1 - Começo do Fim

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Ao abrir os olhos lentamente, Wednesday tentou entender onde estava. O corpo doía demais e sentia uma pressão realmente forte na cabeça, como se ela fosse explodir a qualquer momento, ela mal conseguia se mexer e por um dado momento, Wednesday pensou realmente não querer sair dali.

Passado alguns minutos, pouco a pouco lembrou-se do que havia acontecido. Sofrera um acidente de carro, havia tentado de todas as formas manter o veículo sob controle, mas fora impossível.

O carro em que estava havia sido arremessado para fora da pista em decorrência do impacto, todos dentro do carro haviam perdido os sentidos.

Estranhamente não se ouviu o barulho de sirenes de ambulâncias, nem do carro dos bombeiros que deveria vir prestar os primeiros socorros aos ocupantes do carro que agora encontrava-se no meio do mato alto que cercava a rodovia naquele trecho de estrada.

Foi quando a morena se deu conta que ainda estava dentro do carro, olhou em volta e viu apenas o capim seco alto que tingia de amarelo a paisagem e um carro capotado mais à frente. Bem distante, uma floresta aparentemente morta, que mais parecia ter saído de um filme de terror, galhos secos e folhas que caiam com a leve brisa, tornava aquele cenário ainda mais assustador.

Então um pensamento surgiu em sua mente fazendo-a sobressaltar-se dentro do carro. O que houve com os outros ocupantes do veículo? A última coisa de que se lembrava era dos gritos. Do choro alto. De Bianca, hora pedindo para ela ir mais devagar, hora implorando que ela pisasse fundo no acelerador.

Passados alguns instantes de puro pavor, Wednesday lembrou-se do óbvio. Olhar para trás. Lentamente como se tivesse medo do ato ela olhou o banco do passageiro, ao seu lado, Yoko parecia estar recobrando a consciência. Elevou muito lentamente a mão trêmula ao espelho retrovisor no alto do para-brisa agora estilhaçado e o ajustou de modo a observar o banco traseiro, temendo infinitamente mirar uma tragédia. Teria acontecido algo pior? Divina... Bianca... Enid... Elas estariam bem?

Ela respirou fundo reunindo toda a coragem que tinha e focou os olhos no espelho, agora, ajustado de modo a oferecer uma boa visão do banco traseiro do carro e seus ocupantes. Divina estava sentada do lado esquerdo perto da janela, seu corpo estava levemente debruçado no ombro de Bianca, ela estava bem, pequenos arranhões no braço e no rosto. Porém viva.

Bianca estava no meio, seu braço em volta de Divina e Enid. Como se as protegesse do que quer que fosse atacá-las, seus olhos estavam fechados, porém ela parecia bem. Wednesday então concentrou sua atenção em Enid.

Seus olhos de um azul-esverdeado intenso fitavam o teto do carro de uma forma inquieta, expressando um terror silencioso. Do qual Wednesday teve muito medo. Seu rosto estava machucado e seu supercílio sangrava e pingava na regata branca que a loira usava.

- Estão todas bem? - A morena perguntou, porém, ela já sabia a resposta.

- Wed... O que está acontecendo? - Enid se pronunciou após alguns segundos de hesitação. Saindo do transe e olhando para todos os lados com medo de que alguma surpresa saísse de qualquer direção.

- Amor eu não sei, acho que saímos da estrada durante a fuga, bom eu não me lembro muito bem, não sei... Faz quanto tempo que estamos aqui? - Wednesday tentou mudar o foco da pergunta.

- Nós caímos do viaduto Wednesday, veja, até o airbag abriu aqui. - Yoko apontou as duas bolsas brancas vindas do painel e do volante. - Estão todas vivas?! - Perguntou ela se virando para o banco traseiro.

- Como se quem estivesse morta fosse responder... Vocês estão bem meninas? - Murmurou Bianca, ganhando um aceno positivo de Divina e Enid. - E respondendo a sua pergunta Wed, estamos aqui a mais ou menos uma hora, pensei em chamar vocês, mas eu fiquei com medo de não responderem, medo daquelas coisas lá em cima nos ouvirem, sei lá. Medo disso tudo ser real. - Desabafou Bianca fitando o mato além do vidro do carro.

- Uma hora?! Eu devo ter desmaiado mesmo! - Wednesday fica surpresa e ao olhar pra cima, notou que Yoko tinha razão, pois uns quatro metros acima delas o viaduto Guard Rail balançava bem no ponto onde elas caíram.

Ela se lembrava de estar em alta velocidade no anel viário, desviando dos carros e da turba enfurecida que as perseguiam.

- Eu quero ir pra casa! - Resmungou Divina. - Por favor Wed! Vamos sair daqui eu estou com muito medo!

- Ei Divina, calma! Nós vamos sair daqui sim, só precisamos ver como vamos fazer isso tá bom? Por agora não podemos voltar, não sem antes descobrir o que tá acontecendo ok? - Yoko tentava acalmar a amiga que chorava baixinho como se tivesse medo até de respirar.

- Quem eram aquelas pessoas Yoko?! Por que nos atacaram? - Perguntou Bianca com medo, relembrando os momentos de terror vividos horas atrás.

- Wed o que tá havendo? O que eram aquelas... coisas? Por que nos atacaram? Por que fizeram aquilo? - Enid sussurrava para a morena no banco do motorista tentando não assustar as amigas.

Sua voz rouca e baixa, ela tentava se manter calma, perante o surto das amigas. O que Wednesday não sabia, era que Enid evitava mencionar o nome que antes definia aqueles seres.

- E-Eu não sei amor, nunca vi nada parecido com isso, agora eu só sei que não podemos voltar pra casa. O colégio parecia um cenário de guerra, as ruas, nós temos que tentar-

Antes que Wednesday terminasse a frase elas começam a ouvir os gritos vindos do viaduto acima delas. Uma mistura apavorante de berros, urros e gemidos que até aquele dia elas só haviam presenciado em filmes de terror. Ao que parecia uma batalha estava sendo travada lá em cima.

- Droga! Nós temos que sair daqui! Agora!

Wednesday soltou o cinto de segurança. Sua cabeça ainda doía, e ela sentia náuseas. Porém, a paralisia havia deixado seu corpo e ela finalmente pode se mexer ao perceber que elas corriam risco novamente.

- Não! Eu não quero sair! Estamos seguras deles aqui dentro! Yoko por favor! - Divina se pronunciou em um tom de voz perigosamente alto para aquela situação.

- Eu quero que você obedeça! Se ficarmos aqui paradas morreremos! Não faça barulho! E vamos sair agora! - Ordenou Yoko olhando seriamente a amiga.

Naquele exato momento, um barulho muito alto foi ouvido acima delas, logo em seguida algo pesado caiu sobre o teto do carro o afundando cerca de dez centímetros para dentro da cabine. Todas berraram ao mesmo tempo num misto de terror e perplexidade.

Em seguida uma criatura caiu do teto, desajeitadamente sobre o capô do veículo. Algo que simplesmente não existia até aquele dado momento. Um personagem vindo diretamente dos confins do inferno, nascido para uma vida maldita, naquele dia que seria lembrado geração após geração, para todo o sempre.

O dia em que o reinado da raça humana chegara ao fim como espécie soberana sobre a face da terra, após milênios de dominação.

O ser olhou para aquelas cinco garotas apavoradas dentro do carro. Todas começaram a gritar e falar ao mesmo tempo.

Porém, aquela criatura não entendia, nela não havia sinal de humanidade, ela não sentia dó, não sentia pena nem remorso. Naquela criatura que as fitava havia apenas morte, apenas dois olhos leitosos emoldurados por um rosto feroz, olhos vazios, mortos e acima de tudo, famintos.

Instantes depois, a criatura espatifou o para-brisa e conseguiu entrar no veículo e quando isso aconteceu, os gritos atingiram um patamar ensurdecedor.

Depois, absolutamente tudo ficou silencioso. Um silêncio horripilante, quando todos ficam sem nenhuma reação. Os segundos parecem intermináveis, e aqueles segundos, cheiravam a morte.

Survive - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora