O Toque de Suas Mãos - TodoDeku

Único

Os movimentos repetitivos ao varrer o chão levavam os cabelos recém cortados para o lado, onde uma pazinha estava posta para recolhê-los. Todoroki estava terminando de juntar os fios de seu último cliente quando o sininho da porta do salão soou. 

— Desculpe, mas nós já fech- — Começou a falar, porém quando se virou para o recém chegado, encontrou um rapaz de cabelos esverdeados encostando a porta atrás de si. — Oh, Midoriya. Boa noite. 

O baixinho murmurou uma saudação e se aproximou do bicolor, suas mãos em frente ao corpo enquanto brincava com os próprios dedos. — Todoroki-kun, desculpe te interromper, eu sei que você já está de saída e já vai fechar… Mas eu precisava dar um jeito no meu cabelo, as crianças da escolinha me pegaram desprevenido e acabaram bagunçando tudo e não tinha mais ninguém aberto, então pens-

— Ei, Midoriya, calma. — Shouto interrompeu a murmuração sem fim do rapaz, deixando a vassoura de lado e pondo uma mão sobre o ombro alheio. Os olhos esverdeados se levantaram para o maior, que sorriu mínimo diante a face enrubescida do mesmo. — Eu posso arrumar ele pra você. 

— Sério mesmo? — Exclamou com os olhos brilhando, recebendo um sutil aceno de cabeça por parte do outro. — Obrigado, novamente peço desculpas por incomodá-lo além do seu horário. 

Izuku não sabia, porém Todoroki não se incomodava nenhum um pouco em ter que atender o rapaz naquele momento. Já fazia um bom tempo que nutria sentimentos por ele, desde o dia em que ficara responsável por seu sobrinho e teve que buscá-lo na escolinha. Sempre que conseguia um tempo livre, fazia questão de pedir a irmã que o deixasse ir até o local de trabalho de Midoriya, usando o garotinho como desculpa apenas para poder conversar com o esverdeado. 

Shouto pediu que o rapaz se sentasse na cadeira e foi até a porta, virando a plaquinha de "Fechado" e descendo a persiana, assim ninguém mais entraria no salão e ele poderia tratar tranquilamente de seu último cliente. 

— Então, como vai querer o corte? — Perguntou assim que se aproximou do outro, segurando sua cabeça gentilmente para deitá-la no encosto. 

— Hm, eu não queria mudar muito… Será que tem como só corrigir o que as crianças fizeram? — Respondeu sorrindo sem graça, fechando os olhos quando o bicolor ligou o chuveirinho e começou a molhar os seus cabelos. 

— Tudo bem, eu posso fazer isso. — Sorriu orgulhoso, pegando um potinho de shampoo e passando no outro. 

As mãos de Todoroki tinham tamanha leveza que Izuku sentiu-se totalmente relaxado, os dedos finos massageavam de forma tão gostosa que o esverdeado deixou escapar um suspiro de contentamento, fazendo-o corar por tal. Olhou de relance para o maior e parecia que o mesmo não havia notado, deixando-o um pouco aliviado. 

Após terminar de lavar adequadamente as madeixas de Midoriya, Todoroki pegou uma toalha felpuda e deu uma enxugada nos fios, levando o rapaz para se sentar na outra cadeira de frente para o espelho. Colocou a capa preta no menor e começou a analisar a situação dos cabelos esverdeados. 

— Brincaram bastante aqui, né? — Comentou segurando algumas mechas do outro, o encarando pelo espelho. — Como deixou isso acontecer? Seu cabelo é tão bonito. 

— A-ah, eu estava sentado com as crianças, no chão mesmo. Aí Kacchan e Kirishima vieram por trás, não pude fazer nada. — Respondeu com o rosto corado, tentando ignorar o elogio que o outro fizera. Sentia-se estupidamente bobo por ficar tão tímido diante a presença alheia, era apenas Todoroki ali, o cabeleireiro que sempre o visitava em seu trabalho e que acabara nutrindo uma certa paixonite pelo mesmo. Porém nunca dissera nada por se achar insuficiente para ele, então iria sempre manter em segredo. 

— Eu me lembro desse "Kacchan", Bakugou, não é? Me recordo de tê-lo visto gritando com os colegas uma vez. — Resmungou com a tesoura em mãos, já cortando os fios esverdeados do rapaz. — Um verdadeiro pestinha. 

Midoriya teve que rir do comentário alheio, fechando os olhos no processo. Quem usava a palavra pestinha hoje em dia? 

Todoroki continuou o seu serviço, trocando algumas conversas com o outro enquanto isso. Quando terminou, o bicolor ajeitou os cabelos de Izuku da maneira que o mesmo gostava, deixando os cachinhos bem fofinhos e levemente bagunçados. Havia ficado um pouco mais curto do que o costume, porém Midoriya não reclamou e parecia ter gostado do jeito que estava. 

Tirou a capa do mesmo e a deixou de lado, limpando alguns poucos fios que caíram sobre o esverdeado. 

— Pronto, o que achou? — Questionou deixando as mãos sobre os ombros do menor, lhe encarando fixamente pelo espelho. 

O toque de Shouto sobre si o deixava desconcertado, e com aquela mirada tão profunda, que parecia estar repleta de sentimentos, Izuku ofegou de leve, baixando o olhar para as próprias mãos e sentindo o rosto queimar. 

— Midoriya? — O bicolor chamou, inclinando-se para que pudesse ficar próximo ao outro. Girou a cadeira para que o menor ficasse de frente para si e segurou em seu queixo, fazendo-o olhar em seus olhos enquanto sua outra mão ia até a testa do mesmo, jogando alguns fios para trás. — Está se sentindo bem? 

— Todoroki-kun, eu… — Começou a falar, sua voz sumindo em um mísero murmúrio. As mãos trêmulas foram de encontro ao braço do outro, a respiração ofegante batendo contra a sua pele. 

Num ímpeto de coragem - que ele não sabia de onde tinha vindo -, Midoriya o puxou para mais perto, fazendo assim com que seus lábios se encontrassem. O bicolor arregalou os olhos, surpreso com a ação do menor. Ficaram cerca de cinco segundos naquele simples selinho, e logo o esverdeado se afastou. 

— Meu Deus, me desculpa Todoroki-kun, eu não pensei direito. Você estava tão perto que eu não consegui resistir. — Começou a gesticular de maneira afobada, atropelando as palavras pelo nervosismo enquanto desviava o olhar para qualquer canto que não fosse o meio ruivo. — Aah, eu estraguei tudo, me desculp-

Shouto não quis mais ouvir os pedidos bobos do rapaz e uniu novamente suas bocas, dessa vez já pedindo passagem com a língua, o qual fora cedida alguns milésimos depois. 

Izuku fechara os olhos com força, deixando o maior ditar o ritmo do beijo tão ansiado por ambos. O bicolor levou sua destra até a nuca do outro, fazendo carinhos nos cabelos macios do mesmo. Sua língua brincava de maneira gentil com a do outro, dando leves sugadas vez ou outra. 

Midoriya soltava suspiros ocasionais, sentindo-se nas nuvens com toda a delicadeza que o maior tinha consigo, adorando a sensação calorosa do mesmo. 

— Por favor, não peça mais desculpas. — Todoroki sussurrou assim que se separaram, deixando as testas coladas. Um sorriso satisfeito estava presente nos rostos de ambos. — Quer sair pra jantar? 

— Eu adoraria. — De olhos fechados, Izuku sentiu o rapaz lhe afagar a bochecha, deixando um beijinho na ponta de seu nariz antes de se afastar. 

Talvez, apenas talvez, agradeceria a Bakugou e Kirishima por terem estragado o seu cabelo, pois assim pudera finalmente ter alguma coisa com o rapaz que ocupava boa parte de seus pensamentos.