Prólogo.

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"Ter achado-te naquele limbo foi o reconforto de minh'alma, depois de tempos sem ver o teu belo semblante.." 

Eu perdi o meu melhor amigo há três anos, ele foi expulso da Terra do Nunca, por ter ficado mais velho, o nome dele era Kang Taehyun. Ele foi expulso aos dezesseis anos, e desde então, nunca mais o vi. 

Meu nome é Choi Beomgyu, e mesmo que o comandante da Terra do Nunca, Peter Pan, goste muito de mim, já sei que irei ser o próximo a ser expulso. Na verdade, não sei como ainda consegui passar do ano limite. Todas as crianças vão para o limbo aos dezesseis anos de vida, como aconteceu com o meu melhor amigo, porém, eu já tenho dezessete, e prossigo vivendo aqui. 

Terra do Nunca é um lugar belo, onde as cores são vivas e cintilantes, todos aqui são inocentes protegidos e crianças felizes, as árvores são azuis turquesa e o céu é cor de rosa chiclete. Porém o limbo... 

~ "     14/16

 — Taehyun! Não se vá, por favor..!

— Adeus, Gyu.. Guarde-me em suas memórias.

— Não! Taehyun.. Não me deixa sozinho aqui.."~

O limbo é cruel, um lugar escuro e denso, as crianças que são jogadas lá, nunca mais são vistas, a enorme floresta de galhos secos aterrorizantes é a única coisa que dá-se para ver quando os portões da ilha se abrem. E se caso eu for para lá, não me seria surpresa, mas de qualquer forma.. Me assombra pensar nessa possibilidade. O pior seria, talvez, lidar com o choque do vazio afora, notar que a escuridão que engole as noites e até mesmo os dias do limbo teriam de virar o meu novo lar. 

Ao deitar-me na grama, observando as tão fofas nuvens no céu, caí num sono profundo, consequente do cansaço de pensar demais no que poderia me acontecer quando expulso da Terra do Nunca. E pela primeira vez em meus dezessete anos, eu tive um pesadelo: 

Tudo o que eu podia ver era a fúria das fadas, ao descobrirem que minha inocência se foi. Peter Pan estava com um olhar frio direcionado a mim, que chorava em seus pés. Os portões abertos me revelam um grande e severo vazio, onde nada dava-se para ver, onde tudo era apenas escuridão. E o que acontecera? É simples, fui jogado lá sem nenhuma dó ou remorso, e no fim, minha vida foi sugada pelo chão frio e cheio de insetos. Tudo se acabou ali. 

Eu acordei como se estivesse afogando-me num oceano sem fundo, com a respiração descontrolada e o coração acelerado, olhei para os lados e agradeci aos céus, eu continuava na mesma grama de onde eu estava antes de adormecer. Foi o pior dos pesadelos que já tive. Me sentei e acalmei minha respiração aos poucos, meu coração parecia querer saltar para fora de minha boca e minhas mãos tremiam, e uma sensação pesada parecia estar sobre mim, uma que eu não conseguia entender qual era. 

Perto do amanhecer, me levantei para caminhar e tentar esquecer o maldito pesadelo que tive, passeando pela vila das fadas composta por várias casinhas minúsculas e amarradas os próximas as árvores, com fadas de todos os talentos morando lá, haviam fadas artesãs, fadas do inverno, fadas da luz, da água e até das flores. A floresta da Terra do Nunca era maior do que se era possível imaginar, com árvores de todas as cores e tamanhos, algumas quase chegando até às nuvens, e outras do tamanho de uma criança. Aquele lugar era um verdadeiro sonho vívido. 

Quando notei que eu já andava sem nem mesmo olhar para onde ia, parei, percebendo que eu estava na grande lagoa brilhante. A água cristalina refletia-me, junto ao calmante som das águas se movendo de um lado para o outro, acompanhando no nadar dos pequenos peixes que lá viviam. Sentei-me e respirei fundo o bom ar do local, fechando os olhos e sorrindo, pensando no quão bom foi ter sido criado pelas fadas.

— Beomgyu, meu querido! O que faz aqui sozinho? - Perguntou-me Somin, a fada da água, que segurava em suas mãos delicadas os orvalhos do sereno matinal.

— Olá, senhora Somin! Eu estava só caminhando sem olhar para onde ia e cheguei aqui, então só decidi aproveitar um pouco da paz. - Eu sorri para a fada, que batia suas asas agitadamente, sendo possível se notar o pozinho azulado que saía das asas brilhantes.

— Entendi. Tome cuidado! Eu adoraria conversar, mas preciso organizar esses orvalhos o mais rápido possível! Até logo! - Ela sorriu doce, antes de ir embora rapidamente. 

Ficando sozinho novamente, e sentindo o calor do sol recém-nascido, aproveito-me um pouco mais da serenidade da lagoa, antes de voltar para o campo das crianças. 




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