2 - A forca.

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GRACE

Subimos juntos, a passos curtos, em meio a todo burburinho, trocávamos olhares apenas, não era dificil saber o que pensavamos. Tinhamos que fazer alguma coisa.

E por isso, em ritmo curto, fomos ficando para trás, nos isolando do grupo de pessoas que seguia em direção a Vila, do Vale das Cinzas.

— O que vamos fazer? — Braeden foi a primeira a questionar quando já estavamos afastados o suficiente, se voltando para nós.

Não era simples, era necessário um plano, e tinhamos as crianças conosco.

— Não podemos deixar Gia morrer. — Chiara disse, engolindo em seco. — Ramona não merece isso, não podemos simplesmente deixar isso acontecer.

— Não tem como fazer isso, sem causar uma cena no Vale das Cinzas. — Eric observou, e meus olhos foram para Damian, a meu lado. Ainda com a pequena Kiernan adormecida nos braços. Sério.

— Eu não me importo em causar uma cena. — Disse nos olhando. Seus olhos pousaram em mim. — Mas temos que pensar em alguma coisa, e rápido.

— Temos que levar as crianças até a floresta. — Eric disse.

— Você e Grace poderiam... Não precisam de amuletos para atravessar. — Chiara deu a ideia.

— Damian seria mais rápido, pode voar depois do pequeno riacho. - Braeden observou. — E voltar em seguida, pode os deixar na entrada depois do Salgueiro, e tocar a sineta, Ramona pode os pegar. — Disse então, seu plano inicial.

Nos entre-olhamos, e concordamos.

Braeden colocou um amuleto em cada criança, já nos braços de Damian. E me estendeu o terceiro, me voltei para Damian, que abaixou um pouco a cabeça para que eu pudesse colocar o amuleto nele, e o fiz. Ele me fitou em seguida, a chuva ainda caía sobre nós, olhei em seus olhos escuros, ele estava tenso. "Vai dar tudo certo" sussurrei, sua boca se curvou na menção de um sorriso em minha direção. —Muito positivo da sua parte.

— Alguém de nós tem que ser. — E ele, maneou a cabeça, se concordando ou não, eu não poderia dizer. Ajeitei o capuz de Kristiansen, puxando para frente para que o pequeno não fosse muito molhado pela chuva.

— Nos encontramos na grande Árvore de Franca, na entrada da Vila. — Disse olhando primeiramente para mim, e depois erguendo os olhos para os outros, que assentiram.

"Tome cuidado" Pediu a mim em um murmurio, e então ele seguiu, se embrenhando com as crianças pela Floresta Baixa, enquanto nós seguimos pela trilha de pedras.

— Vocês tem alguma ideia? — Perguntei, andavamos em fileira, Chiara olhou para seu relógio.

Tinhamos exatos 36 minutos.

— Eu pensei que podemos enfeitiça-los, atordoa-los. — Chiara disse, olhando a Braeden.

— Não conseguiriamos fazer isso com todo o Vale das Cinzas. — Braeden resmungou.

— Os executores, e quem quer que seja que está armando este circo. — Eric disse. — O prefeito deve estar detido.

— Victor, é Victor. Ele sempre quis ser prefeito. Como descobriram Gia é que... — Falei, o que para mim fazia sentido e o que ainda não fazia. "É um degenerado" ouvi Chiara resmungar.

— Ela se envolvia demais em tudo. Uma hora iam descobrir. — Braeden observou, me lembrando que ela se arriscou para me ajudar a fugir da casa de Victor sem me pedir nada em troca.

— Vamos nos embrenhar em meio aos outros, a ultima vez que houve enforcamento eu tinha 17 anos. Lembro que levaram até a praça da Vila, a forca é como um espetaculo macabro. — Eric lembrou. Me recordo desse enforcamento, eu deveria ter meus 14 anos, não me recordo, qual crime foi cometido.

— Podemos nos aproximos da forca, é especie de palanque, não é? — Braeden questionou. Eric e eu concordamos. — Podemos chegar perto o suficiente para atordoar todos ali. Damian voa com Gia para longe, você e Eric se misturem, e tentem descobrir onde está o prefeito... Ainda está chovendo, o que para nós é excelente. Vocês tem que escapar antes de nós acabarmos de atordoar os outros. Fujam pelo riacho, atravessem a barreira e nos esperem lá com Damian e Gia.

— E como vamos descobrir isso? Não podemos ser vistos. — Eric objetou.

— Não é como se não fossem estar falando sobre isso. Você sabe. — O lembrei do quão fofoqueiros podem ser as pessoas do Vale das Cinzas. E ele acabou concordando.

E então, tinhamos um plano.

Debaixo da Árvore Franca esperavámos por Damian, já vislumbrando dali o falatório, todo o circular de pessoas, os cochichos, dos três lados da pirâmide. Desde os Alpes, Intermediário e Vila... Para ver o enforcamento da primeira dama.

— O que acham que irão fazer com o prefeito? — Chiara questionou.

— Aprisionado para sempre. Consegue imaginar destino pior do que saber que a pessoa que você mais ama está morta e você nunca mais poderá a ver, assim como a luz do sol? — Braeden soltou em tom baixo, tacirturna.

Uma onda de agonia me percorreu, fazendo meu corpo extremecer. Eu sequer gostaria de pensar em viver tal coisa.

— Grace, é melhor irmos, assim teremos mais tempo para descobrir alguma coisa sobre o prefeito. — Eric disse a mim, e concordei. As bruxas ficariam para passar o plano a Damian.

— Tomem cuidado. Se forem vistos, recuem e fujam. — Chiara disse olhando para nós dois, enquanto saiamos.

— Vocês também. — Eric e eu dissemos juntos.

— Nos vemos na barreira. — Ouvi Braeden dizer, quando demos meia volta.

Eric e eu fomos lado a lado, demos nossos braços, para andar entre os outros, todos de capuz pela chuva que caia. Pessoas casadas tinham prioridades, casais costumavam ficar a frente.

— De novo, senhor e senhora Vallahar. — Sussurrei só para que ele ouvisse. Sempre acabavamos nessa situação.

— Damian colocaria fogo em mim se ouvisse uma coisa dessas. — Ele disse, e isso me arrancou uma risadinha.

Andamos até a praça, de cabeça baixa, passando entre as pessoas, até que avistamos a forca.

Engoli em seco.

Gia tinha a corda no pescoço, vestida apenas com uma fina camisola.

O executor, a seu lado. E então, Victor Kingsley, é claro. Em pé, e ao lado dele algumas outras autoridades e suas esposas e Ian, meu cunhado, olhando os proprios pés, com minha irmã apoiada em seu braço de cabeça erguida. Fitei sua barriga, levemente pronunciada, meu sobrinho.

E eu senti tanto nojo da cena que via. Tanto pavor. Meus olhos se encheram de lágrimas.

E os olhos de Gia... No marido.

O prefeito estava ali

O sentaram frente a ela, para que assistisse sua execução.

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OLÁ PESSOAS, FINALMENTE PUBLIQUEI ALGO, E O PROXIMO CAPITULO PROMETE VIU?
Agradeço a paciencia que tiveram comigo, tentarei voltar mais rápido.

Agradeço desde já.

beijos

- cris

O que flui sob nós | LIVRO II - PAUSADO Where stories live. Discover now