O Cupido #ChayMacau

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Parte Hum

Macau 

            O hospital frio não é o lugar para o belo menino, um rapazola já. Mesmo assim ele surge, trazendo seus passos tristes e seu corpo ereto, apesar das dores que esconde.  Pouco ou nada se sabe sobre ele, exceto que é bem nascido. As roupas caras, mesmo que discretas, e os homens que o seguem de longe, além do carro que o espera na garagem exclusiva de clientes importantes, dão conta de sua origem. Mas ele não se impõe  a ninguém, embora nunca ou quase nunca fale nada.

          Dia após dia o jovem vem e senta no hall dos consultórios médicos. Ali assiste as pessoas chegarem esperançosas e saírem perdidas. Entrarem desesperançadas e saírem felizes. Entrar e sair como entrou. Ali vê pessoas chorar e sorrir. Sonhar e perder seus sonhos. Encontrar e perder amores. Enquanto lê, pesquisa e escreve, o olhar ansioso volta e meia se arrastando até a porta de determinado consultório. De onde entram e saem pacientes e nunca o médico…

          Dia. Meses. Anos. Não é um paciente. É antes um impaciente enamorado recebendo pó, migalhas de algum sentimento que, em sua inexperiência quase infantil, ele julga ser amor. À tarde ele junta o material escolar em uma mochila exclusiva e sai, depois que recebe um afago no cabelo macio. 

           Dizem que não é o único. Outro vem e senta praticamente no mesmo lugar e se acontece de se encontrarem,  brigam. São diferentes e ambos bonitos. Ambos buscando o mesmo pó de amor. O da manhã, o mais jovem, parece não ter paciência com a dor e a curiosidade alheia. O mais velho é mais humano. Ou ambos são e ninguém sabe.

           Acontece de às vezes o mais jovem ouvir uma história de um idoso. Longa. Reflexiva. Cansativa. Nessas horas ele sorri amigável. Costuma comprar água e café para um velhinho mais constante que frequenta o outro consultório. O homem sempre conta as mesmas histórias. Toma o mesmo café. Faz um cafuné no jovem e se vai. Ele ia morrer aos vinte e oito anos, mas chegou aos oitenta firme em sua doença. Enterrou todos os seus amores.

           O doutor jovem sempre sai na hora do almoço, passa a mão no cabelo do rapaz e ouve seu sorriso, se despede e vai para a sala de descanso médico ou para o refeitório.  O menino termina seu ritual guardando o material e jogando a mochila nas costas, segue seu caminho.

         Entretanto, por longos meses ele não veio. Não ao consultório, embora não tenha saído do hospital. Os mais atentos o viram ir e vir na porta do CTI meses a fio. Até que o único parente saiu de lá abraçado a ele e a outro jovem e sumiram. 

         Então, um dia o menino voltou. Sentou-se e esperou. O velhinho costumeiro não veio e ele deu o café agora frio para um médico que saiu cansado de outro consultório. A água ele deu para um jovem de cabelos longos que entrou ali sorrindo com olhos esperançosos, com um incômodo do lado direito e  ainda assim com o coraçãozinho nutrido de amor e saiu em lágrimas. Ao ver o jovem ali sentado, olhou-o como o reconhecesse inimigo e  jogou-se nele, pedindo a morte.

          Não encontrou o ódio desejado, foi acolhido por um amor inesperado e saíram juntos dali, abraçados como se fossem enamorados.

          O assento voltou a ser solitário. Nem de manhã, nem de tarde os dois passarinhos voltaram mais por suas migalhas e mesmo o jovem de cabelo escuro e olhos agora desesperançados também não voltou como indicado. 

          Dias depois, duas aves erráticas ergueram vôo com asas de lata e desapareceram dos olhos do hospital e da vida da cotidiana Bangcoc. 

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Dez anos depois

Macau e Chay

          "Eles estão voltando! "

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