O planeta mais distante

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AVISO DE GATILHOS: Menção a abuso sexual passado, pensamentos autodestrutivos, referencia a automutilação, violência passada e abuso infantil.

Andrew estava frio.

Não era nada diferente, não quando ele já havia passado tantos e tantos anos sem ter a mínima noção do que era se sentir aquecido. Era a mesma sensação de membros entorpecidos de sempre ― a mesma que fazia com que ele mal pudesse se mover em alguns dias, que tornavam suas pernas tão pesadas como pedras submersas.

Mesmo ali, as luzes brilhantes do Éden não podiam causar a menor faísca, a bebida simplesmente não queimava sua garganta ― as pessoas felizes, suadas e altas que dançavam não faziam nada além de fazê-lo se sentir sufocado. Mesmo quando Andrew burlou os seguranças e arrombou a porta que dava para o telhado, ele não pôde impedir o zumbido em seus ouvidos ou o arrastar de suas pernas moles.

Sua cabeça estava a quilômetros de distância ― em um quarto com uma porta trancada, cama com cobertores suaves e xícaras iguais. Sua cabeça estava em Neil.

Sempre Neil. Irritante, estúpido e interessante Neil.

Confuso, compreensivo e maldito filho da puta, Neil.

A merda mais corajosa que Andrew já viu em sua vida, assim como o maior covarde que já teve o desprazer de conhecer.

Neil era surpreendente e Andrew o odiava. Ele odiava surpresas. Ele odiava o quanto ainda se sentia pequeno apenas com a ideia de Neil.

E era esse ódio, essa sensação de pavor, que o levou ao motivo de estar a ponto de jogar seu celular do telhado e torcer para que ele acertasse um carro ou causasse um acidente com vítimas fatais. Apenas para ver se Andrew poderia causar mais dano do lado de fora que do lado de dentro.

A mensagem dizia apenas "venha para casa se não estiver okay" ― mas era mais que isso. O próprio Neil havia dito antes, meses atrás que mais se pareciam séculos, Andrew foi uma criança adotiva. Ele sabia o que significava a palavra casa para pessoas como eles, que tiveram que lutar a cada segundo de suas vidas pelo pouco que tinham.

Andrew apertou o celular em sua mão com força e respirou fundo.

Essa situação toda era ridícula, ele nem mesmo devia estar tão perturbado por aquilo. As raposas adoravam Neil e elas definitivamente não eram tão emocionalmente atrofiadas quanto ele ― era óbvio que em algum momento aquela frase sairia.

E era só o que era. Uma frase, um conjunto de letras que formavam palavras com um significado que Andrew nunca pôde entender.

Mas a lembrança de Matt esmagando o corpo de Neil em um abraço, rindo alto porque Neil o chamou de amigo. Matt dizendo a Neil que o amava, deixou Andrew estranho. Como se o mundo virasse de ponta cabeça e saísse do eixo.

A expressão no rosto de Neil ao ouvir aquilo...

Olhos arregalados e brilhantes, a boca aberta e sobrancelhas quase encostando no couro cabeludo.

Ele parecia surpreso. Tão surpreso que apenas murmurou um agradecimento pequeno e saiu direto para o telhado, voltando apenas quando Andrew disse a ele que estavam indo para Columbia naquela tarde.

Neil decidiu ficar em casa durante a noite e Andrew não questionou e até ficou entre ele e Nicky quando o outro ficou de coração partido por Neil dizer não.

Andrew, olhando para toda a situação, quase pensou que seria melhor ficar em casa também ― sua cabeça não parava de dar voltas em torno do mesmo tema.

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