Sessão 1 - Amor

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N/a: Não sei se terá mais capítulos, mas foi uma ideia que tive enquanto assistia a nova série de "Entrevista com o vampiro".

Sempre gostei muito do Lestat, fiquei um pouco chateada com a perspectiva da série sobre o personagem... Anyway, me forneceu ideias muito boas para explorar nessa fanfic. 

Legenda:
A narração que consta na entrevista/a parte gravada pela jornalista está em itálico.
Falas do Lestat e perguntas direcionadas à entrevistadora estão em negrito.
Falas da jornalista estão sem nenhuma alteração da escrita comum.

Desculpem se algo ficar confuso, escrevi quando estava febril a alguns dias.


~


Eu o amava. Talvez essa não devesse ser uma história de amor, mas é assim que é para mim.

Magnus foi meu criador, meu amante, meu castigo e minha vergonha. Eu não pude amá-lo como ele fizera comigo. Ele era um assassino e um torturador, um homem que estava em busca de um ideal impossível e do qual ninguém jamais poderia se igualar. Estava atrás de alguém que já havia partido a muito tempo.

Meu primeiro amor... O primeiro amor nem sempre é o mais intenso, no entanto, Nicky foi o sangue correndo por minhas veias e as batidas do meu coração. Era minha destruição e salvação. Era meu refúgio, meu vigor e minha alegria. Foi assim até o dia em que ele já não estava ao meu lado.

Agora, com Loius, me perguntei durante tanto tempo se aquele era o destino de todo criador: ser rejeitado por sua criação. Ser demonizado e desprezado. Abandonado e detestado.

Magnus me amou, como eu tenho certeza que amei Loius, embora soubesse que ele nunca seria Nicky. Quão assustador deve ser amar alguém que não o tem como o grande amor de sua vida? A pergunta continua a dar voltas em minha cabeça, mas eu imagino que Loius jamais entenderá. Quem dera ele entendesse. Quem dera ele se entregasse a mim da mesma forma como eu me esforçava para amá-lo, tão ardentemente como eu amaria aquele grande amor que perdi. Meu verdadeiro amor.

Será que era tão difícil entender? Ou era a similaridade dos sentimentos que o faziam se afastar de mim? Envoltos na mais extrema solidão da alma e da carne, nós deveríamos ser iguais. Embora eu soubesse que o que Loius sentia por mim não se comparava ao amor que esperei receber em troca, a raiva me consumiu por ser capaz de odiá-lo na mesma medida em que tentei trazer felicidade para o que construímos. E por ser capaz de odiar tão arduamente o amor que não senti. O amor que senti. A solidão que me acompanhou incansavelmente, me alcançando a qualquer momento, tornando da minha imortalidade o mais doloroso sofrimento.

Insatisfeito comigo mesmo, com o homem em minha cama, com a amante que escondi em outros quartos. Insatisfeito com o dinheiro e o luxo. Com a família. Com a imagem refletida no espelho. Com minha essência amarga que me faz explodir como uma estrela e desolar tudo ao meu redor.

Eu não sabia e ainda não sei o que almejo, deixei de conhecer a verdadeira vontade de meu ser nos anos que decorreram da minha transformação. Como é possível um ser infinito como um vampiro ser tão vazio?

O abandono deveria ser o menor de meus medos, mas a rejeição, a frustração que envolve o ato de não ser retribuído, de não ser agradecido e apreciado... É claro que a manipulação se tornou uma arma forte, as mentiras escapam da ponta de minha língua tão fluidas e fáceis como elogios e seduções.


— Está divagando — sua companhia suspirou, interrompendo-o.

— É fácil me perder nas memórias — O vampiro garantiu, fazendo um gesto de banalidade — Por favor, me traga de volta à realidade.

— Não acha que o que sente, ou sentia, por Loius se tratava de posse? — A mulher perguntou irreverentemente, fazendo os olhos de Lestar (que permaneceram perdidos no ambiente durante sua narrativa) se voltassem para ela com uma indagação silenciosa.

— Perdão?

— Não irei me desculpar pela pergunta, Lestat. Essa é uma entrevista, uma carta aberta... É o meu dever guiar os rumos, explorar os caminhos de sua narrativa — A jornalista ponderou, cruzando as mãos sobre as pernas, esperando as reações do vampiro virem à tona. Ele era tão passional que ela teria que se esforçar em tentar transmitir ao menos uma parte disso em sua escrita, embora ainda tentasse descobrir de que forma conseguiria conduzir sua entrevista se o vampiro persistisse naquele mesmo erro de divagar sem nunca amarrar os fatos uns nos outros.

— Eu amei Loius, sabendo que meu amor não seria compreendido por todos — afirmou, perdendo um pouco de seu ar sonhador e poético para dar espaço a uma defensiva de suas ações. Era impossível deixar de notar o quanto ele estava se contendo e escolhendo as palavras certas, por mais que fosse delicioso aceitar sua história sem contradize-la.

— Muitos dirão que um amor envolto em mentiras se reduziria a cinzas tão breve quanto o riscar de um fósforo — influenciou.

— E todos estes são hipócritas em afirmarem isso — O vampiro ralhou com uma nota de deboche e descontentamento. Ele desprezava a humanidade e qualquer um que se opusesse ao que estava dizendo, contudo... A jovem sentada a sua frente podia entender um pouco de sua revolta pelo mundo — A mentira é necessária, assim como os segredos e... A preservação de um 'eu' desconhecido aos olhos do outro. Quando mostramos nossa verdadeira face, sem preocupações com o que os outros veem, estamos definindo um resultado. Ninguém pode amar o monstro que se esconde sob as camadas de virtudes e autocontrole que construímos. Todos somos feios e miseráveis sem nossas armaduras de falsa bondade, modéstia e prazer.

— É uma visão pessimista para um amante tão bem sucedido — A mulher pontuou, sentindo sua pele se arrepiar com a risada de Lestat.

— O romance e a sedução são artes diferentes. Gostaria de aprender mais sobre isso? — perguntou, sorrindo de lado em mais um de seus cortejos, algo que em outro tempo (para ela) faria dele melhor sucedido.

— Embora tenha certeza que você seria o homem certo para isso, deixarei para continuar nossa entrevista pela manhã — disse, pausando a gravação e fechando o notebook devagar.

— Já está tarde? — A inocência forjada pelo vampiro fez a jornalista sorrir um pouco.

— Lhe desejo uma boa noite, Lestat — cumprimentou, deixando a sala sem muita cerimônia.

Intrinsicamente, a mulher imaginava se os olhos dele estariam nela, ou se o vampiro forçava-se nos labirintos de sua mente, tentando captar suas impressões mais honestas até então. A segunda opção parecia mais provável, mesmo ela não se preocupasse demasiadamente sobre o fato.  

Entrevista com o vampiro: A carta aberta de LestatWhere stories live. Discover now