Capítulo 1 - Onde tudo começou

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Divisa entre Inglaterra e Escócia - 1993

O vento soprava com força, fazendo as copas das árvores balançarem. A camada de neve que antes, havia estado ali, foi varrida pelo vento e levada para longe.

O som de um carro cortando a estrada congelada era o único barulho que se ouvia por ali. A neve que cairá em abundância naquele dia congelou o asfalto e se acumulou na beira da estrada. Por conta do clima, as autoridades locais resolveram fechar a estrada temporariamente, até o mau clima passar. Não era seguro ou prudente dirigir num clima como aquele, mas o motorista do carro parecia não ter dado ouvidos as restrições.

O carro fez uma curva fechada e seguiu em alta velocidade pela estrada. Dentro dele havia duas passageiras: uma mulher morena de fisionomia cansada, os nós dos dedos se encontravam esbranquiçados de tanto que apertavam o volante, seus olhos castanhos ora ou outra olhavam pelo retrovisor do carro e de meio a meio segundo sua boca se abria para puxar uma lufada de ar. O carro fez mais uma curva e seguiu estrada dentro. A mulher mais uma vez olhou para trás, mas dessa vez foi para o outro ser dentro do carro: o bebê estava dormindo confortavelmente na cadeirinha, muito bem agasalhado com casaquinho e toquinha, com uma mantinha rosa embrulhando seu pequeno corpinho.

Só faltava mais um pouco e a motorista chegaria ao seu destino, ela só precisava passar pela ponte que fazia divisa entre Inglaterra e Escócia e se encontraria na cidade de Kelso Abbey, no lado escocês. De lá ela pegaria um barco para Irlanda do Norte, simples e fácil, pelo menos era o que ela achava.

O carro seguia em alta velocidade, dando umas escorregadas pelo asfalto, mas seu condutor não estava muito propenso a diminuir. Foi algo repentino - quase como se estivesse em um filme de terro, quando repentinamente aparece o assassino na frente do protagonista e ninguém sabe como ele foi parar lá - dessa vez não foi um assassino, mas um cervo. Só Deus sabe como e porque daquele animal está parado na estrada àquela hora da noite. O fato do carro está em alta velocidade e o susto repentino, a mulher não conseguiu desviar a tempo do animal e o carro foi com tudo pra cima dele. O impacto fez o cervo voar sobre o capô e destruiu o para-brisa, o carro perdeu controle e saiu da estrada indo de encontro a uma das inúmeras árvores que cercavam a estrada.

*

Alguns quilômetros de distância dali, um outro carro se aventurava a dirigir na estrada congelada. A picape Dodge Dakota passava pelo asfalto sem nenhuma dificuldade, mesmo não sendo um carro para aquele tipo de via. O motorista dirigia calmamente, olhando a estrada vez ou outra enquanto escolhia uma música no rádio que lhe agradasse. No fim acabou com I Will Always Love You, da Whitney Houston.
Antes de pegar a estrada ele havia ligado para esposa para dizer que já estava a caminho, agora só faltava mais alguns quilômetros para chegar ao destino. Um bip foi ouvido pelo carro, o Pager vibrou com a chegada de uma mensagem, era Esme: Emmett e Rosalie já retornaram da lua de mel, estamos te esperando. Carlisle Cullen sorriu, a família que ele construiu era o bem mais precioso que ele já adquiriu nos seus trezentos anos vividos, saber que tinha uma esposa e filhos lhe aguardado em casa aquecia seu coração frio.

Fazia pouco mais de dois anos que a família Cullen havia se mudado para Europa, a cidade escolhida por Alice, foi Iverness. Era uma cidade mediana com pouco mais de quarenta mil habitantes, era um local calmo, chuvoso e frio. Perfeito para eles se acomodarem sem problemas. Esme havia construído uma linda residência para família na parte do campo da cidade, sem humanos por perto eles podiam viver sem problemas de serem descobertos. Um dos pontos que a família mais gostou da cidade foi o fato de nenhum humano ter questionado a aparência deles, na verdade, era difícil encontrar um vizinho murmurando com outros. Carlisle ousa dizer que foi o lugar mais calmo por onde eles passaram, até agora.

Com calma o vampiro virou o carro na curva e ousou aumentar a velocidade um pouco mais, estava prestes a virar na próxima curva quando sentiu o cheiro. Ele havia deixado uma fresta da janela aberta, o que possibilitou o vento levar o cheiro de sangue até ele. Ele podia ter ignorado, mas o cheiro veio seguido com o forte de gasolina. Com calma ele estacionou o carro no meio-fio da estrada. Ao sair do veículo ele pode ver marcas de pneus derrapados no chão, ele as seguiu na direção que elas apontavam.
O vampiro entrou entre as árvores e não precisou ir muito longe para encontrar o que procurava. Aquilo que deveria ser um carro, agora estava amassado e contorcido em sentidos estranhos contra uma árvore grossa. No capô do carro estava o corpo de um cervo morto, parte da cabeça havia entrado pelo vidro do parabrisa na direção do motorista. O cheiro do sangue do animal se misturava com o do humano dentro do carro. Tomando uma lufada de ar e segurando o fôlego, o vampiro abriu a porta do carro.
Carlisle era médico, já viu muitas coisas nos seus anos acadêmicos, mas não pode deixar de transparecer o horror diante daquela cena: havia sangue em toda direção do carro, um dos chifres do animal, havia perfurado o tórax da motorista tão fundo que a empalhou junto ao banco.

Ela estava morta, já não se escutava seus batimentos cardíacos ou qualquer outro sinal de que houvesse vida em seu corpo, mas ele podia escutar um coração batendo. O vampiro olhou em volta, não era do cervo e nem da mulher, mas havia outra pessoa ali. Ele olhou para o banco de trás e encontrou a sobrevivente. Ele foi até a criança e cuidadosamente a pegou nos braços, o bebê dormia de forma tão serena que caso ele não fosse um vampiro e pudesse escutar seus batimentos, diria que estava morta. O cheiro de gasolina ficou mais forte e uma fumaça começou a sair do capô do carro, já sabendo o que estava prestes a acontecer o vampiro usou sua velocidade sobrenatural para escapar da explosão do carro. As chamas invadiram todo o veiculo e destruíram tudo o que estava ali.

Com cuidado o vampiro examinou a criança e constatou que ela não estava com nenhum aranhão aparente, o que era algo de muita sorte devido gravidade do acidente. Ele estava numa estrada fechada e parcialmente congelado, não havia chances dele deixar a criança ali, demoraria demais até o resgate chegar e ele não poderia esperar. Na verdade, não havia chances dele se apresentar para policiais ou corpo de bombeiro. Se manter invisível perante essas pessoas era algo essencial para um vampiro, principalmente diante de um caso que certamente teria cobertura de empresa jornalística.

Ele acomodou a criança o melhor que pode no banco do passageiro e voltou a dirigir pela estrada congelada, agora indo um pouco mais de vagar. Ele pegou o telefone celular e discou o número do corpo de bombeiro para lhes informar sobre o acidente, no momento ele não informou nada sobre a criança, o porquê nem ele mesmo sabia. Por alguma razão desconhecida ao segurar o pequeno bebê ele foi tomado por uma sensação de paz, era como se uma intensa alegria houvesse se apossado dele e ele não pode deixar de sorrir para criança. O cheiro dela também era diferente, não era igual a qualquer outo recém-nascido, algo muita mais forte encobria o cheiro de seu sangue, algo que nem mesmo Carlisle sabia dizer. Ele estava intrigado com aquele pequeno ser. Olhando mais uma vez para o pequeno embrulho, constou que ela continuava a dormir - o vampiro não pode deixar de rir, nem parecia que a tinha retirado de um carro retorcido e que estava prestes a explodir. Ela dormia como se nada pudesse atrapalhar seu sono.

O homem pensou em suas opções: ele podia leva-la até o hospital e dizer que a tinha encontrado e deixa-la lá ou podia ir até o corpo de bombeiros ou... ele pensou em quantos membros da sua família seria contra em abrigar temporariamente uma nova hospede, quer dizer, ele sabia que não poderia ficar com ela ou algo do tipo, mas poderia mante-la por enquanto até encontrar um bom lugar para ela ficar ou até algum parente der falta.

Olhando mais uma vez para o embrulho ao seu lado, o vampiro guiou o carro na direção da estrada que os levaria até sua casa.

CullenOnde histórias criam vida. Descubra agora