Take the call, Pete.

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Eu não gosto dessa casa.

Faz uma semana que eles me deixaram aqui aos cuidados dos Theerapanyakul, mas todos os dias eu ainda tenho a mesma sensação de medo e desconforto quando percorria os cômodos inabitados. Talvez fosse a decoração vitoriana que dava a mansão um ar ainda mais sombrio, ou então o clima de abandono que fazia tudo frio e silencioso. Apesar de todos os meus apelos para não ficar aqui, não sou nenhuma maldita criança e posso cuidar de mim mesmo, foi o que faltei dizer a eles, nada foi suficiente, meus pais não aprovaram a ideia. Segundo eles, era mais seguro ficar com pessoas que pudessem cuidar e me proteger. Agora me pergunto, proteger de quê? Do risco inexistente de eu fazer uma festa cheia de coisas ilícitas enquanto eles estão fora? Por Deus. Não quero contrária-los, mas não acho que o local mais seguro pra mim seja aqui.

Meus pais eram muito próximos dessa família, mas eu sempre me mantive longe o máximo possível. Meu subconsciente alertava, como uma placa de perigo, que eu deveria ter cuidado com essas pessoas. No entanto, aqui estou. Eles não podiam arrumar outra forma de me foder? Um colégio interno na Suíça, talvez?

Enquanto descia as escadas, parei para observa um dos muitos quadros que decoravam as paredes cinzas. A família Theerapanyakul estava eternizada sob tinta naquela obra, o Sr. Theerapanyakul ao lado de sua esposa, Anita, que trazia um sorriso enorme nos lábios. Macau, o filho mais novo, estava ao lado da mãe sorrindo abertamente assim como ela. Vegas, por outro lado, mostrava uma cara de muitos amigos, como se estivesse odiando fazer parte aquilo. Olhando, eles eram apenas uma família tradicional tailandesa, exemplo a ser seguido. Não fosse a realidade ser completamente diferente, porque nem tudo que reluz é diamante.

Assim como a maioria das famílias aristocratas de Bangkok, eles eram uma farsa. O Sr. e a Sra. Theerapanyakul estavam juntos por conveniência, e o que estava em jogo eram títulos e patrimônios. A relação com o filho mais novo era a única exceção no meio desse jogo de poder. Mas Vegas? Vegas era o rejeitado, que servia apenas para reencher a lacuna de família feliz. Apesar de tudo, ninguém comentava sobre isso dentre a elite de empresários, milionários e políticos, pelo menos não abertamente. Eles atuavam bem para manter os pobres atrás das cortinas. Pássaros em gaiolas de ouro.

- Você vai ficar quanto tempo admirando esse quadro? Se gostou, leve com você. - A voz grave soou me fazendo tremer pelo susto.

Voltei meu olhar para cima e encontrei Vegas parado no topo da escada me encarando, suas mãos nos bolsos da calça moletom lhe davam um ar entediado. E ele estava, como sempre, com aquela postura perfeitamente alinhada. Não precisa chegar perto para saber que não tinha um fio de cabelo sequer fora do lugar. Não sei explicar o porquê, mas Vegas é extremamente cuidadoso ao ponto de ser perfeccionista. Ele é assim desde criança.

Desci o olhar por seu corpo, os braços fortes estavam desnudos pela camisa regata preta, exibindo a pele tão branca como leite. Olhei para seu rosto agora, ele ainda estava me encarando diretamente como se quisesse descobrir todos os meus pecados. Imediatamente desviei o olhar corando por ter sido pego observando-o daquela maneira, dando-lhe as costas terminei de descer a escada rapidamente desaparecendo rumo a cozinha.

A noticia ruim? Talvez o alerta de perigo tivesse nome e sobrenome: Vegas Theerapanyakul.

Ele era mais alto que eu. Mais velho que eu. E ainda estudava no mesmo colégio que eu. Ou seja, eu o via com alguma frequência e agora estava dentro da casa dele. Vegas é extremamente perturbador, sua aura sombria e seu excesso de autoconfiança de algum modo mexiam comigo, e isso, me irritava pra caralho. A pior parte é que ele sabia disso. Vegas fareja medo e se alimenta dele. Se ele puder tirar minha sanidade, ele fará, sem nenhum pingo de remorso por isso. Eu o odiava com todas as minhas forças. Ou pelo menos, eu tentava.

Take the call, Pete. - VegasPete [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora