, não ligo muito para isso, o que realmente me chamou a atenção foi o código na parte de trás da identidade, ele fazia parte do contrabando?! Então ele deve ter percebido que eu também sou, já que me recuperei rápido demais e tenho um corpo produzido de muito treino. Eu precisava tomar cuidado, se tinha mais alguém do contrabando aqui significa que eles estão me vigiando, quando vim para esse lugar eu era a única da SCL, agora me pergunto se realmente vou ter paz. " Você achou minha identidade! Obrigado. " - Derick diz olhando no fundo dos meus olhos e pegando a identidade da minha mão, ele era da linha superior, como eu. Por isso precisava tomar providências e cuidados maiores, mas eu tinha certeza de uma coisa: ele não parava de me olhar e eu já estava ficando com vergonha. Encontro minhas coisas e saio correndo do local, não aguentando aquele turbilhão de sentimentos, no caminho penso em uma desculpa para dar ao meu chefe sobre essa falta.

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⏰ Last updated: Aug 04, 2023 ⏰

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' Nem tudo é um Arco - Íris '  🌈 [ Pausada ]Where stories live. Discover now