Un jour, peut-être

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      O GRANDE PRÊMIO DE MÔNACO finalmente tinha terminado e agora eu estava livre. Tinha mais ou menos duas semanas para descansar e pensar em coisas que não fossem fotos, arquivos de fotos, câmeras fotográficas e meus chefes repetindo coisas como "Não, Gabrielli, ainda não estão boas, tire mais". Chatos.

Não sabia exatamente o que esperar do tempo que ficaria em Amalfi, porque estar de volta na comuna sempre proporcionava experiências inusitadas e daquela vez não seria diferente, mas eu precisava refrescar os pensamentos. Gostaria de dizer que não fazia ideia de quando tudo aquilo, estar no meio dos carros, registrar dos menores detalhes aos maiores acontecimentos sob a visão dos meus olhos apaixonados, conversar com os pilotos e assistir as corridas de camarote e praticamente ser paga para isso, se tornou um tormento, mas eu sabia bem.

Podia mentir para quem quer que fosse, menos para mim mesma.

Depois do rompimento com Charles, que não foi lá muito agradável, a atmosfera da Fórmula 1 se tornou espessa, quase cansativa. Porque tudo ali girava em torno dele e de mais dezenove pilotos, e não era fácil resumir sua existência a nada quando Charles estava sempre zanzando pelo paddock e dando entrevistas para canais esportivos. Pelo menos um fotógrafo oficial da Fórmula 1 precisava estar presente e a escolha de quem ia era quase uma roleta-russa, e ao que parecia eu tinha um alvo nas costas.

Mesmo quase três meses depois ainda doía. E doía bastante, por sinal. Levei muito tempo para decidir o que fazer e tive o coração quebrado em pedaços ao realmente precisar colocar um ponto final no relacionamento. Já que toda aquela situação com Charles estava me fazendo mal e machucando, nada mais justo comigo mesma do que ir por um caminho diferente ainda que continuasse gostando dele exatamente como no início.

E o começo do namoro foi tão incrível… Eu me sentia dentro de um conto de fadas e agora pensava que talvez estivesse mesmo dentro de um. Sabe, bom demais para ser verdade. Porque as coisas com ele foram mudando com o tempo: Charles se tornou distante, quase inacessível; de extremamente caloroso, esfriou; de alguém que vivia repetindo que eu era uma das coisas mais belas e importantes que haviam acontecido na sua vida, passou a ser alguém que não me priorizava mais.

E eu não me importava de dividi-lo com a Fórmula 1, afinal de contas era o que ele tanto amava e sabia fazer. Mas a sensação de não ser vista era meio sufocante e difícil de lidar. Então as pessoas na internet também perceberam isso e fui obrigada a concluir que a situação já tinha ido longe demais, porque se toda aquela gente tinha notado que havia algo errado, era porque realmente havia algo errado.

Levei semanas pensando nos passos que ia dar. Quando você termina um relacionamento com alguém, não faz isso do dia para a noite. A verdade é que o término é gradativo e uma junção de fatores que se tornam visíveis com o tempo; a conversa final é apenas a conclusão do processo doloroso.

E de vez em quando eu me lembrava daquele dia. Do quão decidida estava ao informar a Charles que estava cansada e queria terminar, de como fui irredutível mesmo diante do seu choque e posteriormente das suas lágrimas, da forma como quase fui engolida por aquele silêncio amargo quando ele percebeu que não valia a pena lutar. E isso quase me matou. Charles não enxergava um motivo para lutar e para ele estava tudo bem, no fim das contas.

Eu me lembrava ainda mais de como saira atordoada do prédio dele. Depois de segurar as emoções dentro do apartamento, das escadas e do elevador, desabei na calçada. Mal conseguia enxergar por conta das lágrimas e certamente estava fazendo um barulho horroroso com aquele choro que parecia sair das profundezas do meu coração. Entrei cambaleante no primeiro táxi que apareceu e chorei até a casa de Natalie.

Esperava que minha melhor amiga brigasse comigo, porque Natalie Chadman era dessas, mas não foi o que aconteceu. Natalie foi a melhor das melhores amigas quando me permitiu chorar e espernear o quanto eu quis e em momento algum me lembrou do que tinha dito assim que me conseguiu o emprego de fotógrafa: não se relacione com nenhum piloto, Alisia. Por favor. Tipo, nunca. Você vai se dar mal.

Rêveuse | Charles Leclerc ✓Where stories live. Discover now