1. Avareza - Mamon

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Nasci e cresci no interior, numa cidade tão pequena que muitas vezes nem aparecia no mapa. Assim como todas as cidades pequenas, as que eu tenha conhecimento, claro, lá também tinha suas lendas e causos de terror, e, pra minha sorte, ou azar, meu tio gostava de contá-los a quem quisesse ouvir.

Sendo um entusiasta do lado sombrio, sempre tive grande interesse nas histórias do velho, apesar do medo, recebendo tramas assustadoras que deixavam meu eu mais jovem noites em claro. Minha lenda favorita era a do Cão Negro, onde um grande cachorro de pelos pretos protegia o tesouro enterrado por uma senhora rica e avarenta.

Na adolescência, época de achar necessário se provar corajoso em frente aos demais, decidi que enfrentar o cão preto seria a melhor forma de mostrar aos meus amigos o quanto eu podia ser valente, e, quem sabe, ainda faturar uma fortuna. Nem preciso dizer que fui estúpido e ganancioso.

No fundo, meus amigos e eu não achávamos que realmente existia um cachorro fantasma a espreita, muito menos coisas de valor monetário a nossa espera no terreno onde era localizado o antigo casarão da senhora, mas a adrenalina correndo por nossas veias e a esperança de nos dar bem graças a aventura nos dava o que pensávamos ser coragem.

O caminho até o endereço da suposta lenda fora divertido, cheio de brincadeiras e piadas entre nosso grupo, enquanto carregávamos uma pá e uma mochila, mudando quase por completo ao chegarmos no terreno. A partir do momento em que pisamos na terra do pátio mau conservado, fomos tomados por desconfiança e medo, com o pressentimento de não estarmos sozinhos.

"Monstros não existem, você tá sendo induzido pelo medo", repetia a mim mesmo, numa tentativa vã de manter a calma e a coragem. Qualquer som ou movimento nos assustava, terminando por ondas de alívio ao encontrar sua fonte inofensiva.

Com a pá, fizemos inúmeros buracos em volta da árvore onde, segundo a lenda, estaria o tesouro, mas não encontrávamos nada. Em nossa última tentativa, quando novamente era a minha vez de cavar, bati a ponta da pá em algo duro e brilhante que se projetava da terra, então fui distraído de meu intuito por um toque no ombro feito por um dos meus amigos.

Ao seguir a direção que os olhos de meu amigo fitavam, me deparei com o grande animal de pelagem negra sobre o qual havia crescido ouvindo. Nos segundos os quais o meu cérebro demorou para processar o que se passava, aquilo não parecia real, mas assim que a ficha caiu, seus globos oculares vermelho vivo não me deixavam dúvidas da realidade daquele infeliz momento.

"Não se mexam ou ele ataca", instruiu meu outro amigo, então ficamos paralisados, tanto por precaução quanto por medo. Num ato impulsivo, meu primeiro amigo jogou uma pedra na criatura, fazendo-a correr em nossa direção mais rápido do que conseguiríamos fugir.

Meu segundo amigo e eu apenas pudemos assistir aquela coisa monstruosa cravar suas longas unhas e afiados dentes na carne de sua pobre vítima. Não queríamos ser os próximos, então nos colocamos a correr o mais rápido possível, aproveitando a distração do monstro com sua refeição já sem vida.

É bom ter ambições na vida, mas se a ganância lhe custa caro, nenhum tesouro valerá a pena.

Os 7 Pecados CapitaisWhere stories live. Discover now