1. Manchester, April 03

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Esse ano completarei meus 4 anos morando aqui, em Manchester. Vir para cá após a morte de meus pais mudou totalmente o rumo da minha vida. Não havia condições lógicas de continuar na Rússia, com aquele território mórbido e triste, aquele clima desanimador. Já não penso mais em suicídio, já não tomo álcool há um bom tempo, estou cada dia mais melhorando meus hábitos. A morte é algo biológico e inevitável, e eu quase me agarrei à ela também.

Andar por essas ruas chuvosas e iluminadas me faz sentir uma paz que jamais imaginei ter, é como se eu estivesse sozinha nesse mundo, não há tantas pessoas andando nesse bairro, não há nem mesmo um comércio aberto. Após o trabalho, colocar meu fone e sair por aí olhando essa solidão em forma de cidade se tornou um hábito relaxante. 

Chego na porta de casa e a destranco, avistando de cara meu gato, Dominik, que sempre fica feliz em me receber de volta. Executo todos os meus afazeres após um dia cansativo, saio do banho e visto uma roupa bem quente, hoje estava fazendo 2°C. Como eu lanchei no trabalho, não estou com tanta fome, então planejei comer pelas 2 da manhã. 

Quando deu 1:40 da manhã, minha barriga resolve dar uma tremida e eu tento arranjar algo pra comer, mas não há nada. Não há absolutamente n a d a. 

''Cacete, como eu me esqueci de passar no mercado? Não vou comer essa droga de macarrão puro'', penso logo após revirar todos os armários.

Volto para o quarto com o humor lá embaixo, e não enrolo pra dormir, senão iria sentir mais fome.

~ Despertador toca - 9:00 a.m ~

-- Ahhhhhg, saco!

Levanto da cama e começo a me arrumar pro trabalho, todo dia é o mesmo dia, a mesma rotina, mas não estou nem aí, afinal o salário daqui garante muita coisa. Chego lá e começo minha jornada. Quando o relógio bateu 18:00, saí correndo do trabalho e cheguei ao mercado grande da cidade, é o único bom para compras do mês. 

Enquanto ando pelos corredores do local, vejo que há uma grande quantidade de gente se direcionando ao açougue, como se estivesse tendo um show. Decido ir também, vai que eu apareço na TV... Chegando ali, me deparo com repórteres, umas 40 pessoas em volta, e... polícia? O que está havendo?

Melhor eu ir perguntar pra aquele homem vestido de gerente.

-- Senhor, o que tá rolando aqui? Vão fechar o açougue? Eu precisava comprar algumas carnes...

-- Então senhorita... - o gerente inspira antes de continuar, inquieto e irritado - Um dos nossos funcionários foi encontrado morto dentro da câmara fria, pelo que os policiais contaram, ele foi esfaqueado diversas vezes, e não sabemos quem fez essa atrocidade.

-- Nossa... - fico sem reação por alguns segundos - Não acredito... Vocês não conseguiram pegar o criminoso pelas câmeras?

-- Escute, não podemos dar muita informação aos clientes, então por favor, sem muitas perguntas. Mas não, não conseguimos, ele antecipou esse crime com toda certeza, as câmeras não estavam em funcionamento no dia, talvez ele que tenha feito isso.

-- Tudo bem, eu compreendo, vou acompanhar pelos jornais. Boa noite.

-- Boa noite.

Saí do mercado às pressas com medo do desconhecido, essa cidade tem uma segurança tão boa, eu nunca senti medo em andar nas ruas. Mas agora...

Cheguei em casa bem rápido com os dois sacos de compra nas mãos, depositei tudo no balcão e corri pra TV. Fiquei cerca de 30 minutos assistindo aos jornais. Anunciaram que o mesmo assassino do açougue também matou uma mulher, dentro da própria casa, há 10 dias atrás, e sabem que é o mesmo criminoso por causa de sua marca deixada em seus homicídios.

Não é possível, justo no... meu bairro? O que caralhos eu vou fazer?

Me encontro completamente desolada e confusa, não achei que ficaria sem rumo e sem chão assim, de um dia pro outro. Não tenho carro, não tenho uma super segurança em casa, eu sou uma pessoa totalmente exposta ao perigo agora. O medo me consumiu por completo essa noite, mal consegui dormir, será que a partir de agora eu nunca mais terei meus momentos na rua? Como vou poder sentir paz escutando minhas músicas nas ruas encharcadas e tristes? Como vou dormir sabendo que um louco pode invadir aqui e me matar?

Guardei todas as compras e subi para dormir, peguei Dominik como um neném e levei pra cama comigo, não iria deixar ele dormir de fora nunca mais.

O despertador tocou e eu me arrumei rapidamente, mas antes de ir ao trabalho, resolvi ligar pro chefe e dizer que talvez eu possa me atrasar, afinal, hoje se iniciava uma nova rotina. Estava decidida a ir e voltar do trabalho somente de metrô, expliquei a ele os motivos disso, e que cortar caminho a pé já não era mais uma opção. Ainda bem que ele compreendeu, ele costuma ser mais gentil comigo que com os outros, não sei por quê, mas acostumei.

A estação de metrô é apenas 2 quadras da minha casa, então não corro tantos riscos pra chegar até lá, visto que meu trabalho leva uns 30 minutos andando. 

''Sã... e salva...'' - pensei após adentrar o veículo - ''Nem acredito que agora todos os dias vou ter que vir nessa porcaria de lugar cheio''

Será mesmo que eu estou totalmente segura? 💭...


Endless Abyss / ghostface x reader (+18)Where stories live. Discover now