Uma Noite Feliz

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Parte I — A Casa.

    Na pequena cidade de Asheville, Carolina do Norte, uma simplória família alegrava-se diante a perspectiva de um tradicional festim. A pequena casa ribombava com o frenesi das ligeiras pegadas. O pai, que era um franzino de baixa estatura, tinha de fazer muitas viagens para empilhar, ao canto, todas as malas.

    — Tate, é contigo — o pai disse ao mais moço quando depositou a última. O garoto imediatamente seguiu a deixa do pai, se jogando sentado na mala entreaberta. O pai então, com certo esforço, conseguiu puxar o fecho.

    Tate Baxter sempre fora o mais obediente dos três irmãos, e o mais delicado também. Seu contraste era a irmã do meio, que parecia ter prazer em desafiar os pais. Tate tinha uma vaga suspeita do porquê sua irmã agia de forma tão rebelde, e essa suspeita começou quando completou onze anos, e a viu, deliberadamente evitar ser vista pelos poucos convidados.

    Zoey nunca se conformou com a classe social a qual nasceu. Odiava o fato de a mãe ter de comprar suas roupas num brechó, e odiava o fato de o pai andar sempre fedendo a peixe. Em seu aniversário de quinze anos, implorou, a todos pulmões, um kit de costura. Seu desejo fora concedido, e há dois anos vem fazendo reformas em suas roupas, para que, em suas próprias palavras, pudesse ''andar menos como pobre.''

    Suas atitudes não passavam transparentes diante os olhos dos pais, que apesar de desgostosos, não protestavam. Contudo, agora, Zoey era a mais radiante e proativa. Aquela viagem a faria se sentir como sempre quis.

    Josh era o irmão mais velho e ídolo de Tate. Com vinte e um anos, morava no campus de sua faculdade, do outro lado do país. Suas visitas eram limitadas aos finais de ano, então Tate compartilhava um pouco da energia radiante de Zoey.

    — A lareira é grande? — Tate perguntou ao pai.

    — O suficiente para esquentar a todos.

    — E terá decorações?

    — Sim, mas nós mesmos teremos de pôr.

    — E gemadas?

    — Prepararemos.

    — E...

    — Terá, Tate — interviu Zoey. — Estaremos em uma mansão. Terá de tudo!

    Josh, que ajudava a mãe a guardar o pouco de comida em diversos potes colocou sua cabeça por cima da divisa da cozinha e falou:

    — Espero que esse bom humor também.

    — Que quer dizer com isso?

    — Você sabe muito bem!

    — Crianças! — agora foi a vez da mãe intervir numa exclamação. — Guardem o mau ânimo para janeiro. — Virou-se para o pai, que recostava o semblante fatigado na parede. — Alfred, querido, a prescrição de Tate é para hoje.

    — Não poderei. Tenho de ir à peixaria buscar o cheque e assinar o ponto. Zoey irá.

    — Por que eu? — protestou a menina. — Josh está logo ali.

    — Josh me ajudará a levar os potes para a vizinha guardar — disse a mãe.

    — E por que não simplesmente deixamos a geladeira ligada?

    — Porque não temos o luxo de meu irmão — retrucou o pai firme. — Temos de abraçar toda oportunidade de economia.

    O caçula observava tudo calado, ainda sentado sobre a tosca mala esfarrapada. Sabia que em dado momento a palavra recairia contra si. E foi dito e feito:

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