Capítulo Único

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Naquele fadigo dia de primavera, aguardando por algo que talvez nunca viria, Scorpius ponderava os deveres de um cavalheiro renomado. Em seus vinte sete anos de vida terrena, ninguém nunca o fizera aguardar tanto tempo por uma resposta, quanto Albus Potter.

Vestido com seu melhor terno, chapéu em formato de cartola e gravata borboleta, as moças do baile, com seus vestidos estonteantes, cabelos arrumados de uma forma que suas pobres cabeças mal aguentavam e com seus corpos presos por espartilhos que empurravam suas almas fundo em seus seres pouco pensantes, riam e piscavam enquanto aguardavam que o belo cavalheiro as chamasse para dançar. Scorpius não queria, ou talvez até quisesse. Estava na hora de arrumar uma esposa e ter um herdeiro, embora a ideia de se deitar com qualquer uma daquelas mulheres o deixasse enjoado.

Scorpius não conseguia ver beleza naquilo. Zabine tinha um motivo plausível para chamá-lo de um homem de poucos prazeres, mas estava enganado quando dizia que ele não se aliviava. Scorpius se aliviada e muito bem. Suas mãos e pensamentos eram o suficiente.

Talvez Albus não entrasse por aquelas portas, talvez tivesse viajado para a Ásia. Talvez Londres não fosse o lugar em que desejava estar naquela primavera e talvez não quisesse tanto vê-lo quanto deixara claro em sua última carta. Scorpius não desejava ser pessimista, mas já aguardara Albus Potter por tempo demais. Talvez fosse a hora certa para desistir.

Aquelas cartas, aquele cheiro, aquela esperança. Essas três coisas o ajudavam a se aliviar nas altas madrugadas, deitado em sua cama solitária numa mansão maculada pelo tempo.

É, talvez Albus Potter, segundo de três irmãos, herdeiro de nada além do ódio da alta sociedade, não aparecesse naquela noite. Nenhuma jovem dama, em santa consciência, aceitaria se casar com um homem com tamanha especulação. Afinal, Albus Potter era um homem que preferia a companhia de outros homens.

Uma dama, vestida de forma glamorosa, com um coque apertado e algumas mechas trançadas caídas pelas costas, o cumprimenta com uma referência. Scorpius, apesar de não ter a melhor memória de Londres, arregala os olhos com a sua chegada. Albus havia lhe mandado uma foto dela, mas na foto ela não passava de uma adolescente boba. Ela teria quantos anos, 17? Era mesmo muito linda. A rainha não errara em sua escolha.

--Você deve ser Scorpius Malfoy,--Ela estende a mão coberta por uma luva de tecido caríssimo. Scorpius, afinal, entendia de moda. Ele não deixa de beijá-la, esse era o dever de um cavalheiro renomado, afinal--Albus me falou muito bem de você. Imagino que esteja esperando a sua chegada.

Seu coração se enche de esperança. Então Albus não quebrara a promessa? Ele não iria para Ásia e o deixaria aí, sozinho e perdido?

--Sim, estou.

Lily, a beldade da temporada, dá de ombros. Pelo sutil movimento de suas sobrancelhas, os olhos verdes e a forma como o vestido modelava seu belo corpo, Scorpius estaria mentindo se dissesse ter se tratado de um erro da rainha tê-la qualificado como a dama mais renomada do momento. Todos os cavalheiros a queriam. Alguns olhares ciumentos já rodavam o enorme salão.

--Ele o espera atrás dos pinheiros.

Tão rápido quanto havia chegado, ela o deixa sozinho. Seus pensamentos, rápidos feito um gato atrás de um camundongo, martelam sua mente.

Albus Potter o esperava atrás dos pinheiros.

A ansiedade, inimiga do momento, consome seu cérebro. E se alguém os pegasse? Se alguém os escutasse? Eles não se viam a doze anos, época em que ambos não passavam de adolescentes bobos, consumidos pelo fulgor de seus corpos loucos por fornicação.

Alta Sociedade-ScorbusOnde as histórias ganham vida. Descobre agora