Prólogo

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Chris
Eu sempre achei a vida curiosa e um tanto engraçada. E o motivo desse meu pensamento é o fato de a vida ser tão imprevisível e da gente nunca saber como nosso dia vai terminar. Eu tinha um sonho recorrente quando criança em que existia uma espécie de robô que ficava ao lado da minha cama e quando eu acordava ele me dizia se meu dia seria bom ou ruim. Eu sei que é um sonho estranho e nem sei o porquê comecei a tê-lo, mas talvez um sistema que conseguisse prever as situações da sua vida não fosse tão ruim assim, porque uma das mais odiosas verdades é que quando você acorda no pior dia da sua vida, você não sabe que aquele vai ser seu pior dia.

Eu definitivamente não sabia. Era uma sexta-feira e eu era um adolescente de 15 anos que acordou animado porque era meu último dia de aula antes das férias de verão. Já conseguia imaginar um verão cheio de curtição com os meus amigos, banhos de piscina e tempo de sobra com minha família e não poderia estar mais ansioso para aquilo.

Me arrumei em tempo recorde e desci as escadas correndo em direção a cozinha. Encontrei meu irmão mais novo, Jonah, sentado à mesa, comendo uma torrada enquanto rabiscava algo no papel, provavelmente mais um dos seus muitos desenhos. Já Megan, minha irmã mais velha, desceu as escadas logo atrás de mim, parando apenas para pegar uma torrada e gritar que estava atrasada para a faculdade, enquanto saía porta à fora. Mamãe riu da atitude dela, mexendo algo no fogão, e sussurrou algo como "O dia que essa menina não estiver atrasada, vai cair um temporal."

Papai não estava em casa. Ele tinha uma empresa de construção de piscinas e, às vezes, fazia longas viagens para conhecer clientes e organizar obras. O vaso com a rosa vermelha sobre o balcão da cozinha era prova de que ele havia partido de madrugada. Ele cultivava um jardim de rosas vermelhas em nosso quintal e sempre que precisava sair muito cedo, geralmente sem se despedir de minha mãe, ele colhia uma e a deixava na cama, no lugar onde ele dormia, com um bilhetinho escrito a mão.

- Bom dia, mãe. - Falei, me aproximando dela e beijando sua bochecha. - Papai já saiu?

- Bom dia, filho. Saiu era por volta de quatro e meia, diz ele que queria estar no local da obra até as nove para poder voltar pra casa hoje ainda.

- Papai precisa desacelerar um pouco e descansar.

- Falo isso com ele todo dia, Chris, mas você conhece seu pai.

Minha mãe terminou o que estava fazendo no fogão e se juntou ao meu irmão à mesa. Não demorei a me servir com ovos mexidos e torrada e sentei-me com eles, devorando meu café da manhã rapidamente. Me despedi de minha mãe e peguei a mochila, saindo de casa. Hannah já estava me esperando, encostada no portão de sua casa, parecendo entediada. Ela era minha melhor amiga e nós nos conhecíamos desde os três anos de idade.

- Estamos à pé hoje? - Perguntou antes mesmo de me dar bom dia e eu ri, assentindo.

- Papai está viajando e Meg saiu atrasada para a faculdade.

- Nada de novo então. - Ela disse e eu concordei, caminhando ao lado dela. - Animado para o verão?

- Muito. Algo me diz que esse verão vai ser diferente de tudo que eu já vivi. E você?

- Não muito. Você sabe que não ter aula, significa que eu vou ter que passar muito tempo em casa, o que é sinônimo de brigas e gritos e xingamentos.

Os pais de Hannah estavam se separando e não estava sendo um processo fácil, o que fazia com eles vivessem discutindo. Eles diziam que ainda estavam morando juntos por causa dela e de seus irmãos, mas não conseguiam perceber que eles estavam destruindo os filhos aos poucos.

Esse tipo de amor...Donde viven las historias. Descúbrelo ahora