Solidão ou Solitude?

Não sei se foi  minha essência que se alterou, ou se a preferência das pessoas mudaram, mas não consigo me sentir desejada em nenhuma das ocasiões.

Quando você percebe que nenhuma garota nunca chamou seu nome com a voz aveludada acompanhada de suspiros de amor, a crença de que esse cenário nunca fará parte da sua história cresce cada dia mais. E quando não se é desejável, algumas coisas passam a se tornarem questionáveis, afinal, porquê logo eu de tantas outras garotas? Talvez faltasse tinta na caneta quando Deus decidiu escrever sobre minha vida amorosa, deixando essa responsabilidade apenas para mim, e bom, ele deve sentir muito em saber o quanto tenho falhado.

Tentei convencer à mim mesma que se eu me sentisse completa sozinha, jamais sentiria a dor do vazio preenchendo meus pulmões. Então sustentei-me nessa falácia por vários outonos, até perceber que o som das folhas deixando as árvores e alcançando o chão eram mais vivos do que a minha vontade de estar sozinha. E Infelizmente até então minha própria companhia nunca me beijou até me sufocar ou fez questão de me fazer sentir importante, mas de qualquer maneira, eu não tenho sido a única que falhou nesse quesito.

Posso jurar que nunca fui exigente, nunca. Apenas desejei ter ao meu lado alguém que me fizesse arder como fogo e que queimasse junto à mim nesse inferno, mas nem mesmo as chamas mais pequenas se atreveram a me queimar.

Eu tenho um sabor único, um cheiro inesquecível, um toque célebre e uma voz memorável, sou como a companhia das flores, o agrado de um gato, a lâmina de um canivete, a acidez de uma laranjada e os pontos de costura de um remendo, mas apesar dos meus esforços, nada disso nunca foi o suficiente para que alguém me olhasse com outros olhos.

Absolutamente tudo que alcança meu olhar faz com que eu me sinta só, não há uma única só vez que eu admire a Lua sem pensar no quão esse mísero satélite é confortado com o brilho do Sol todos os dias, e que mesmo sendo ofuscada por tantos outros astros maiores e majestosos, nunca perde o brilho que a maior das estrelas tem a lhe oferecer. E as vezes me pego rezando para que algum dia eu possa ser como a Lua, cercada de estrelas, mas que vive através do abraço da maior delas.

Sinto que até o dia da minha morte permanecerei só, deitarei em meu leito de morte sem que ninguém segure a minha mão molhada de lágrimas, sem histórias para relembrar em meus ouvidos ou quaisquer lábios tocarão meu rosto em despedida. Serei coberta de rosas e não terá ninguém que irá se opor e lembrar que sempre amei girassóis, e em meu sepultamento, não haverá quem fique me esperando voltar com promessas a cumprir. Vagarei então pelos reinos do céu procurando alguma alma que por fim poderá me amar.

Me sinto culpada por tudo isso, pois depois de tantas desilusões, cheguei a conclusão de que meu futuro não será virtuoso uma vez que meu presente é miserável, pois me sinto assim, miserável, vazia de valor, sem nada que me faça ser amada, sem qualidades que me façam sentir desejada, nada que traga à minha pessoa qualquer fator positivo que trouxesse alguém para minha vida.

E mesmo apesar de todas essas lamentações, meu coração ainda bombeia o desejo de ser amada para todas as partes de meu corpo, pois essa é a sensação que mais almejo sentir, sentir que alguém se sente confortável com minhas carícias, que retribui meus beijos e me abraça todas as vezes como se estivéssemos em despedida, que soubesse exatamente quais partes do meu corpo beijar e que me olhasse como lâminas cravadas em meu peito, em tese, sentir que alguém me amasse mais do que qualquer paixão jovial.

Pouco se discute sobre a solidão de quem vive sem um amor, pois até mesmo a gravidade machuca quando não se tem alguém que te leve as alturas. Todos os toques vazios e maliciosos passam a se tornar dolorosos, e todos os beijos anônimos se perdem em memórias, mesmo pela gratidão que meu coração aflito gera pelas garotas esquecidas que saciaram parte da minha sede de me sentir desejada.

E em algumas ocasiões, mesmo quando se cria relações vazias de sentimento, basta entender como a outra pessoa ama, entender suas linguagens de amor e suas demonstrações. Mas em outras ocasiões, é importante perceber quando alguém apenas não te ama, e até então, ninguém nunca me amou ou me fez sentir amada.

Talvez tudo isso seja apenas lamentações de um coração ingênuo que não soube lidar com as frustrações do primeiro amor, talvez eu seja tão insegura e dependente que não consigo me conceder o mínimo de valor, mas é claro, tudo isso são apenas suposições, ser honesta nunca combinou com minha estética.

Quem sabe eu não esteja apenas a alguns passos de conhecer alguém que saberá me amar e entenderá minhas imperfeições, e quem sabe eu não descubra que esse alguém sou eu.

O processo de cura é lento de doloroso, e após tantos traumas seguidos e intermináveis o caminho parece cada vez mais longo, mas no fundo, rezo para que eu me sinta feliz algum dia, que a vida esclareça minha solidão, e que essa por sua vez se torne solitude.

Hoje me deito todos os dias sob o luar esperando que em algum futuro não tão distante alguém me ame tanto quanto a Lua ama o Sol, e que seus suspiros de amor por mim sejam eternos.