Capítulo 1

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 - Por onde eu começo? - Namjoon suspirou dramaticamente, enquanto observava os quadros do consultório da nova psicóloga. - Você já tem todas as informações básicas, né? Mas vamos lá, porque espero que essa consulta termine o mais rápido possível. Tenho uma exposição que quero muito ir antes de começar a trabalhar hoje a tarde e acredito que você também possa fazer alguma coisa útil com os minutos que sobrarem. Você é a quinta psicóloga que meus pais me obrigam a vir e, honestamente, não estou interessado em melhorar nada. Na verdade, é óbvio que eu tenho um milhão de coisas para melhorar. A gente vive em uma sociedade pós-moderna em que todos os jovens têm, no mínimo, ansiedade. E eu não seria diferente. Mas a questão é que meus pais não querem que eu procure um psicólogo para tratar da minha saúde mental, eles me obrigam a vir porque acham que é a única forma de curar uma esquizofrenia que juram que eu tenho. Mas eu não tenho. Me entende? Eu já fui em psiquiatras e todos me diagnosticaram com sei lá o quê, tomei vários remédios. Juro, tomei quase todos os remédios possíveis e nenhum mudou nada.

A mulher de olhos e cabelos escuros continuava em silêncio. Namjoon se irritava um pouco com o processo de atendimento psicológico, porque queria desesperadamente que alguém conversasse com ele. O problema era que se sentia em um monólogo com apenas breves interrupções quando a psicóloga lhe fazia alguma pergunta ou sugeria alguma coisa.

- Tudo começou quando eu era criança - continuou, já que não obteve nenhuma reação. - Sabe aquela fase que todo mundo tem um amigo imaginário? Pois é... De repente, um apareceu para mim. Não lembro disso direito, mas meus pais me disseram que um dia eu estava no carro e comecei a falar sobre um amigo que estava do meu lado no banco detrás. Segundo eles, quando me perguntaram, descrevi o menino imaginário da forma que ele era: cabelos brancos, magro, rosto alongado, nariz afilado e tudo isso. Então eu continuei a conversar com o garoto e nunca mais parei - pausou, esperando que a mulher lhe falasse algo, mas não teve resposta de novo. - Você não vai dizer nada? Fico um pouco agoniado com essas coisas... Onde eu estava?

- Você estava me contando sobre descrever o amigo imaginário - ela respondeu, por fim. - Disse que nunca mais parou de vê-lo.

- Ah, é mesmo - Namjoon riu, nervoso. - O amigo imaginário nunca mais desapareceu. Converso com ele desde então. O nome dele é Hoseok e o conheço como se fosse meu melhor amigo, porque é basicamente isso que ele é. A história está soando estranha. Eu sei disso porque só agora que você mostrou alguma reação. Enfim, vou continuar porque quero ir embora cedo. O Hoseok cresceu junto comigo, tem a mesma idade que eu, nasceu no mesmo dia. Mas ele só aparece quando estou sozinho, sabe? Dentro do carro, no meu quarto, quando vou para o parque ler um livro, chego em uma exposição sem ninguém... Eu conscientemente sei que é esquisito e que é algo que eu deveria me livrar. Mas a verdade é que ele não me impede de fazer coisa alguma. Você não acha que eu já li centenas de artigo sobre esquizofrenia paranoide, psicose e todas essas coisas? Mas é como se eu tivesse crescido com um amigo e ficou por isso mesmo. Ele me dá conselhos, a gente conversa... E eu sigo minha vida normalmente. Tive alguns relacionamentos amorosos, tenho outros amigos, saio todo fim de semana, me formei na faculdade de Publicidade como um dos melhores da minha turma, trabalho como cooordenador de marketing de uma rede de livrarias. Fiz tudo isso e ainda tenho 25 anos. Meu único problema de verdade são minhas crises de ansiedade, o que sei que tenho que tratar, mas até nisso ele me ajuda às vezes.

Namjoon olhou para o relógio na sua frente. 10h30min. Se saísse naquele momento, chegaria em meia hora na exposição que celebrava os 100 anos da Semana de Arte Moderna brasileira. As ruas ainda não estavam com tanto trânsito. Poderia passar um tempo no lugar e estaria no trabalho às 13 horas. Almoçaria com tranquilidade. Seu expediente costumava ser à tarde, porque a livraria funcionava até o fim da noite. Por causa disso, havia dois coordenadores que alternavam os turnos.

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