Simple as Life One-Shot

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Simple as Life

Simples não era uma palavra que se encaixava muito bem com Elizabeth. Nada sobre ela ou sua vida era simples. Nunca fora e provavelmente nunca seria.

Quando era mais jovem, gostava daquilo. Ao menos servia para se sentir diferente, destacada da multidão de faces semelhantes. Essa opinião não a acompanhara para a vida adulta. Preferia ser uma qualquer, com um cotidiano comum e um futuro previsível do que passar por tudo aquilo.

Talvez a única coisa simples em sua vida fosse ele, Thiago Fritz. Uma amizade que surgira do nada, como nenhuma outra, e simplesmente perdurara por anos. Estiveram um ao lado do outro nos piores momentos, e nos melhores também. Sua dinâmica não era da complicada ou difícil de entender. As vezes saíam todos os dias por semanas, as vezes não se falavam por dois meses. E estava tudo bem. Nada havia mudado. Não era complicado.

Talvez toda aquela naturalidade tenha sido o que fizera com que se apaixonasse sem perceber. Tão naturalmente quanto tinham se tornado amigos. De um dia para o outro passara a ver o Fritz com outros olhos, interpretar seus gestos de uma maneira que nunca se quer passara por sua mente. Não era complicado. Era simples, bom. E aquilo a assustava.

Não merecia lago tão bom e puro. Ela não era uma pessoa boa o suficiente. Seria injusto arrastá-lo para a sequência de desgraças que formavam sua conturbada vida. Logo ele. Sempre sorridente e bem-humorado. Ele merecia alguém melhor do que ela.

E talvez tenha sido por isso que ela nunca se quer tocara no assunto. Talvez por aquele motivo tivesse sumido de propósito de sua vista naquele bar. Talvez por isso tivesse se deixado levar pela conversa mole daquele homem.

Ele não se parecia com Thiago, nem um pouco. Loiro, olhos claros, alto. Galanteador demais, sorriso falso de mais, perfume enjoativo demais. Por isso ele era perfeito.

A noite mal se distinguia de um borrão em suas memórias. Lembrava de terem saído do bar depois de algum tempo. Recordava-se de beijos e toques e de como desejava que estes pertencessem a outra pessoa. Tinha vagos vislumbres de um saguão. Um apartamento? Talvez um motel?

Acordara no dia seguinte com uma das piores dores de cabeça de sua vida. Sozinha. Não estava surpresa, eles nunca ficavam até a manhã seguinte. Levantara procurando suas roupas e logo encontrara seu telefone caído no chão em um lugar qualquer. 15 chamadas perdidas de Thiago. Sorrira para si mesma, não se lembrava de tê-lo avisado que deixaria o bar. Mandou uma mensagem rápida e segui para o banheiro. Pronta para começar um novo dia normal, na medida de possível.

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Aquela noite teria sido só mais uma entre muitas na vida de Elizabeth. Nada de especial. Nada que a destacasse. É claro, se não fosse pelo que aconteceu dois meses depois.

Havia alguns dias, não estava se sentindo bem. Nada parecia parar no estômago e a cada dia sentia-se mais fraca e sonolenta. Seus anos de medicina lhe diziam que era só mais uma enterovirose qualquer e que estaria nova em folha em apenas alguns dias. Contudo aquela teoria fora por água abaixo uma semana após o início dos sintomas, quando nada havia melhorado e ela percebera que seus pacotes de absorventes estavam intocados há meses.

Um frio correu a espinha da mulher ao contemplar tal possibilidade horrivelmente assustadora. Fez e refez as contas mais vezes do que gostaria de admitir e resolveu, por fim, dar um basta em seu próprio sofrimento e comprar um teste.

Sentira-se como um ladrão na farmácia. Parecia que todos os olhares estavam sobre si, julgando seu comportamento, suas escolhas, sua irresponsabilidade. Eles tinham usado preservativo naquele dia ou não? Ela havia perdido algum dia de seu anticoncepcional?

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