Manhã de caos

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Ah, mas que merda...

Praguejou César pela, talvez, vigésima vez desde que saiu de casa. Por que sábados de manhã tinham que ser tão movimentados? A vida era tão mais fácil quando ele podia passar esse tempo dormindo...

Mas enfim, o tempo passa, as pessoas crescem, e César era um adulto agora... bem... jovem adulto, que havia acabado de sair da casa dos pais para viver mais próximo de sua Universidade dos sonhos, que ele tanto havia se matado de estudar para conseguir uma bolsa parcial que fosse. Ah, as centenas de litros de café e energético valeram a pena, afinal...

Seria as mil maravilhas, se não fosse o fato de que teria que se tornar responsável por absolutamente TUDO em sua vida. Cuidar da casa, das roupas, das contas, de Kaiser, vulgo o gato preto de três anos que estava sempre em sua cola, e a parte que mais o entediava: as compras da casa.

Dentre tantas coisas chatas e irritantes da vida de um adulto, com certeza a que César mais havia evitado de participar era a famigerada "compra do mês". Desde que se entende por gente, nunca havia gostado de frequentar mercados, sejam eles grandes, pequenos, novos ou velhos, achava extremamente chato o fato de precisar se deslocar do conforto de sua casa para enfiar-se em um local abarrotado de gente e ter que passar por tanto estresse. Não era lá uma pessoa muito sociável, e aglomerações nunca foram bem a sua praia.

Quando criança, não tinha muito controle sobre isso, sua mãe sempre acabava o arrastando consigo já que não tinha onde deixá-lo, mas na época não era tão ruim. Na adolescência, tinha a opção de permanecer em casa, com a companhia de seus jogos. Mas agora, ha, estava morando sozinho, era "dono de seu próprio nariz", como gostava de afirmar, então, abastecer as prateleiras e geladeira de seu pequeno apartamento fazia parte do combo.

Então, esta seria a primeira vez que iria às compras desde que se mudou (já que dona Cláudia, conhecendo o filho, e sabendo que se fosse esperar até ele tomar coragem de ir já teria morrido de fome, ela mesma havia se encarregado de comprar algumas coisas essenciais), e tudo naquele dia parecia em perfeita harmonia para tornar sua vida um caos.

Primeiro de tudo, Kaiser... Ah, o bendito, o digníssimo gato preto que roubou seu coração, fez o favor de arrombar o saco de areia guardado dentro do armário da lavanderia e espalhar por todo o seu chão limpinho. E, de bônus, ainda deixar alguns presentinhos. Como ele fez tudo isso? Só Deus sabe, e César preferia não descobrir...

Depois de limpar toda a bagunça do meliante e alimentá-lo devidamente com ração e carinho nas orelhas (por que, oras, não tinha como ficar bravo com uma fofurinha daquelas), seguiu para o banheiro para tomar um bom banho...

É, teria sido bom, se o maldito chuveiro do apartamento que havia ACABADO de se mudar não tivesse simplesmente queimado enquanto tomava uma ducha quentinha, quase fazendo sua alma sair do corpo quando a cascata de água congelante desceu cortando sua pele. Cara, como ele odiava o frio...

Com seu banho arruinado e tendo que terminá-lo pelas beiras com a cara e a coragem de um H o M e M a D u L t O, já completamente mal humorado, porque ele realmente detesta o frio, decidiu tomar café na padaria de frente ao prédio, com medo de, sei lá, sua cozinha explodir.

Se César acreditasse em signos, estaria convencido de que estava vivendo um inferno astral.

Ao menos, seu café foi tranquilo, até uma das moças que trabalhavam lá derrubar um copão de suco de laranja em seu colo, arruinando uma das suas camisetas favoritas. A moça ficou extremamente envergonhada e pediu perdão pelo menos umas trinta vezes, mas o garoto já estava tão desiludido com a vida que parecia até não se importar, tentando tranquilizá-la e apenas indo embora, depois de pagar pelo que havia consumido. É, talvez não fosse mesmo seu dia de sorte.

Dia de Sorte - Joesar auOnde as histórias ganham vida. Descobre agora