Capítulo Único

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Notas da autora:
Essa fanfic foi escrita para ser parte de um projeto Wolfstar (sim, eu já escrevi Wolfstar um dia), mas acabou se tornando uma fanfic sobre Sirius arromântico. Na época, me senti pressionada a postar a fanfic como collab, mas agora estou repostando da forma que eu escrevi: sem casais.

Capítulo Único.

Grande parte da sua vida, Sirius sentiu que estava quebrado.


Era natural os garotos não se interessarem por garotas quando crianças, era aquela fase em que "Eca! Garotas!", mas então chegava a puberdade. E não é que ele não estivesse interessado nelas, ele só não estava interessado de uma maneira completamente sexual.

Quando contou isso a outras pessoas, as reações foram sempre as mesmas. Como se ele fosse um cafajeste que via mulheres como objetos sexuais que deveriam realizar todos os seus desejos. Ou então alguém comentando tipo "Ei! Já considerou que você não se sente atraído por mulheres? Talvez você só esteja sofrendo heterossexualidade compulsiva".

Sim, ele já tinha considerado a hipótese. Ele já tinha considerado todas as hipóteses.

Ele sentia atração sexual por mulheres, por homens, por outros gêneros. Esse não era o ponto. O ponto era que... ele nunca tinha se apaixonado. E ele já tinha 25 anos, então não era meio que obrigação dele como ser humano já ter tido uma paixonite que fosse? Porque ele nunca teve. Nem mesmo um crush de infância, nada.

O que tinha de errado com ele?

Foi em uma parada LGBT que a última peça se encaixou. Haviam tantas bandeiras diferentes que ele nunca tinha visto antes. Comentou sobre isso com Lily, que estava com as cores da bandeira bi pintadas em uma bochecha.

— As pessoas estão se descobrindo — ela disse. — A maioria das sexualidades já remonta de décadas, mas só agora a informação está chegando a elas.

Sirius assentiu, observando as pessoas caminharem pelas calçadas com as suas bandeiras, camisas, acessórios representando suas cores.

— Olha, aquela é a bandeira intersexo — Lily apontou para algum lugar na multidão — Aquela é a bandeira gênero fluído. Aquela é a agênero.

— Você é uma enciclopédia mesmo, não é? — ele brincou.

— Aquela é a bandeira arromântica, não confunda com a agênero — ela deu um longo gole da sua lata de cerveja.

Aquele termo ele nunca tinha ouvido falar. Despertou estranheza, não vinha acompanhado de um "sexual" ou "gênero" no final.

— O que é isso? — Sirius perguntou, virando o rosto para olhá-la.

Lily passou a língua pelos lábios antes de responder.

— Nós temos tipos diferentes de atração. A sexual você já conhece, é o que determina a orientação sexual de uma pessoa. Mas existem outras, uma delas é a atração romântica — virou-se para ele, que não tinha desviado o olhar.

— Não é a mesma coisa?

— Não, não é. Você pode ser bissexual e homorromântico — ela respondeu. — São coisas diferentes, não são... interligadas. Não sempre, pelo menos. Senão, quem é assexual seria automaticamente arromântico, certo?

Ele assentiu apenas para mostrar que estava prestando atenção, porque ainda não tinha entendido direito o conceito.

— Então... Atração romântica. É tipo se apaixonar? — perguntou, voltando a observar as pessoas.

— Tipo isso — Lily abaixou a cabeça, os olhos fixando-se na lata entre suas mãos — Algumas pessoas... não conseguem.

— Não conseguem amar?

— Existem tipos diferentes de amor, Sirius. O amor que sinto por você é diferente do amor que sinto pelo James. Amor fraternal, amor romântico, amor... — ela deu de ombros. — Eles amam, só não conseguem amar do jeito que a sociedade quer, eu acho. Alguns não conseguem se ver casando futuramente, ou se prendendo a um relacionamento monogâmico, são várias situações.

— Essas pessoas... Isso é... — ele hesitou.

— É normal — Lily o interrompeu antes que pudesse concluir uma frase. — Algumas pessoas sentem atração romântica, outras não.

"Normal".

Era a primeira vez que escutava alguém dizer que não se apaixonar era normal.

Quando finalmente pôde dar um nome a aquilo que sentia, a aquilo que ele era, as coisas não ficaram mais fáceis de lidar, apenas mais fáceis de entender.

UnveilWhere stories live. Discover now