4 - De volta as labaredas.

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GRACE

Existem momentos em nossa vida, que há um espaço-tempo onde não se sabe como algo aconteceu, como você chegou a algum lugar e como todas as suas escolhas te fizeram estar ali.

E era esse sentimento que abateu meu corpo, minha mente, para ser mais exata, quando avistei aquele salgueiro. O salgueiro de passagem tortuosa que dava até a casa de Ramona, na Floresta das Labaredas. No Vale das Cinzas.

As crianças, estavam ali. O pequeno Kristiansen com sua irmã em seu colo. Nos esperando.

Ramona não havia os sentido?

Os pegamos rapidamente, para entrar em casa.

A primeira vez que estive ali, foi com medo, uma perna ferida, nos braços de Damian. Sozinha, no entanto.

Não conhecia nada deste mundo.

E hoje, eu era uma estranha parte dele.

Em fila, passamos pelo salgueiro, um a um, em silêncio com um nó na garganta pela tragédia, a incerteza pela segurança de Gia, o verdadeiro medo do que estava por vir.

Uma certa escuridão parecia ter tomado a floresta, hoje. E agora a sensação de pesar parecia mais forte.

E agora eles pensavamos como contar a Ramona, mãe de Gia, o que havia acontecido. Que sua filha acabara de viver a maior tragédia de sua vida, e decidiu ficar a mercê fora da barreira.

Até que Braeden se virou abrupta para nós.

— Não contaremos a ela. — Disse firme, com um vinco na testa.

— O que? — Saiu automaticamente dos lábios de Chiara, que tinha a pequena Kiernan em seus braços.

— Não vamos contar, ela não precisa saber. — Braeden voltou a insistir.

— Você é a última de nós que imaginei falando isso. — Damian observou, e eu concordava, pois não parecia algo que Braeden pensaria em fazer. Mentir.

— Ela vai sofrer. E não poderá fazer nada para mudar isso, pois está presa a essa casa. Pela eternidade. — Enfatizou.

— É injusto omitir algo assim. Quando ela descobrir... — Damian tentou intervir.

As bruxas e o espírito de fogo trocaram um olhar entre eles. Só eles conheciam Ramona e poderiam decidir se algo assim era prudente.

Mas particularmente, eu não era a favor da mentira.

— Não vamos mentir para ela, então. — Chiara disse como se respondesse minha mente.

— Só omitir. — Braeden disse, olhando agora para todos nós, que apenas concordarmos.

E assim adentramos na casa, porém tudo estava escuro, Braeden acendeu o interruptor, e tudo parecia igual desde a última vez que estive aqui.

— Ramona? — Chamou Chiara, entregando a pequena Kiernan nos braços de Eric, andando em direção ao corredor. — Ramona? — Chamou outra vez.

Silêncio.

E então ela caminhou até a grande porta do corredor e a abriu... E sem perceber fomos todos atrás dela.

Eu finalmente entraria ali! Sim, algo dentro de mim conhecido como curiosidade deu um pulinho satisfeito.

Era uma sala espaçosa, de pé alto, tinha muito livros em estantes escuras e uma mesa ampla, cheia de jarros, e caixas com inúmeras ervas e objetos que eu não sabia o que eram, pedras, amuletos, símbolos, mapas cheios de runas... E caldeirões, de bruxa. Finalmente algo como nos contos!

O que flui sob nós | LIVRO II - PAUSADO Where stories live. Discover now