T.

2 0 0
                                    


Penso na quantidade de crônicas e contos que eu conseguiria desenvolver, não só com o que ele foi e ele é mas o que eu queria que ele fosse.

Eu o amei desde os quinze, o ápice, efervescia dentro de mim não só a paixão latente do que parecia ideal mas todos os sentimentos que acompanham a fase mais truculenta da vida, ele também estava perdido, mas não sei se tanto quanto eu, ele se encontrou rápido demais, até porque. Aos dezesseis ainda estava perdido por ele, já estava me procurando em diversos outros, mas nada igual ele, extrema ligação era o que pairava sobre nós, pensávamos sobre o cosmos, flutuávamos simultaneamente sobre mesmas coisas, cobrimos um ao outro sob qualquer adversidade da vida, como nunca os seus olhos refletiam tudo o que eu sentia, verdes... não azuis! Dezessete, o mundo em cacos, e eu o replicava, alguém apareceu assim como ele e me uniu, na sutileza dos detalhes que tangenciavam meu cotidiano, ele ainda estava ali, mas como existia um doppelganger não me preocupei e permiti um oco, vazio, espaço entre nós. Quase aos Dezoito, assim como com ele, o fim lancinante, mas previsto, primeiro (único) colapso, debilmente entorpecido apenas vestígios vagam minha memória do que foi exposto, mas me expus. Beirando os vinte, mais unidos que nunca, ele sabe? Eu contei, mas ele sabe? conforto define, para quem ainda não sei, penso como ele me enxerga, com os seus olhos azuis que ainda me congelam quando me encaram, cinco anos não são cinco vidas, vivi infinitamente muito mais que isso, ao menos fragmentos de vidas, mas esse espaço foi o suficiente para eu criar uma vida, para nós, somente para nós, dentro de mim, cada hipótese, adaptação e enredo mais absurdo e criativo que o outro, e assim vou moldando nosso mundinho de mentirinha, ele sabe? Coincidentemente, espera... ele faz aniversário seis dias antes do meu ou dia seis? enfim, até o nascimento combinado, divinamente arquitetado, um após o outro. Vinte anos de idade, me sinto completo, não como um quebra-cabeça, mas como um mosaico, sem peças predefinidas nem encaixes premeditados, me criei do zero com resquícios de pessoas, reflito em qual parte desse vitral vitoriano que me compõe encaixei a peça dele, talvez permaneça no meu peito ou esteja hospedado no centro da minha cabeça, nenhum momento ele nem passou perto daquele lugar como os outros, ao menos disso estou certo, não quero tirá-lo de mim, mas mover de parte vital, com cuidado para que eu não morra, e também não danifique tão delicado e lindo caco.

Mesmo com tudo que passamos juntos ainda não consigo escrever o seu nome.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Feb 23, 2023 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

N.Where stories live. Discover now