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O som insuportável do toque agudo que sai de meu celular me faz despertar aos poucos. Preguiçoso, me estico um pouco até alcançar a mesa de cabeceira e dar um toque na tela iluminada, desligando o despertador.

Cogito me deitar novamente e voltar a dormir, mas o restinho de consciência que ainda tenho me faz puxar as cobertas grossas para longe do meu corpo e me levantar. A passos meio letárgicos, caminho até o banheiro, parando para analisar meu reflexo quando me ponho diante do espelho. Meus olhos estão inchados, minha boca parece um pouco ressecada e meu cabelo faz parecer que eu acabei de levar um choque. Os fios num verde desbotado estão espetados e apontam em todas as direções.

Sorrio fraco para meu próprio reflexo e repito na minha mente que, ainda que todo bagunçado, continuo sendo bonito. Repito para que, talvez, um dia eu acredite mesmo nisso.

Tomo um banho rápido, escovo os dentes e paro novamente em frente ao espelho, passando os dedos pelos fios esverdeados numa tentativa não muito bem sucedida de arrumá-los um pouco. Não consigo melhorar muito a situação, então me dou por vencido. Com um suspiro derrotado, dou de ombros e sigo de volta para o meu quarto.

Meu armário está um caos e, ainda que seja um móvel pequeno, quase me perco dentro dele em busca de alguma roupa limpa ou minimamente desamassada, constatando logo depois que também não terei sucesso nessa tarefa. Então pego a primeira calça jeans e a primeira camiseta branca que encontro, passando a mão pelo tecido macio na tentativa de me livrar de algumas das ruguinhas que se espalham ali. Bufando frustrado, coloco de qualquer jeito a blusa por dentro da calça, vendo que assim ela parece um pouco mais apresentável.

Dando uma última checada no espelho, pego minha mochila, passo mais uma vez os dedos pelos cabelos e saio em direção à cozinha. Mesmo antes de ser percebido enquanto adentro o cômodo, vejo minha mãe de costas, apoiada na bancada enquanto toma seu primeiro café do dia. Não preciso nem me esforçar para adivinhar as palavras que saem de sua boca assim que ela se vira e me olha de cima a baixo, me analisando.

— Você vai pra aula desse jeito, Yoongi? — percebo o tom de reprovação em sua voz e em sua linguagem corporal, quando apoia a xícara na pedra fria da bancada e põe as duas mãos na cintura, me lançando um olhar repreensivo. — O que foi que a gente já conversou?

— Qual o problema, mãe? — respondo impaciente, revirando os olhos e indo até a geladeira para me servir de um copo de suco. — Todo mundo naquela faculdade já sabe que eu tenho tatuagens, não preciso mais esconder isso.

— Yoongi, você sabe que sempre te dei liberdade pra fazer o que quiser. Suas tatuagens não me incomodam nem um pouco, já te disse. — fala, gesticulando muito enfaticamente na direção de meus braços pálidos e marcados de tinta. — Mas você sabe como são as coisas. As pessoas não têm os mesmos bons olhos que eu tenho para você. Elas julgam.

Seu tom de voz se torna menos incisivo e mais suave quando vai chegando ao final de sua colocação. Eu sei que quando me pede para cobrir minhas tatuagens quando vou para a aula, ela o faz pensando no melhor para mim. Ela teme que eu seja julgado e acabe sofrendo. Sei que não me repreende por não concordar com minhas ações. Não é esse o caso.

Como ela mesma disse, ela sempre me deu liberdade e até já foi comigo ao estúdio algumas vezes quando fui me tatuar. Sei que ela não me julga nem repudia minhas escolhas. Ela só se preocupa com o que os outros vão achar.

O problema é que eu mesmo não dou a mínima.

Respirando fundo, penso que já estou meio cansado de ouvir o mesmo sermão vindo dela. Então tento amenizar o meu tom antes de me virar para ela e, com o máximo de suavidade que consigo, respondê-la.

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