VENDIDO CAPITULO UM

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Já era noite quando cheguei do trabalho. Tudo estava uma bagunça, como sempre. Aparentemente, eles não estavam na residência. Respiro de alívio. As coisas são sempre mais difíceis com eles lá.

Me lembro do dia em que passei por aquela porta junto com o agente da adoção, e o que se sucedeu após sua partida foi algo que me embrulhava o estômago, me fazia respirar mais forte ao mesmo tempo que sentia meu coração parar de bater e meus pulmões pararem de inflar.

Eles disseram:

— Você vai ter que arrumar um emprego. O que ganhamos não dá nem para nós direito — Iniciou Margaret, a melhor que deveria ser minha mãe, tomando as rédeas da conversa. Não era nem um pouco carinhosa, não lembrava nem de longe as mães que conhecia. —  Vai fazer sua comida, lavar suas roupas e limpar sua área, aqui não tem empregada e eu não vou fazer.

— E a escola? — Depois que abri a boca e as palavras se espalharam pelo ambiente, me senti um peixe fora da água, pensando se dava tempo de correr atrás do agente, implorar para que me levasse com ele. Um orfanato seria melhor do que aquele muquifo com cheiro de mofo e cigarro.

— Isso é problema seu garoto! — Margaret desdenhou, puxando um trago do seu cigarro. — Não ligo pra isso. Estude ou não, você decide.

De fato eles não se importaram. Depois de conseguir um emprego das 6h às 16h, me matriculei numa escola não muito distante da casa.

Estou perdido, pensei. Depois de quase 4 anos com eles, aquele pensamento ainda recorrente, porém aprendi a lidar melhor, a ignorar certas coisas que não eram meu problema. Sempre que entro na casa, ou cruzo o caminho deles penso nisso, penso que posso acabar como eles, atolado em dívidas, um casamento infeliz e um filho que nunca quiseram. E sorrio comigo mesmo.

Fui para meu "quarto" na lavanderia. Não era grande coisa, mas era melhor dividir o espaço com bolhas de roupas fedorentas e a máquina de lavar que fazia o mesmo som que gato no cio, do que num abrigo para sem tetos.

Dei um jeito de organizar minhas coisas em caixas, e fazer uma cama onde os ratos não podiam subir para se aquecer. Me lembro que tive que dormir no inverno com várias roupas porque não tinha cobertores. Eu não tinha, na verdade. Foram alguns meses trabalhando até ter condições de comprar novos para mim.

Deixei minha mochila em cima da cama improvisada e corri para esconder o salário que tinha ganho naquele mês, algo por volta de 1000 libras. Pelo menos eles não cobravam nem uma parte desse pagamento, porém não podia deixar as vistas, Margaret podia confiscar para comprar alguma droga. Quase podia ouvir ela dizer: "Aluguel atrasado"

Tinha comprado algumas coisas e resolvi ir preparar algo para comer antes de sair. Fiz macarrão com salsicha, minha especialidade, e esquentar no microondas velho um frango de alguns que tinha escondido dentro da geladeira.

Guardei o frango e o macarrão em dois potes, lavei e guardei para não deixar nem uma impressão de que tinha estado lá. Deixei tudo como estava antes, desliguei as luzes da cozinha e da lavanderia/quarto e sai pela porta dos fundos.

Sempre tive um pouco de medo de dormir ali no fundo, a porta dava para o quintal, que dava para uma viela. Qualquer ladrão poderia entrar ali se desejasse.  A  casa estava em más condições, decadente e prestes a desmoronar com certeza, com pedaços do teto e piso faltando. Então pedi o medo, quem roubaria uma casa assim?

Teoricamente não existia nada que pudessem me roubar. Ali os pobres não assaltavam os pobres, mas itens não eram as únicas coisas que poderiam ser levadas, e aquilo sim me dava medo!

Não suportava pensar no assunto. Mikael, um dos pouco amigos que tinha, havia dito o caso de um amigo seu que se aventurou por aí em horários perigosos. Os relatos eram horrendos e nojentos, que sempre me deixavam arrepiado e de estômago revirado quando pensava naquilo.

VENDIDO (ROMANCE GAY)Where stories live. Discover now