O Chiclete Azul

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Da sua casa de tijolos à mostra, via o quão alto estava em seu morro. Tinha sorte de, entre tantas casas empilhadas, ter logo o topo para si só com a vista como privilégio. Retirou seu boné, deixando seus dreads soltos por cima de seu rosto. Permitindo que o cansaço invadisse seu corpo, passou a mão pelo pescoço, apertando sua própria nuca a fim de ajeitar um pouco a dor nas costas que sentia. Aproveitou que o momento era próprio e deu mais uma tragada em seu cigarro, lentamente deixando a cannabis invadir tanto sua mente tanto quanto o ar que respirava.

-Ai, Rio... 'Tá até me dando uma gastura de ver você aí, todo injuriado. - Espírito Santo lhe fazia a boa companhia, mas como ela mesma dizia: "não precisava de cigarro de maconha para estar em contato com a vida" depois de todo um discurso sobre cristais.

-Aê, foi mal. É que eu 'tô bolado pensando numas' paradas. - Comentou sem ao menos se virar para ela, aproveitando a noite escura e sem estrelas da favela.

-Mas aí tu 'tá todo injuriado, bichin'... Parece até que sua lua 'tá em câncer.- Murmurou em dó pelo amigo. - Qualé, fala pra' mim o que é tão paia.

-Mandando a real pra' tu... Eu queria 'tá é desenrolando com alguém.

-Ia, bicho, por que tu mermo' num' vai? Tu é um cara massa, que só dá de panha' mulher!

-Eu queria agora era 'tá desenrolando com um gostoso aí, mas ele só me dá perdido.

-Iá, iá, iá... Achei toxo. - Confessou ES, sem segurar a língua. - Assim, muito doido que você se interesse em alguém, mas nesse caso eu pocava fora.

-Ah... Mas eu... - Suspirou fundo, se apoiando em sua sacada. - Mas o que será que o SP 'tá fazendo, hein?

-O quê? - Perguntou ES.

-Oi? - RJ retrucou.

-Não entendi. - Se pronunciou Santa Catarina, dando um susto nos estados do sudeste ali presentes.

-DISCONJURO! - Gritou Espírito Santo dando para trás e caindo de bunda no chão.

-Aê, novinha, há quanto tempo 'tá aí?

-Eu estava aqui o tempo todo, guri. Como não me repararam? Ah, fazer um grupo só dos "maconheiros" não dá certo.

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Logo cedo de manhã surgiu aquela maldita ligação de Brasília que fez com que Rio de Janeiro saísse de casa e fosse direto para o aeroporto. Que desgraça o pessoal planejar justo em um sábado de manhã uma viagem para a capital de São Paulo. Já era uma droga ter que ver o paulista, mas ter que viajar tão cedo só para ver ele era a pior parte, e nem sabia o que tanto lhe aguardava. Rolava boatos entre os estados do que poderia acontecer para a DF pedir, especificamente, por roupas de banho, de festa, roupões e pijamas de forma tão enfatizada.

-Certo... Amapá também está... Maranhão... Ceará e Pernambuco... É isso! É um alívio perceber que todos puderam se fazer presentes e... - A secretária virou sua cabeça lentamente em direção ao Rio, com um sorriso em seus lábios e ironicamente brava em seu tom. - Sem atrasos ou reclamações! Que perfeito! - O carioca sentiu a indireta de forma clara e objetiva, não precisava repetir. Só de a ver daquele jeito já parecia um pesadelo vindo de um filme de terror.

-Ih, qual foi...? - Murmurou sem ao menos perceber Minas Gerais ao seu lado, que o observava com uma expressão confusa. RJ observou aquela mulher que estava organizando tudo ir até a cabine da frente. Suspirou de desgosto ao lembrar de como a capital adorava bancar uma de aeromoça.

-Eh, Rio, eu tava aqui di' butuca no'cê e cê parece tão mirradin', zé. - Minas se aprontou para puxar assunto com o estado ao seu lado, afinal, era um dia de alegria com alguma surpresa que São Paulo havia preparado. - 'Cé num' acha que vai ser bão demais da conta? SP tem essas coisa pruma' festa, sô!

Só no Lush Motel (ONE SHOT)Onde histórias criam vida. Descubra agora