00 | prologue

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NO VERÃO DE 1992 você se pegou imaginando beijar sua personagem literária favorita, Dorothy, quando tinha doze anos. E por causa desse pensamento repugnante, você jogou o livro em uma caixa de papelão que estava escrito doação em caneta preta.

Você nunca pensou em tal ato — beijar mulheres, ou homens beijando homens —, para você isso não passava de um distúrbio mental ou uma provocação para aqueles que vão à igreja.

Porém com o passar do tempo, talvez dois anos, você soube bem, depois de estudos precisos, que aquilo era estranho para todos.

Mas as coisas para você sempre foram estranhas. Talvez pelos diversos comentários sexistas vindo de seu pai, ou o assédio que recebe de diversos homens quando você caminha na rua.

Talvez pela surra que recebe do seu pai, quando você saí com seu amigo ou quando faz algo que não o agrade.

Você sempre soube que homens não estavam na sua lista de coisas que você gostava. Nem mulheres estavam na lista, mas você acabou adicionando quando realmente percebeu que não poderia fazer muitas coisas além de se aceitar.

As vezes vinha a fase da depressão e mutilação, onde você se odiava inteiramente: a auto aversão de si mesma. O nojo que sentia ao se ver no reflexo do espelho fazia com que você vomitasse até sentir o gosto metálico na sua boca.

Com o tempo essa dor acabou sendo sugada do seu corpo, quando você teve a decência e confiança em contar para o seu melhor amigo sobre isso. Apesar de você achar que ele também é gay — o que ele nunca respondeu abertamente.

Hoje, você quando acordou as cinco da manhã, percebeu rapidamente que não estava se sentindo muito bem. O inicio da depressão e auto aversão: cansaço. Seguido por insônia, tristeza severa e baixa autoestima.

Como um jogo programado, você se vestiu como de costume, preparou o café da manhã para seu irmão, o acordou as seis e meia e esperou ele se arrumar e comer, enquanto você fazia o lanche escolar dele.

Tudo isso porque sua mãe está trabalhando 24hs, e seu pai comendo alguma vadia em motéis baratos.

— Billy boy, se não vir agora, quando voltarmos para casa você não vai comer sorvete!

O garoto de nove anos saiu do quarto que compartilha com você correndo. Por causa de sua pressa ele acabou batendo no armário de troféus de boliche e baseball de seu pai — o que acabou fazendo com que um deles caísse no chão e se quebrasse ao meio.

Um suspiro trêmulo saiu do seus lábios, já que quem teria de pagar seria você, e Billy sabia disso. Então ele a olhou, fazendo beicinho com os lábios trêmulos, esperando os xingamentos que você daria a ele. Mas você não fez.

— Me desculpe, Sn...

— Tudo bem, Billy. — você disse, enquanto pegava do chão o troféu de baseball e o deixava sobre o armário marrom desgastado, para que seu pai visse e não fosse pior para você do que esconder.

— Por favor, Sunny. Me desculpa, me desculpa... Por favor...

Você agarrou o braço do garoto e o abraçou, sabendo que futuramente, por conta das ações de seu pai, ele criaria um trauma enorme. Mas você estará lá para ajuda-lo em tudo.

— Está tudo bem, Billy Boy. Vamos antes que eu me atrase.

E com um simples aceno de cabeça vindo dele, você dois saíram de sua casa bastante velha, e foram em direção ao seu carro: um Cadillac preto usado — qual você pagou com muito trabalho e suor.

No carro, as janelas estavam totalmente abertas, fazendo com que seu cabelo esvoaçasse pelo seu rosto. Enquanto você cantarolava junto do seu irmão a música dos Eagles; Hotel Califórnia. Essa com certeza é sua música favorita, por conta do seu irmão gostar também.

Cerca de cinco minutos andando de carro rapidamente, você chegou na escola primária do seu irmão. E antes que ele saísse pela porta você deixou um beijo em seu cabelo, seguido de um 'boa sorte, e eu te amo', como em todos os dias.

Você esperou para que ele entrasse no grande edifício de tijolos meio alaranjados, para que você pudesse arrancar com o carro e ir para a escola que ficava a seis quarteirões de onde você estava.





TIME SKIP






Você correu pelos corredores, passando pelo meio de todos os adolescentes, tombando em alguns. Antes de entrar na sala de literatura avançada, você acenou para o garoto platinado que estava escorado em seu armário.

Ele acenou rapidamente antes de ver você entrar na sala quase cheia de Sibila Trelawney, você ficou em sua carteira normal, ao lado da janela assim poderia respirar normalmente.

Não demorou para que a mulher mais velha entrasse e colocasse suas coisas na mesa ao meia da sala. Todos da sala ainda conversavam, sem dar a mínima para ela, o que ela não ligou, já estava acostumada.

— Alguém leu O Retrato de Dorian Gray? Que eu passei na semana passada? - A professora disse, deixando a sala silenciosa após sua pergunta.

Com nervosismo você levantou a mão, deixando-a perto de seu rosto. A senhora de óculos e cabelos desgrenhados deu um meio sorriso para você, com um olhar reconfortante.

Já que você acabou sendo a única que realmente leu o livro.

Sua relação com todos os professores sempre foi ótima, sendo a favorita de quase todos; já que sempre manteve a boca fechada em momentos importantes, presta atenção em todas as aulas, se esforça nos estudos e os ajuda a guardar as coisas quando acaba as aulas.

— Sim, eu li. Sra. Trelawney. - você sussurrou, alto o suficiente para que ela ouvisse.

— Não sabia que a idiota gostava de livros gays.

A frase debochada do ruivo acarretou risadas altas dos adolescentes que estavam na sala. Você e Sra. Trelawney sendo as únicas sérias.

— Sr. Weasley, comporte-se ou irá para a diretoria.

— Não é chocante para ninguém que você não saiba ler, Ronald. Talvez seja por isso que você está aqui há dois anos.

Sua voz baixa e divertida ecoou pela sala de aula, deixando ela num silêncio entre risadas abafadas dos seus colegas.

Você virou sua cabeça só para ver o rosto do ruivo se contorcer de raiva, enquanto ele gesticulava algo com as mãos, que você não viu porque virou-se novamente.

O que você não sabia era que ele tinha gesticulado socos em sua própria mão. A única resposta seria que ele bateria em você... Não só ele, mas seus amigos; Harry e talvez Hermione.







━━ notas.

01. A história se passa em 1997, em uma época com bastante preconceito, homofobia, etc. Então eu sinto muito se você já passou por algo parecido, não foi minha intenção relembrar.

02. Como escrito anteriormente, na história vai ter bastantes gatilhos.

03. Não terá bruxos na fic, por que, apesar de eu ter escrito 'family issues' eu não sabia muitas coisas sobre o mundo mágico, então decidi escrever algo mais simples.

04. Se você passa sobre isso, e precisa conversar, me chame que eu tentarei responder e ajudar ao máximo. Caso não queira conversar comigo, contate o 188 (centro de valorização da vida).

05. Não quero desrespeitar ou sexualizar ninguém, eu os amo imensamente. E bem, isso é só uma fanfic - uma historia ficcional, de fã para fã.

𝗦𝗘𝗗𝗨𝗖𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗗𝗘𝗦𝗧𝗥𝗢𝗬 ─── narcissa malfoyDonde viven las historias. Descúbrelo ahora