3 a.m. One Shot

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3 a.m.

A luz do computador incomodou seu olhos e a dor de cabeça pareceu piorar. Talvez fosse a hora de parar, afinal a madrugada já se estendia.

Thiago fechou o notebook e recostou-se no sofá. Precisava entregar aquele artigo em dois dias, o que não era muito mas também não estava atrasado. Não havia necessidade de queimar seus neurônios as três da manhã. Ao menos não ainda.

Levantou-se esticando as costas. Sabia que de nada adiantaria ir para a cama naquele momento. Acabaria só rolando de um lado para o outro com a mente cheia de problemas e no fim acordaria sua esposa. Isso era a última coisa que ele queria, ela precisava descansar muito mais do que ele. Olhou para o lado e viu o mar batendo na areia pelo vidro. Era uma vista deslumbrante mesmo na escuridão.

Caminhou em direção a varanda e assim que arrastou a porta foi atingido bela brisa fria da noite, mas não o suficiente para que ele desistisse de sair ou voltasse para pegar um casaco. Jogou-se na namoradeira que haviam colocado ali e se deixou observar a paisagem sem grandes pretenções. Mudar-se para aquela casa realmente tinha sido uma boa decisão.

Quando trouxera a ideia de ir para o interior, Liz não havia gostado muito. Alegara que não conseguiria viver longe da fumaça e do barulho da cidade grande. Por conta disso tinham adiado aqueles planos por anos, até que ela própria revivera a hipótese e no fim fora a que se adaptara melhor a cidade pequena e pacata em que agora moravam.

Ali os dias eram mais limpos e as noites mais frescas. A chuva vinha com frequência e o canto das cigarras e dos grilos fazia parte da sinfonia no local. O cheiro de mato molhado e de maresia eram tão constantes, que Thiago só os sentia se prestasse bastante atenção, como naquele momento. Podia ouvir cada onde quebrando na praia e o farfalhar das folhas das árvores que se estendiam pelo litoral.

- Thiago? - a voz dela chamou.

O rapaz se virou para encontrar sua esposa parada na porta da varanda. Estava enrolada em um cobertor e tinha os cabelos bagunçados, como se tivesse acabado de acordar. Linda, como sempre.

- Você deveria estar dormindo - ele disse.

Liz revirou os olhos e sentou ao seu lado.

- Você também - ela rebateu, esticando o braço para jogar parte da coberta sobre seus ombros.

Thiago a trouxe para mais perto, abraçando sua cintura, e enrolando os dois no cobertor. Liz se recostou contra seu peito e relaxou em seus braços, conchegando-se melhor.

- É sério, você precisa descansar - ele reforçou.

- Todos os seres humanos precisam dormir. Inclusive você, meu querido - ela disse com os olhos fixo no mar - Ela estava se mexendo muito, acabou me acordando.

O rapaz acariciou o ventre inchado de sua esposa com a mão que antes estava em sua cintura e beijou seus cabelos.

- Ela parece calma agora - comentou.

- Aquietou assim que eu cheguei aqui - ela contou suspirando - Acho que estava com saudades da sua voz.

Thiago sorriu para si mesmo. Ainda era estranho pensar que havia um serzinho dentro de Liz que era feito deles dois. Que se mexia, ficava calmo, agitado, reagia a voz deles... Era algo surreal, como um sonho. Dali a poucos meses poderia pegar aquele sonho em seus braços, ver seu rostinho, ouvir sua risada. Um bebê, só deles.

- Você imaginava que um dia estaria aqui, nessa situação? - ele perguntou curioso.

Sempre quisera casar, ter filhos, se mudar para um lugar mais pacato e viver uma vida simples e calma. Porém sabia que nada daquilo estava nos planos dela. Quando começaram a namorar tinha plena noção daquilo e nenhuma pretenção de muda-la. Mas aos poucos a mudança veio sozinha e quando ele se viu, já estava ali.

Virou a cabeça para observar a esposa, que tinha os olhos fixos no céu. Ela sempre amara as estrelas e ali elas eram muito mais visíveis que na cidade. De canto de olho podia ver o telescópio que ela passava horas usando sem perder o interesse. Nesses dias ele apenas a olhava da sala, admirando sua paixão por algo tão distante e complexo.

- Não - ela admitiu alguns segundos depois - Mas estar grávida abraçada ao meu marido na varanda da nossa casa ouvindo o mar e vendo as estrelas, tudo isso as três da manhã, não é o pior dos mundos.

Thiago riu e voltou a observar as ondas. Realmente aquele estava longe, muito longe, de ser o pior dos mundos. 

3 a.m.Where stories live. Discover now