Retrato da Luxúria

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― Agora, sorria para a câmera – eu pedi, ajustando o foco para o rosto de Sara.

Sentada na cadeira atrás da mesa bem organizada, em uma postura perfeita e elegante, os olhos escuros dela fitaram com um olhar seguro a câmera, enquanto seus lábios desenhados pelo batom vinho esticava-se em um sorriso confiante, profissional.

Observando-a através da lente, eu senti meu pulso acelerar ligeiramente. Já fazia alguns anos que havia aprendido a controlar os efeitos que a presença de Sara provocava em meu corpo, mas havia momentos que era impossível ignorar a atração que eu sentia pela advogada.

E aquele era um deles.

Sara estava perfeita em um vestido tubinho preto com lapela, os cabelos escovados caindo parcialmente sobre os ombros, o scarpin de salto fino completando o look elegante. Era a imagem impecável da mulher poderosa e confiante que ela era, e que mexia com minha libido desde a primeira vez que eu a vira, há quatorze anos, no escritório do meu pai.

― Ficou boa? – ela perguntou saindo de trás da mesa.

― Ficou perfeita – eu disse verificando as últimas fotos na tela da máquina fotográfica. – Mas não tinham como não ficar, não é mesmo? – completei com um sorriso tão insinuante quanto minhas palavras.

Sara sorriu, dessa vez um sorriso largo e divertido.

― Acho que você já faz isso por hábito – ela comentou, ainda sorrindo, e esclareceu quando ergui uma das sobrancelhas, confusa: – Me paquerar.

― Eu prefiro achar que sou persistente – retruquei sorrindo também, começando a guardar os equipamentos. – Você sabe, aquela estória de água mole em pedra dura...

Enquanto guardava as lentes da câmera, pensei em quanto tempo estava batendo naquela pedra. Precisava admitir que algumas vezes cantava Sara pela força do hábito, apenas para não perder a oportunidade, mas não naquele momento.

Por alguma razão, a postura confiante, quase orgulhosa, de Sara, mexia comigo mais do que eu gostaria, fazendo minha mente divagar em fantasias na qual nós duas ficávamos nuas e eu mostrava a ela tudo o que sabia fazer.

Ainda sorrindo, Sara atravessou o escritório até o bar. Era sábado e estávamos sozinhas na empresa.

― Quer beber alguma coisa?

― Sempre – brinquei, ainda ocupada com as lentes da câmera.

― Macallan?

― Caro. Pensei que fosse sua bebida para clientes especiais.

― E é. Mas também serve para momentos especiais.

Voltando até onde eu estava, Sara me entregou um copo com um pouco do líquido caramelo.

― E esse é um momento especial? – perguntei genuinamente confusa, bebendo o uísque.

― Ainda não, mas pode se tornar um – ela disse com um sorriso prepotente. – Se você ainda quiser me beijar.

De tudo o que poderia acontecer aquela manhã, ali estava a única coisa que eu jamais imaginaria. Eu poderia imaginar a terceira guerra, catástrofes naturais e até uma invasão alienígena, mas beijar Sara, definitivamente, jamais passaria pela minha cabeça.

Eu estava surpresa e não escondi isso quando a fitei, ganhando de volta um olhar firme, percebendo uma pequena centelha de ousadia brilhar nas írises escuras.

Sara não estava brincando e eu comecei a sentir uma mistura de ansiedade e excitação.

― Você sabe que não é só isso que quero fazer com você – disse com um sorriso insinuante, o tom ligeiramente divertido, a mente confusa.

Retrato da Luxúria - Conto LésbicoWhere stories live. Discover now