Capítulo único

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Nós já havíamos nos encontrado antes, há muito tempo, porém já acontecera, era uma noite de festas, finalmente minha irmã encontrara alguém para se casar, uma das últimas filhas do meu pai que finalmente encontrou o homem ideal para chamar de seu, foi em suas celebrações que eu a vi, sentada no canto, com aquela cara emburrada, que eu aprenderia a amar, ao me aproximar ouvi que ela realizava muitos comentários deselegantes, por assim dizer, sobre os noivos, falava que "o vestido da noiva é muito extravagante", "o noivo não tem cara de bom rapaz", "já vi ele em um canto, cheio de amores pela tal amiga da noiva", e muito mais, a sorte dela era que não havia mais ninguém por perto, caso contrário, ela estaria perdida, e se tornaria um mau exemplo para as jovens da cidade. Tentei ignorar o fato de ela ter feito caretas, e comentários nada agradáveis sobre a minha irmã, e seu noivo, e fui tentar a sorte, tentei chamá-la para dançar, mas foi só na décima terceira vez que ela aceitou, conduzi-a pelo salão, para podermos achar um lugar um pouco menos cheio, para que não gerasse alarde, dançamos então uma, duas, três, foi só na sexta música que percebemos à hora e decidimos por separarmo-nos, eu fui para o meu canto e ela para o dela, não a vi mais até que as celebrações já tivessem acabado, e não houvesse mais tempo para conversa. Após alguns dias eu a reencontrei em um parque, ela andava só por isso aproveitei a oportunidade de ir atrás dela, e tentar iniciar uma conversa, já que apesar de termos conversado muito durante as nossas danças, eu ainda não sabia nem seu nome. Ao chegar ao seu lado, a garota me olhou com a sua típica careta emburrada e me perguntou o que eu queria, eu disse-lhe que queria saber o nome da bela moça com a qual aproveitei seis ótimas danças na festa de casamento de minha irmã, ela então me olhou espantada, e começou a rir, desculpou-se e me disse que seu nome era Ariadne, ficamos andando e conversando por um tempo, até que chegamos a sua casa, nós nos despedimos e ela entrou. Fiquei tão entregue aos belos olhos marrons chocolates, ao sorriso astuto, as respostas rápidas que sempre me deixavam sem chão, que quando percebi a noite inteira já havia se passado e eu não havia dormido nada, por ficar pensando nela o tempo todo, porém não me arrependo, foi uma das minhas melhores noites, simplesmente por começar com ela. O tempo foi passando e sem nem perceber nós sempre estávamos por perto, logicamente os boatos começaram, mas quem liga? Nós aproveitávamos cada segundo de nosso tempo em atividades, caminhadas, piqueniques, e tudo o mais que se pode pensar, nós realmente tínhamos algo, ainda assim tudo mudou, quando ao não ter se casado, foi mandada para um convento, muito, muito distante. Apesar disso eu vivi a minha vida, me casei, tive meus filhos, netos, bisnetos e a minha vida chegou ao fim.

Mas não completamente, até porque não há um fim e sim um recomeço, eu estava de volta ao meu eu do passado, justo no dia em que tínhamos combinado de ir passear, eu tinha a oportunidade de recuperar tudo o que eu havia perdido, eu saí correndo para encontrá-la, me confessei a ela e tornamo-nos oficias, e apesar de certos comentários, nós éramos felizes, tivemos nosso casamento, nossos filhos, netos, bisnetos. Até que finalmente chegou o dia, eu o reconhecia, era o dia de minha partida, definitiva, mas estava tudo bem, eu me sentia confiante, havia vivido o melhor que a vida pudesse me oferecer, porém, chegara a minha hora, e eu entedia isso, ainda assim nada aconteceu ou pelo menos eu pensava que não, algumas semanas haviam se passado e eu acordei novamente no meu eu do passado, algo de errado havia acontecido, eu levantei-me, porém dessa vez não me apressei a fazer nada, não fui ao parque me confessar a ela, apenas me sentei em minha cama e comecei a refletir o porquê de eu ter voltado para aquele corpo, de novo, acabei não conseguindo chegar a nenhuma conclusão, então tentei simplesmente viver a minha vida mais uma vez.

No fim de tudo era meu destino perdê-la, ou a buscá-la, até o fim dos tempos, e apesar de procurar por uma solução para sermos enfim um casal, sem mais voltas no tempo, porém nunca dava certo, eu sempre voltava ao mesmo dia. Eu já havia vivido e revivido a minha vida tantas vezes, que eu comecei a imaginar quantos anos eu realmente teria, entretanto, eu resolvi deixá-la ir, mas não para aquele convento, que me fizeram ver e rever tantas vezes, não, de novo não, dessa vez não, eu resolvi então apresentá-la para um amigo meu, os dois se apaixonaram, e logo resolveram por casar-se e no fim de tudo eu a vi pela última vez partir, pela última vez eu acenei para ela naquele navio, e pela última vez eu observava enquanto o navio se perdia no horizonte.

Última vezWhere stories live. Discover now